Meu medo era ser igual a "eles".


Tinha uma paixãozinha na época do colégio, uma menina loirinha, boca carnuda e branquinha. Tinha uma voz enjoada, mas... paciência. No começo achava ela o máximo, mas com o tempo aquilo começou a cair por terra. Eu era um adolescente ligado em religião, em rock 'n roll, Beatles e Rolling Stones que foi enviado ao Vietnã. Ela era apenas uma menina virgem, que dava aula de catequese.

Deuses do céu, como era fútil. Sua visão de mundo era muito pequena. Enquanto eu queria explorar os quatro cantos do mundo procurando coisas, ela sequer sabia como chegar ao centro de São Paulo. Ela tinha uma calma pra ver o mundo, uma quietude que incomodava muito o meu jeitão de ser.

Uma vez comecei a falar com ela sobre Platão. Quem no colégio, na fase onde todo mundo pega todo mundo vai falar sobre Platão? Só eu mesmo. O engraçado que ela até entendeu a lógica da coisa, expliquei alguns contos e histórias dele.

Mas morreu ali. A paixão também. Ainda bem.
Hoje ela casou e está grávida.

Fico pensando várias vezes se eu não tivesse o contato das pessoas que tive, que de alguma forma me fizeram e me ensinaram a "pensar". Não vou negar, acho que seria muito mais feliz se eu fosse como essa menin:, fútil, sem conteúdo, sem sal. Provavelmente estaria casado com alguma menina qualquer, estaria agora assistindo ao Big Brother e amanhã me preparando para meu "grande emprego" de Auxiliar Administrativo ou Motoboy.

Mas não!
Acho que meu maior medo era virar algo como ela. Talvez seja a imagem de exatamente ser uma pessoa "normal", como se isso fosse "bom".

Ela ao menos se orgulhava, e falava com gosto de ser totalmente dentro da normalidade. Bom em alguns aspectos, ruins em outros, mas pra mim é algo totalmente inviável. =)

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