Doppelgänger - #26 - O reencontro.

Mestre, por favor, sobreviva!

Al estava num imenso diálogo interno. Seu mestre estava com os batimentos muito fracos, e ele precisava achar alguma coisa que pudesse acelerar os batimentos e ressuscitar seu mestre o mais rápido possível. Não havia obviamente um desfibrilador. Buscando na prateleira de medicamentos, Al buscava qualquer um daqueles xaropes que tivesse algo para acelerar o coração, enquanto seu mestre continuava desacordado.

O desespero foi tanto que ele sequer percebeu que uma mulher havia entrado na casa.

A busca frenética resultou num medicamento herbal que seu mestre fazia, que vendia como farmacêutico natural. No rótulo incluía os efeitos colaterais: aumento da pressão e batimento cardíaco. Al pegou, abriu a boca do mestre, e despejou uma quantidade generosa daquele medicamento. O jeito era esperar.

"Al, meu querido, há quanto tempo não nos vemos", disse a voz feminina que havia adentrado na casa.

Ao ouvir o timbre da voz, via que aquela voz era inconfundível. Como um câmera lenta seu rosto foi virando, e Al foi a reconhecendo dos pés até a cabeça: as botas militares, a calça preta jeans bem justa, a camisa branca com um lenço vermelho amarrado no braço esquerdo e os cabelos.

Os cabelos tinham aquela cor de beringela inconfundíveis.

O que era aquilo? Al não sabia, e ficou atônico. Na sua frente via ninguém menos que a Val, sua falecida esposa, que havia morrido há seis anos atrás. Mas o que significava aquilo, parecia viva, parecia feita de carne e osso! O tempo parecia que tinha parado pra ela, e ela estava linda como sempre fora.

Mas como isso é possível... Val? Você está viva? Não... Não é possível! Isso só pode ser uma piada, ou uma sósia! Até o perfume é similar... Que tipo de pessoa pesquisaria tão a fundo? Droga... E o que diabos ela está fazendo no fim do mundo da Colômbia!

E ela está andando na minha direção... Merda. Ela morreu nos meus braços, não é possível que aquilo era uma piada, e se fosse, porque me enganar desse jeito? Pense Al, pense... Deve ter algo nisso tudo!

Al caiu e se encostou na parede, sentado no chão. O seu mestre, inerte, ao seu lado, ainda estava desacordado. Val ao vê-lo fez um sinal para que viesse pra fora da cabana, e Al não sabia o que fazer. O que era aquilo? Depois de algum tempo respirando, levantou-se, com o coração acelerado e transpirando de medo, como se tivesse visto um verdadeiro fantasma. Foi até a porta e seguiu na direção de onde estava Val. Levando consigo uma Beretta, a única arma que havia achado ali na modesta cabana do mestre.

"Parada aí!", gritou Al, apontando a arma, "Quem diabos é você?"

"Querido, não está me reconhecendo? Sou eu, a Val. Eu estou aqui, eu voltei!", disse Val, indo em direção de Al.

"Sem essa!", disse Al, se esquivando, "Você está morta! Isso só pode ser uma piada...! Onde você estava esse tempo todo?".

"Eu... Não posso falar. Mas eu só queria mesmo te ver. Te tocar. Sinto muita saudade de você, querido. Temos pouco tempo, e você deve agir rápido!"

"Merda! Sai daqui! Eu não vou cair nessa", disse Al, circulando em torno da Val, observando-a dos pés a cabeça. De fato, parecia muito ela. "Você está morta! Isso deve ser algum disfarce, ou algo assim".

"Querido, olhe nos meus olhos. Acha mesmo que eu não sou eu? Eu só gostaria de te abraçar...", disse Val, chegando próxima de Al, com os braços abertos, prestes para abraçá-lo, "...Confie em mim. Sou eu mesmo. E tenho um último recado pra você...".

Quando Al viu, estava envolto nos braços dela.

Aquela mesma sensação, o mesmo cheiro, o mesmo toque.

