Victoire.



E lá estava eu, andando calmamente entre os turistas. O local era a Tower Bridge londrina. Tudo na minha mente parecia vívido como um filme. A neblina, o carro, o grito, o sangue. A morte.

Mas ainda assim eu não conseguia chorar. Fui dominado por uma grande tristeza dentro de mim mas não derrubei uma única lágrima. Acho que desde que ela morreu a tristeza dentro de mim foi congelada de alguma forma. E eu nunca mais consegui nem mesmo chorar sua morte.

"Foi bem aqui, né?", uma voz feminina atrás de mim puxou conversa.

"Victoire? O que você está fazendo aqui?", eu questionei.

"Fiquei sabendo que você estaria por aqui. Eu preciso conversar com você. Al, como está a sua 'doença'?".

Eu olhei para minhas mãos e mexi um pouco dos meus cabelos grisalhos.

"Vai bem, eu acho. Aquele seu tratamento acho que está deixando retardando ela de alguma forma. Mas meu corpo já está sentindo os efeitos. Esses cabelos brancos acho que não tem mais jeito. O problema mesmo é a velhice do músculos e das juntas. Tem hora que é difícil disfarçar".

Ela na hora me abraçou e começou a chorar no meu ombro pedindo e implorando desculpas. Eu apenas fiquei quieto.

"Um pedaço de mim morreu aqui nessa ponte, há muitos anos. Mas sei que recentemente você também teve uma grande perda, não?".

Émilie morreu em junho. Suicídio. E desde que cheguei na Inglaterra não tem ninguém que não confirme.

"Bom, acho que agora você pode pisar na França sem ter medo de alguém buscando sua cabeça, né?".

Dei uma risada e olhei pro horizonte.

"Hahaha! Vou pensar no seu caso. De qualquer maneira mesmo agora podendo, não sei se eu quero pisar na França de novo. Pelo menos não tão cedo".

Nessa hora que a Victoire me interrompeu e roubou um beijo meu, em plena Tower Bridge.

"Desculpa, Vic... Mas entre nós não dá pra rolar nada. Desculpe. Você é uma pessoa incrível".

Ela ficou cabisbaixa, mas ainda assim não saiu do meu lado.

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