São Paulo é nada. São Paulo é tudo.

Logo no final do filme Cruzada (Kingdom of Heaven) o protagonista pergunta ao Saladino o que é Jerusalém pra ele. Saladino, imperador otomano responde que Jerusalém é nada e ao mesmo tempo é tudo.

O filme narra a conquista árabe de Jerusalém, um conflito que continua até hoje, quase mil anos depois por quem quer ter Jerusalém.

Nesse momento estou aqui na casa de meu avô, com aquela preguiça de voltar pra São Paulo. Voltar para aquela cidade de merda, com pessoas de merda que lutam por pedaços de merda. Que é cara, desigual e imbecil.

São Paulo é tudo. O progresso no Brasil chega primeiro lá. Pessoas andam vestindo grifes, se acham o máximo em ir para seus trabalhos com uma malha ferroviária de apenas 50km, adoram a vida badalada e sempre querem ser melhores que as outras.

Mulheres de São Paulo são tristes. São muito seletivas, morrem sozinhas e preferem abrir mão de um "eu te amo" no lugar de um "eu te banco". E bancar uma mulher numa cidade onde existe imposto até para se respirar não é pra qualquer um.

Todos querem ser melhor que todo mundo. E a gente acha isso natural, afinal nossa vida como paulistanos gira em torno de São Paulo. Se nosso chefe tem pós-graduação queremos ir atrás de um mestrado para puxar seu tapete, e por aí vai. Envelhecemos rápido porque a palavra de São Paulo é "sucesso". Queremos morar na Vila Olímpia, pagando um rim de aluguel por mês e sermos conhecidos e ter um titulo de cidadão para mostrar no nosso meio.

São Paulo é nada. Apenas um pedaço de terra caro. Quando a gente se distancia de algo consegue ver melhor. Vê que existe locais onde pessoas levam 15 minutos de casa ao trabalho e ganham muito mais que a gente. E nem pagam um aluguel tão caro, que tal R$ 700 por três quartos grandes e espaçosos e perto do seu serviço? Algo impossível em uma cidade como São Paulo.

Tem um ar melhor pra respirar, compram coisas mais baratas, tem mais mulheres bonitas e vivem mais e melhor. Sem aquela feiúra dessa cidade que eu odeio. Quando paulistano sai de lá vê que todo dia a gente acorda as 5h pra ir trabalhar, pega transito, se mata no serviço, dorme pouco, vai na balada no final de semana sedento por "contato humano" e vê que no fundo a gente vive na merda.

Do que vale o status de "viver em São Paulo" se não podemos chamar isso de "viver"?

Amanhã estou de volta. Sempre tento memorizar no meu coração tudo isso que vivo aqui nesses dias no interior, nessa folguinha. Não apenas a família, mas essa sensação de ver gente vivendo tão bem e com tão pouco, enquanto nós estamos nos revirando em cima de uma merda.

Como diz a esposa do meu avô: "Não temos dinheiro, mas temos comida e saúde. O resto a gente consegue, né?".

Sábias palavras!

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