Seu coração palpitava de emoção de enfim ter encontrado ela. Esticou seus braços e a abraçou, sem largar a arma. Aquilo parecia um sonho, e seus olhos lacrimejavam como se enfim tivesse encontrado aquela pessoa que ele mais amou e mais lhe era especial.

Foi aí que Val sussurrou algo em seu ouvido.

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Apenas a cinco ou seis metros dali, escondida no matagal, uma mulher com o cabelo preto parecia estar num transe muito forte. Seus olhos estavam voltados para Al, enquanto lentamente ela tirava de um coldre um rifle de assalto, um M16, exército americano, capaz de destroçar qualquer pessoa que aparecesse.

Lentamente ela mirava em Al, tudo o que ela via era apenas ele. O dedo estava no gatilho, e uma rajada daquilo acabaria com tudo ali. Não havia testemunhas. Não havia polícia. Não haveria ninguém. E mesmo que descobrissem algo, Ar já havia garantido que conseguiria manipular de alguma forma a imprensa, deixando-os incógnitos.

Estava tão focada em Al que não percebeu na escuridão um pequeno detalhe. Que sua Beretta estava apontada diretamente pra ela. E antes que ela pudesse dar um tiro, dois tiros foram disparados na direção dela, acertando-a no braço, deixando cair o rifle, e dando um salto para trás.

"Como...?", disse a mulher na penumbra.

"O nome dela é Ravena", disse Val, "Ela é a médium dos Nobodies. Uma pessoa de grande força espiritual, mas que usa todo seu conhecimento e seus espíritos espiões para obter informações favorecidas sobre negócios e causar sonhos delirantes em grandes executivos".

"Certo. Quer dizer que sua aparição aqui é...?", disse Al, olhando para Val.

"Sim. Espíritos mandados por ela me chamaram aqui, do outro mundo, para que eu te enganasse. Ela sabia que eu era seu ponto fraco. Obrigada por confiar em mim, querido. Não acho que tenho muito tempo aqui antes de voltar, então precisamos acabar com essa mulher rapidamente e enquanto o poder dela de me fazer aparecer ainda me permita ficar aqui!", disse Val.

Al saltou para um arbusto ali perto pra se esconder.

Na cabana do mestre havia um poste com uma luz alaranjada um bocado forte, logo ele seria um alvo fácil para Ravena. Se sentia feliz em ver Val novamente, e mais feliz ainda em receber sua ajuda - mesmo que espiritualmente. Sinal de que tudo aquilo havia sido superado, e que ela dessa vez iria ajudá-lo contra essa ameaça que nem mesmo Al sabia por onde começar a combater. Uma médium?

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Momentos atrás, enquanto Ravena tinha Al sob sua mira, Val estava abraçada com Al, e sussurrou coisas que salvaram sua vida.

"Al... Confie em mim. Sou eu mesma, mas sou apenas um espírito", disse Val.

"Es-espírito?", disse Al.

"Sim. Ravena me invocou com seu poder espiritual aqui. Embora as ordens dela fosse pra que eu te atraísse pra cá, não posso deixar nunca que algo aconteça com a pessoa que eu mais amo".

"Ravena... Uma dos Nobodies me seguiu até aqui?", perguntou Al.

"Sim. Mas você precisa agir rápido enquanto ela está se concentrando pra atirar. Mire sua Beretta, e acerte a minha flor favorita próxima da árvore que tem sua flor favorita", disse Val.

Al começou a puxar da memória. De fato, esse casal gostava muito de flores. E as flores que Al gostava não tinham nada a ver com as preferidas pela Val - mesmo que ambos ganhassem na questão de simplicidade. Olhava atentamente e procurava, sabia que teria apenas um disparo. Viu o rosto de Val, olhos fechados, abraçando-o com a cabeça sobre seu ombro, parecia confiar plenamente naquele que havia sido seu esposo.

Viu então a flor e deu um disparo no espaço entre ambos. Havia acertado em cheio Ravena, que estava prestes a atirar.

Havia uma roseira branca no jardim do mestre (a flor preferida dela) junto de uma laranjeira, que estava começando a florir (a flor preferida dele).

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