Doppelgänger - #48 - O espírito estraçalhado.

Victoire estava no chão, desmaiada. Nataku, segurando a arma firme na mão se aproximou e apontou para a cabeça da francesa. Seu dedo não conseguia ficar no gatilho, apesar da ordem do seu comandante, Rockefeller.

Uma explosão ressoou no imenso bunker. Parecia vir de baixo. Tudo tremeu, e os ouvidos de todos ficaram tampados e seus corações começaram a palpitar freneticamente por causa do susto.

Nataku suou frio. Haviam mais pessoas ali.

A sirene tocou, e quatro soldados adentraram o local, rendendo Sara e Nataku. Um dos soldados pegou Victoire e a levou pra fora, inconsciente.

Embora Nataku estivesse com as mãos erguidas, Sara continuava olhando com um sorriso para todos aqueles guardas:

“Faz tempo que não faço isso. Mas vamos ver se eu me lembro”.

E a carnificina estava prestes a começar. Sara apontou as duas mãos para eles, que rapidamente deram um passo pra trás, mas se acalmaram quando viram que ela não tinha nenhuma arma escondida. Eles ainda gritavam para ela se render, e então Sara fechou os olhos e começou a se concentrar.

Seu cabelo fazia um movimento de como se estivesse na água, dançando no ar de maneira aleatória e fluida. Seu corpo se ergueu alguns centímetros do chão e então os soldados começaram a se coçar.

Parecia que algo ardia dentro deles. Eles tiravam seus uniformes, seus corpos estavam cheio de marcas vermelhas. E eles continuavam a coçar. A pele ia ficando esbranquiçada, se soltando, até que eles começaram a gritar de dor. Suas unhas começavam a quebrar, e logo estavam também rasgando a própria pele. Seus dedos estavam tingidos de vermelho com seu próprio sangue.

Uma leve fumaça branca saía dos seus corpos. E segundos depois, todos eles viraram tochas humanas agonizando no chão.

“Mas que merda é essa...!”, disse Nataku, sem acreditar no que via, “Como eles pegaram fogo?”.

Sara caiu no chão de joelhos. Parecia exausta.

“SHC...”, disse Sara, recuperando o fôlego, “Combustão humana espontânea. Elevei a temperatura do corpo deles, enganando o sistema nervoso, causando uma grande febre. O corpo é feito de gordura e tem bastante fósforo. Aí é só esperar que a chama se faz sozinha... Combustão espontânea é algo mais comum do que se imagina, não é coisa de cinema. Mas eu preciso de muita, muita concentração pra fazer isso. Preciso... Descansar um pouco. Vá em frente, garoto”, ordenou Sara.

E foi o que Nataku fez. Ao sair, foi em direção da porta, tomando cuidado com os guardas em alerta passando pelos corredores. Demorou alguns minutos até alcançar, usou o cartão de identificação e desceu as escadas rumo ao piso mais baixo do bunker de Churchill.

Chegou em um imenso corredor, de cor metalizada, parecia um local bem futurista. Não havia nenhum guarda, parecia que todos haviam subido no andar superior para averiguar a tal explosão. Havia apenas uma dupla de soldados que Nataku cuidou deles sem problemas.

O corredor parecia não ter fim.

“Ei, garoto. Espera aí”, disse uma voz familiar.

“Al!”, gritou Nataku, assustado.

“Nataku agora, né? Onde você estava?”, perguntou Al.

“Merda... Onde termina essa droga desse corredor?”, perguntou Nataku.

“Como assim? A porta está exatamente aqui. Mas o que você quer fazer aqui?”, disse Al, apontando. De fato, tinha uma porta, e estava bem escondida.

“Isso tudo é muito fantasioso! Primeiro me mandam salvar uma holandesa numa prisão de segurança máxima, depois um homem com uma armadura me golpeia, aí achamos um sueco e ele é morto na minha frente, depois uma psíquica queima três pessoas na minha frente e eu não consigo fazer nada! Sem contar que eu sei a verdade agora... Meu nome é Giancarlo Lucca, e eu fui o braço direito do seu irmão! O que você vai falar agora, Al? Vai dizer que isso tudo é uma mentira?”, disse Nataku, furioso.

Al ficou em silêncio por um momento. Depois deu alguns passos e se aproximou de Nataku.

“Então você descobriu. Sim, Nataku. Não tenho como te esconder isso. Por mais que isso pareça mentira, é a mais pura verdade”, disse Al.

“Porque, Al, porquê? Ao tirar minhas memórias você me tornou um nada, eu não sou ninguém. Sou apenas uma fantoche do Estado. Se eu morrer, tenho uma morro como um animal!”, desabafou Nataku.

“Nataku... Eu aceito pagar pela consequência do que eu te fiz. Na época eu era apenas uma ferramenta do governo, assim como você. Achei que isso era o correto a se fazer, mas pensando hoje, eu jamais faria isso agora. Mas eu já o fiz. Se não for muito tarde agora, será que você poderia me dar a chance para que eu possa ajuda-lo?”, disse Al.

Nataku parecia estar com a cabeça doendo. Colocou as duas mãos na cabeça, apertando-a. Começou a soltar uns gritos de dor e caiu no chão, de joelhos.

Não, não, não! Alguém por favor me acorde!!!

Isso só pode ser um pesadelo!! Essas coisas não existem. Não existem psíquicos, não fui Giancarlo Lucca, não conheci o Arch, eu sou apenas uma pessoa pacata que foi escolhida pra fazer uma coisa que eu jamais conseguiria fazer!

E agora tô trancado nesse imenso pesadelo, vivendo com uma arma apontada pra cabeça, e sempre escapando por um triz de causar uma catástrofe mundial sem precedentes!! Eu não consigo aguentar tanta pressão em cima de mim!

Eu só queria sair daqui. Eu tô cansado disso, ninguém vem me dizer que isso tudo é um sonho ou coisa da minha cabeça. Al... Por que você não me disse que isso tudo era mentira? Teria sido muito, mas muito mais fácil!

Isso tudo é a realidade. Mas eu não estou pronto pra ela!!


“Ahhhhhhhhhh!!”, gritou Nataku. Ele parecia estar com o espírito estraçalhado.

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