Uma verdade inconveniente.

"E aí cara", disse 'n', "Voltou a fumar?"

"Não me lembro de ter parado...", eu respondi.

"Porque tá com essa cara? Carinha de cachorro abandonado... Por acaso brigou com aquela japonesinha cabeçuda de novo?", disse 'n'.

"Cuida da sua vida", eu disse.

"Ha! Fala sério. Realmente aquele teste que você fez era certo mesmo. 'Sua mente tem medo de perder alguém', isso é a coisa que mais te apavora na vida, e agora que você enfim a perdeu, e tá aí", disse 'n'.

"Pra variar, você não ajuda em nada", eu disse.

"Ei, ei, ei, pera lá. No fundo você é muito parecido com essa menina sem sal que te deu esse fora. Ela também pelo que você me contou é super idealizadora de amor perfeito e tudo mais. E, ironicamente, quando ela enfim conseguiu um amor de verdade na frente dela, fugiu dando umas desculpas esfarrapadas. E você não é muito diferente. Você sabe como o mundo funciona, que não dá pra ficar nutrindo esse tipo de coisa, e que você deve tratar as mulheres como elas realmente valem: como lixo", disse 'n'.

"É fácil pra falar, difícil de fazer. Eu jamais conseguiria isso", eu disse.

"Por isso tu não pega ninguém. Não tenho dúvidas que se você tivesse feito o que eu havia dito, e tratado ela do jeito que eu havia mandado, ela teria caído na sua rede. Ao contrário disso, você pegou e se declarou pra ela, achou que a sinceridade do seu sentimento ia dar certo, e tá aí. Tomou no cu. Não satisfeito, voltou a falar e se declarou uma segunda vez, e ficou aí, chorando no dia seguinte inteiro", disse 'n'.

"Isso tudo foi a minha escolha", eu disse.

"Por isso mesmo! Escolha equivocada. O mundo não funciona como nos filmes. Se fosse assim, nesse momento você estaria curtindo com ela no meio do Caribe, só os dois, se beijando e se amando. Mulheres não estão prontas pra receber amor, elas querem amar quem elas querem amar, elas jamais dão margem para serem conquistadas, exceto se o boi for o que ela está afim. Você sabia desde 2010 qual seria o destino disso. Até aquela amiga dentuça e cheia de sardas dela te disse pra não ter esperanças, e você, acreditando nesse tal de amor achou que poderia ter um final feliz. Ponha-se no seu lugar, seu merda! Não me faça rir, Al! Não acredito que ainda existam homens babacas como você. O que você teria de oferecer pra ela, a não ser esse sentimento?", disse 'n'.

"Nada", eu disse.

"Essa menina é simples. Ela parece que viaja e sempre volta apaixonada por algum cara que contenha um pênis por aí. Parece que é o único requisito, mesmo até os mais canalhas que todo mundo diz que vale nada ela tá lá, se apaixonando. Como você me mostrou, toda viagem ela voltava apaixonada, pois era a fuga dela. Era nessas viagens que ela fugia de ser quem ela era, e aí ela acabava amando, que era uma coisa que ela nunca se deu a chance de fazer. Eu diria que ela realmente é uma desmiolada, porque isso é atitude de menininha de onze anos", disse 'n'.

"Olha, chega disso...", eu disse.

"Não, eu não terminei. Você sabe muito bem que a regra desse mundo é machismo. Você até disse que essa menininha aí não é machista, o que eu duvido muito, pois é mais que claro que um dos motivos de nada ter rolado é que você, assim como ela, não ter onde cair morto. Por mais que mulheres tenham suas carreiras hoje, ainda são machistas o suficiente pra buscar apenas um homem com dinheiro. No fundo adoram se dizer independentes, mas não passam de umas maria-chuteiras de qualquer carinha que ganha um pouquinho a mais elas vão lá, e sentam na pica dele. E isso porque no fundo vocês dois tem gostos e comportamentos parecidíssimos - inclusive os comportamentos ruins. Um parece realmente a alma gêmea do outro, até mesmo nos aspectos ruins, você é idêntico a ela", disse 'n'.

"Você tá querendo dizer que somos mais iguais do que tudo, né?", eu disse.

"Exato! Larga disso, Al. Já passaram quase dois meses e você ainda nem deu sinais que esqueceu essa menina. Já estamos entrando em maio! Escuta... Acho que isso é falta de foda. Quando você comer uma bucetinha e chupar uns peitinhos, vai ficar se sentindo muito melhor", disse 'n'.

"Não. Hoje não estou muito afim...", eu disse.

"Hahaha! Negando uma foda? Cara, tô falando, conheço umas duas que é só jogar um lero que você come. Mas não esquece a camisola no peru, porque elas são meio rodadas. Você deve é estar virando um viadinho!", disse 'n'.

"Cala a boca, seu otário", eu disse.

"Só limpa os ouvidos pra me ouvir, tá: esquece essa menina de vez. Ela é uma desmiolada, não reconheceria um cara afim dela nem se ele estivesse a dois centímetros do nariz dela. Enrijeça esse seu coração outra vez, volte a ser como antes, quando você não acreditava em amor, pois você era mais feliz e sabia tratar as mulheres como mereciam. Arranja logo uma menina nova, e até lá, veja se não cai na armadilha do vamos ser amigos de novo com essa japonesinha aí. Você já tentou, e você sabe muito bem no que deu. E larga de frescura, vira homem, e vai logo comer alguém, que tá enchendo meu o saco você assim. Essa aí tá cagando e andando pra você", disse 'n'.

"Sabe, acho que se eu tivesse uma arma aqui, usaria com um tiro bem dado nessa sua boca cheia de bosta", eu disse.

"É, esse é o Al que conheço! Olha, eu conheço um bar ali na Vila Madá com umas loirinhas bem gatinhas. Praticamente é só você apontar e dizer: 'chupa!' que elas abaixam e fazem o serviço. Tratar as mulheres do jeito que você trata vai te levar a nada não. Mulher vale nada, você tem é que se espelhar em mim. Já me viu sozinho alguma vez? É assim que a banda toca. Nunca uma mulher que se preze vai te dar bola pra você com essas declaraçõezinhas e esse papinho de 'o sentimento sincero vai fazer ela se apaixonar por mim'. O mundo é bem mais legal, e tem muita bundinha redondinha aí esperando pra gente entrar dentro", disse 'n'.

'n' colocou um pacote de camisinhas no meu bolso. Entramos no carro e fomos beber alguma coisa.

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