Mikaela - O desencontro


Esses dias passei na Livraria Cultura e vi um livro que há um tempo eu queria muito ler. É o livro da Marcella Brafman, uma das pessoas cujo blog eu acompanho e fiquei bem interessado quando fiquei sabendo do livro que havia lançado. Chama-se Mikaela – O desencontro.

Bom, eu não conheço a Marcella, e embora eu tenha uma imensa admiração pelas estórias e pelo seu jeito de escrever (que ficou inegavelmente impresso no livro), gostei muito do que li. Pode parecer meio “girly” pela capa, mas não achei muito não. Eu me interesso muito pelo jeito feminino de pensar, mas como eu sou homem, fica difícil escrever sobre personagens femininas nas minhas estórias sem cair no estereótipo masculino da mulher sem profundidade que autores homens e héteros não conseguem sair.

(ah, e eu adoro Sex and the city. Acho um seriado genial, e todo homem deveria assistir pra entender melhor sua namorada. E meu sonho é ter uma namorada igual à Miranda!)

O livro tem uma coisa genial, que são nomes de músicas como título de capítulo. Eu acho isso uma sacada muito boa, que sem dúvida funciona com 95% das pessoas hoje em dia, menos comigo, que não sou uma pessoa muito musical. Eu até ouço, não tenho preconceitos nem nada contra nenhum gênero musical, mas eu só devia conhecer por nome umas duas ou três faixas das dezenas de capítulos. Ainda assim achei bacana porque mesmo as poucas músicas que eu conhecia achei que fizeram super sentido ao que se passava no capítulo. Acho que se eu fosse uma pessoa mais musical provavelmente o resto me faria sentido também.

Temos aqui a história de Mikaela. Uma menina mineira (como a autora), que mora em BH (como a autora), jornalista (como a autora) e que se expressa muitíssimo bem com palavras (como a autora). E, pelo que já li no blog da Marcella, a Mikaela usa até expressões e constatações sobre o ser humano que já vi nos textos do blog dela. Eu achei isso bem interessante, por mais que possa parecer repetitivo. Muitas vezes é difícil escrever um texto que pareça bem verossímil sem que o protagonista se afaste muito do autor. É como no caso do Bukowski e Henry Chinaski. E eu me encaixo nisso também (embora o Al tenha muita coisa similar comigo, mais da metade do personagem é uma idealização do que eu gostaria de ser).

Resumindo: não achei ruim a personagem ser tão similar com a autora (ou pelo menos pelo que eu acho que ela seja, tomando em consideração o que ela escreve no blog pessoal dela). Muito pelo contrário. Trouxe uma carga de realidade para a personagem que brinca com a proximidade da ficção com a realidade. É muito bom.

Agora vamos pra estória. O subtítulo “o desencontro”, escolhido muito bem, sintetiza bem o que o livro passa. Mikaela é uma mineirinha que troca o pão-de-queijo pelo café amargo de São Paulo quando se muda pra cá para participar de uma entrevista em uma famosa fictícia revista teen daqui. Isso seria um passo enorme, e renderia uma estória sensacional por si só se não tivesse um personagem caótico (e bem chato) no meio: seu namoradinho, o Felipe.

A Mikaela é bem legal. Difícil traçar alguma coisa ruim nela, que não seja muito anormal, ou muito avoada. Parece ser uma garota bem pé-no-chão, que deseja estabilidade no relacionamento e felicidade. Eu diria ainda mais: Mikaela parece normal e boa demais pra ser verdade, por isso, a personagem Bela (uma garota que divide o apartamento com ela enquanto ela se aloca em SP) parece BEM mais interessante. É como se pudesse dar um Oscar de melhor coadjuvante, a Bela sem dúvida mereceria, com todo o mistério sobre relacionamentos dela, a frieza, seu passado conturbado, o escapismo, o humor instável e tudo isso escondido com um jeito amigável e sorridente – um sorriso que esconde uma imensa lágrima por detrás, até o momento perto no final do livro em que ela conta tudo sobre ela, e as suspeitas que você tinha sobre ela enfim se mostram verdadeiras! Ah-há!

A Bela parece a típica coadjuvante que até mesmo escrever sobre ela é mais legal que a protagonista. Sei bem como é.

