Posse.

"Signore Altieri... é italiano? Então viemos do mesmo lugar. Olha só onde eu estou, nessa prisão fria, paredes pretas, e aposto que esses espelhos estão aí porque deve ter muita gente atrás...", o homem começou.

"Me diga uma coisa, porque fez isso? Vamos! Eu não tenho o dia todo. Você sabe o que lhe espera depois daqui", questionei.

"Ahhh, sim, eu sei. Esse nome é um nome falso, com certeza, mas... Eu não entendo porque mereço ser condenado a um crime que eu não fiz. Não vejo nada de errado", ele afirmou.

"Como não? Você foi acusado de diversos roubos, assaltos, a bancos, grandes lojas, e a diversas pessoas que foram suas vítimas! Eu estou aqui apenas cumprindo ordens, preciso de sua resposta a algumas perguntas", prossegui.

"Esse mundo é mesmo um lixo. Eu já disse, não acho que o que fiz é errado. A lei dos homens é baseada na comunhão. Se essa sua calça jeans é azul, todos entendem porque fizeram um acordo de falar que essa cor é azul. Ninguém questiona. A mesma coisa se diz da posse. Um cidadão compra e se apropria, e os outros entendem que ele é o dono de tal artefato, mas a minha questão é outra...", ele pausou depois de sua fala.

Esse homem, atado à cadeira levantou seu rosto em minha direção. Aquela luz em sua cara fez suas pupilas dilatarem. Ele prosseguiu:

"...A questão é que ninguém é dono de nada. O ar que respiro não tem dono, ele enche meus pulmões, está em todo lugar. A posse desvirtua o homem. Tudo nesse mundo é de todos ao mesmo tempo, por isso digo que apenas o comprar não te faz ser dono de tal objeto. Esse objeto nasceu da terra, da mesma terra que é minha, sua, de todos nós. É a ideia de posse do homem que cria a violência, e a concordância dele em cima dessa lei estúpida que faz com que convivamos com essa diferença", o homem concluiu sua teoria.

Segundos mais tarde, fixou o olhar em mim e concluiu:

"A posse não é um tipo de violência tal cruel quanto o furto ou o roubo? Vamos signore, ouvi falar bem de você, cresceu num ambiente hostil, conheceu o mais podre do ser humano, sei que existe aí dentro um cérebro pensante, e não apenas alguém para seguir ordens. Vamos! Qual a sua opinião?", ele desafiou.

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