A cãibra.

Acho que de alguma forma eu estava doente de alma.

Só que o corpo respondeu.

Semana passada estava indo pro trabalho. Estava calmamente lendo o livro de sonoutas budistas, em pé, segurando nas barras do trem. Tinha sido uma semana péssima, algumas coisas tinham acontecido na minha vida e tinha virado tudo de cabeça pra baixo. Dizem que seguir uma fé quando se está bem é fácil, dureza mesmo é seguir quando se está mal.

Resolvi testar. Como budista a gente aprende que não existe nada eterno, nem a alegria, nem a tristeza. Eu sabia que ia passar. Mas curiosamente aquela angústia e cólera em mim só passava quando eu voltava aos meus estudos budistas.

Quando parava, lá voltavam de novo. A angústia, a frustração, a sensação de sentir-se um lixo, inútil. Como verdadeiros fantasmas me atormentando, indo e vindo.

Lá estava eu, segurando firme na barra do trem quando fui acometido por uma imensa cãibra

Começou no braço esquerdo e me contraiu todo o lado esquerdo do corpo. Senti até o pé, parecia que tinha algo no meu corpo de contorcendo por dentro, tipo um alien. No começo pensei que era coração. Achei que ali seria a hora que eu iria morrer, provavelmente. A dor no peito era inexplicável.

Desci, me estiquei, não melhorou. Ainda estava travado. Achei que ia morrer, que fosse algo degenerativo, ou que fosse coração, pois os músculos do peito tremiam e vibravam em sincronia.

Fui pro hospital, e por destino ou não, meu pai tinha tirado uma folga, e meu irmão estava internado com asma. Consegui até carona. Tudo na mesma sexta-feira, no momento em que estava aguardando o atendimento por conta da cãibra. Foi destino. Ainda bem.

Mas a dor de alguma maneira me livrou da mazela espiritual que estava sentindo. Era uma dor no âmago da minha alma, as coisas tinham mudado e eu não sabia mais como lidar. Mas essa cãibra sem dúvida deve ter sido algo espiritual.

Quando ela foi passando eu finalmente compreendi. Foi como um peso que me foi retirado das costas.

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