O livro foca bastante na amizade que Mikaela tem com Rick, o amigo gay que toda mulher tem. Ele também é outro que domina o livro pelo menos até seu segundo terço, depois simplesmente some pra dar lugar a uma que tinha sido apresentada como grande amiga que tinha feito em SP, mas que não tem muito apelo, nem carisma, e parece bem entediante: a Paula.

Enquanto estava lendo e a Paula ressurgiu das cinzas perto do final do livro eu até pensei: “Que Paula é essa?”. Aí lembrei do começo do livro onde ela foi apresentada.

Depois dos personagens legais (Mika, Bela, Rick) e a personagem sem sal (Paula), agora vamos ao personagem mais chato. Se Mikaela fosse um romance medieval, sem dúvida seu namoradinho Felipe seria o antagonista. E terminaria numa morte, ou algo do gênero.

Felipe é muito chato. Não sabe o que quer, bagunçado, todas as vezes que eu lia algo sobre ele imaginava um moleque de treze anos com cabelo enrolado vestindo camiseta de banda de roque (sim, fanboy idiota pra mim não curte “rock” e sim “roque”). Felipe é o clássico exemplo da vida real, o cara que não presta, completamente irresponsável, que age conforme a ereção do seu pênis, incapaz de sentir amor que não seja no momento do orgasmo no meio de uma cópula. Esse é bem um resumo de quem ele é.

(sim, o livro foi muito bem escrito, talvez seja por isso que eu criei tanto ódio e carisma pelos personagens, haha! Parabéns, Marcella!)

Só tem um fator caótico que muda tudo: Felipe seria um moleque masturbador viciado no Xvideos se não existisse Mikaela, completamente apaixonada por ele (VAI ENTENDER ESSA VIDA!).

Existe apenas um fator que não me fez fechar o livro quando vi esse rolo do “bom e velho entra-e-sai” (e não tô falando do Laranja Mecânica): o detalhe do que se passa na cabeça da dona Mikaela.

Se existe uma coisa que detesto são homens canalhas. Porque eu como homem sei muito bem até homens podem ir, mentir e enganar pra conseguir uma xoxota pra penetrarem seus pintos na noite. Mas uma coisa que detesto mais ainda são mulheres que correm atrás desses mesmos canalhas. O romance da Marcella é basicamente isso. Não é o romance onde rola toda aquela odisseia pro cara conquistar o coração da menina (algo que não acontece mais hoje em dia, pois sempre se termina num fora hoje em dia), é um romance que já mostra uma relação que já aconteceu tudo o que devia acontecer, e sim, aquelas respirações pra ressuscitar o que já se afogou e está morrendo faz tempo.

Mas como eu disse, o legal é ver o que se passa na cabeça da Mikaela com uma riqueza de detalhes empolgante. E, por mais que o que Mikaela faça fuja muito da realidade (no mundo real, não duvido que Mikaela teria respondido toda amorosa a primeira mensagem do Felipe depois da traição dele, e não ter dado aquele gelo nele. Pessoas não fazem isso na vida real), a história acaba se tornando aquele romance meio idealizado empolgante pra, no final, os dois ficarem juntos.  O que é claro, eu detestei o final.

Acho que teria sido muito mais legal ela ter ficado sozinha, ou melhor ainda, ter conhecido um Fernando, um Roberto, um Carlos, Zé Bonitinho ou até o Kid Bengala, hahaha. Mostrando que a vida é feita de foras, e que ficar insistindo numa coisa que já deu o que tinha que dar muitas vezes só vai trazer sofrimento e tristeza. Felipe nunca vai mudar. Uma vez nascido canalha, vai ser sempre canalha, só vai mudar o endereço. Vai continuar dando uma de indeciso sempre pra ter uma vagina úmida esperando ele na noite. Mas homem mentiroso e canalha assim de indeciso não tem nada. Sabe exatamente o que faz e tem o controle da situação na palma da mão. Faz parte do instinto de filhas da puta como ele.

Ou talvez ter fechado a estória dela com um felizes para sempre e o próximo volume ser “Bela – A garota sem limites”, com muita droga, sexo e pegação. Espero que na sequência a Bela seja uma personagem bem explorada, acho bem bacana!

Mas em suma, livro muito bom. Vai pra minha estante dos livros bons! Parabéns Marcella, pelo excelente trabalho! :)

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