Chamem Loefgreen!

Sei lá o que esses malucos tinham na cabeça ao entoar esse nome tantas vezes. Era como um hino, iam dançando e pulando pelas ruas gritando "Loefgreen! Loefgreen! Loefgreen!". Francamente, não sei se era problema na cabeça ou bicho no pé. Ou os dois juntos.

"Al, ocê tem que entender que as palavras tem força!!", um deles me dizia. Eu não entendia bolhufas, aparentemente eles eram apenas mais um dos muitos drogados com os quais eu tinha contato, e eu na época uma pessoa muito séria sequer lhes dava tanto crédito.

E nem entendia o que eles queriam dizer. E francamente, esse tipo de gente parece que são enviados para nos tirar de algum buraco para depois simplesmente evaporarem de nossa existência.

Um deles era uma pessoa realmente muito engraçada. Eu era uma pessoa ligada na minha vida, no meu pessimismo e na minha depressão. De primeira instância qualquer um diria que éramos ridicularmente diferente, e eu pensava. Até que comecei a conversar mais com aquele que seria o palhaço da turma.

"Ora, então sua vida não deve ter problemas, não?", eu disse uma vez durante uma conversa, com um certo deboche.

"Haha! Não, não mesmo meu caro! Tenho tantos problemas como qualquer um. Trabalho num emprego que não gosto, tenho uma namorada que me trai e sempre que ligo nos jornais eu me sinto péssimo! E ainda falam por aí que eles dão notícias ruins pensando no nosso bem! Ladainha pura!!", ele disse, e eu cagando e andando pra alguém que fala com tanta "felicidade".

"O quê...? Err... Desculpe. Mas então porque você fica por aí fazendo as pessoas sorrirem? Você está bancando um idiota sem noção, e eles estão rindo de você, e não com você", disse eu, BEM ríspido.

O que veio a seguir não lembro exatamente, mas talvez seja um trabalho intenso de filosofia.

Se rimos, rimos porque algo ou alguém se dá mal. Estranhamente quando somos bebês, e vemos alguém levar um tombo ou se machucar damos risadas - foi assim que Charlie Chaplin imortalizou o humor. O riso é uma das coisas que existem de pior no ser humano, é verdade. É algo podre, covarde, ao menos se levarmos ao pé da letra.

Porém, provavelmente por vermos uma pessoa se dando mal, e darmos risada dela, de alguma forma fazemos com que esqueçamos dos nossos problemas. Uma pessoa com problema faz com que esqueçamos dos nossos próprios problemas. Complicado? Mas ninguém nunca falou que na vista existem coisas fáceis.

Até a gente fazer uma dobradura de avião e fazê-lo planar, lembre-se que pessoas durante milênios tentaram descobrir como voar!

Mas aí nessa coisa podre que reside o mais nobre desse pensamento. A capacidade de esquecermos nossos problemas enquanto rirmos, e torná-los pequenos diante dos obstáculos que a vida faz surgir. Ao fazer alguém rir somos nós que durante aquele ínfimo tempo que vai desde a pessoa entender a piada, até a gargalhada final, a pessoa esqueceu que lá fora existem chefes cobrando, sociedade mandando a pessoa ser assim, parentes chatos e pentelhos, trânsitos infernais e tudo mais.

Rir nos faz nos desligar dos nossos problemas, e francamente, tenho pena de quem não consegue rir. Talvez estejam com seus problemas tão incrustados que não conseguem deixá-los por um momento sequer dando uma boa gargalhada.

E acho que reside aí no bom talento para fazer as pessoas rirem. Isso é um talento sem dúvida, mas acredito também que só quem faz uma pessoa rir é uma pessoa que também conhece o de mais podre na vida e não necessariamente ri disso, mas transporta de um jeito que faz com que os outros consigam dar risada de alguma forma.

Querendo ou não, sempre por detrás de um palhaço, há uma lágrima.
E chamem Loefgreen!!

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