Livros 2016 [#7] O diário de Anne Frank

Engraçado que fui a Amsterdam e nem visitei. Tinha ouvido falar, mas ainda não tinha lido o livro. Agora mal posso esperar pra visitar meu lugar favorito no mundo de novo e ir na "Casa da Anne Frank" em Amsterdam.

Demorei muito pra ler, mas é incrível como me sentia a cada página, a cada dia, a cada anotação dela. Anne Frank, pra quem não conhece, foi uma criança judia, vítima do Holocausto, que durante dois anos viveu num sótão (o anexo secreto) na sede da antiga empresa do seu pai em Amsterdam com sua família, uma outra família (os van Pels) e um dentista (Fritz Pfeffer) com pouca comida, quase nenhuma diversão e todo o cuidado do mundo para não serem descobertos. Até o dia 4 de agosto de 1944 quando alguém anonimamente os denunciou e posteriormente enviados a campos de concentração. Anne e sua irmã Margot morreram de tifo em Bergen-Belsen. O único sobrevivente foi seu pai, Otto Frank, que publicou o diário da sua filha postumamente.

O livro é sensacional. Talvez eu poderia ficar aqui contando das dificuldades com a mãe, a luta pela sobrevivência, a sanidade perdida por ficar tanto tempo trancada com medo, mas o que senti nos relatos da Anne Frank é que provavelmente seríamos muito amigos.

Nós compartilhamos uma visão bem parecida do mundo. E ter trago esse livro pra ler enquanto estava no interior me fez refletir bastante. Tanto eu quanto Anne temos um diário. Tanto eu como ela também somos pessoas bem curiosas e estudiosas. Tanto eu quanto Anne sofremos com alguém próximo da família (Anne a mãe, eu o meu pai). E todos os textos dela me faziam lembrar do eu de anos atrás, que volta e meia me recordo quando vejo textos antigos do meu blog.

Adolescência é uma fase difícil. Talvez fosse adulta também, mas pelo menos não tem aquela explosão hormonal que ferra tudo. Anne, no trecho curto da sua vida que registrou no diário mostrou uma coisa que eu também tenho muito: um imenso dedo de si mesma apontando pra si mesma. Uma auto-condenação que quando eu li fiquei abismado, pois parecia descrever a mim mesmo. Muitas coisas aprendi a engolir seco pois simplesmente não tinha pessoas pra me ouvir, ou se fossem me ouvir iriam me julgar, me repreender, mas jamais entender. Esse é um dos maiores dilemas da Anne. E quando li, parecia que se encaixava perfeitamente em mim.

Anne tinha uma grande dificuldade com sua mãe, e lembrei da imensa dificuldade de relação que tenho com meu pai também. E exatamente pelo mesmo motivo, por ser distante, frio e calculista demais. Me lembrava da minha adolescência, e ela tinha pensamentos tão profundos, e muitas pessoas ao meu redor nessa minha idade não tinham tanta profundidade assim, por isso acredito que com certeza teria sido muito amigo de Anne Frank se tivéssemos nos cruzado.

Nas últimas entradas do diário dela ela mostra uma maneira de olhar a si mesma invejável. Tem uma parte linda que ela fala que sempre viveu num imenso dilema de dois "eu" dela. Um "eu" mais puro, que estava bem, até fazia piadas e sorria sinceramente. E um outro "eu" dela que era mais fechado, triste e melancólico, e ela vivia nesse imenso dilema, mas também tentava sempre enxergar seus erros e melhorar como pessoa.

Pois é, Anne. Somos dois.

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