Dilemas.

"Um expresso pra mim, e um capuccino grande pro rapaz aqui", disse "n".

Uma bebida doce e enjoativa pra mim. Uma bebida amarga e forte pra ele. Até mesmo nossas preferências nos definem de alguma maneira.

"Quer dizer que ela beijou o cara com quem tava ficando na sua frente assim, na cara dura?", iniciou "n".

"É".

"Aquela carioca disse que achava ela cruel, não? Bom, crueldade é apelido pra isso. Isso eu fazia quando tinha 15 anos e queria mostrar pras minhas namoradinhas quem era o bonzão", disse "n", "Essa menina aí só te usou, como todas as meninas sempre fazem, e você continua aí, um grande dum babaca".

Fiquei quieto dessa vez. Eu tava péssimo esse dia, não estava afim de discutir.

"Escuta, Al. Porque não come a Stefany? Ela é loirinha, bonitinha, tem uns peitinhos deliciosos, e tem cheirinho de morango. Eu mesmo como ela de vez em quando. Ela diz que acha você uma gracinha, e só chegar nela e...", "n" disse, e eu o interrompi:

"Cara, chega. Eu não tô legal e você fica aí me afundando ainda mais, cala essa boca senão daqui a pouco eu quebro essa sua cara, seu idiota", eu disse.

"Ei, ei, só tô tentando te ajudar. Al, quando você vai aprender? Ser bonzinho como você NUNCA vai te trazer nada. Nenhuma mulher gosta disso. Seja um cara como eu, pise nelas que elas vêm de quatro pra você. Olha aí, ajudou, ajudou, ajudou a menina e ela ainda fez isso com você? Eu no seu lugar nem olhava mais pra ela", disse "n".

De novo esse dilema bate na minha porta. Mudar meu jeito de ser, ou continuar sendo do jeito que eu sou, e aguentar as consequências.

"Você me disse que ela disse pra você não mudar seu jeito de ser. Al, você é oficialmente o maior idiota da face da terra nesse momento. E vou ser sincero, desde que você entrou naquela... Qual o nome? Shinto in?"

"Shinnyo-en...".

"É, isso aí. Você fica falando pra mim sobre isso, mas eu não entendo. O ser humano é um bicho solitário por natureza. Não se ajuda o próximo estendendo a mão. Se ajuda muito mais pisando na pessoa, pois quando a pessoa se levanta, ela se levanta mais forte que você. Olha só até onde você chegou, Al. Isso foi tudo graças à nossa rivalidade de uma vida inteira. Você nunca vai ser melhor que eu, mas já é melhor que grande parte desses retardados que andam na rua. Ser bondoso nunca vai te trazer nada. Acorde pra vida, senão você vai ficar mais uns vinte anos sem comer ninguém".

"Mudar o meu... Jeito de ser?".

"Você é um especialista em comportamento humano. Você só de ver uma pessoa já consegue traçar todas as características dela. Até as mais intrísecas", disse "n".

"Quantas vezes eu tenho que te dizer que isso é coisa do passado?", eu afirmei.

"Você continua um Clark Kent se por dentro você é o Superman. Você tem como ser muito mais que isso, Al. Mas você se prende aos grilhões do seu comportamento quando não percebe que o mundo é feito de aparências, não do que as pessoas são realmente. Essa seu jeito certinho me faz vomitar...".

Continuamos conversando por alguns minutos. Ele deixou um dinheiro na mesa pra cobrir o café dele e foi embora.

"Bom, tenho que ir. Amanhã pego um vôo", disse "n".

"Pra onde te mandaram agora?".

"Chicago. Ah! Tenho uma boa notícia pra você. Está correndo um boato no nosso meio que a Émilie morreu".

"O quê?!", eu disse, em voz alta.

"Parece que aquele ricaço que ela casou não aguentou a múltipla falência dos seus negócios com essa crise agora. Eu já achava estranho ele continuar relativamente bem mesmo depois desse rolo todo o Lehman's. E pensar que foi por culpa dele praticamente que o mundo inteiro tá se ferrando...", concluiu "n".

"Mas como eles morreram?".

"Suicídio".

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