Amber #6 - Aquele que é fiel ao Führer.

20 de abril de 1937
07h21

Sundermann era um desses oficiais jovens nazistas que eram fiéis até o último fio de cabelo ao Führer. Realmente acreditava que Adolf Hitler era a salvação, que uma pessoa como ele, que havia tirado a Alemanha da lama que ficou no pós-Primeira Guerra, era alguém que valeria a pena ser seguido até às últimas consequências. Sundermann era uma dessas pessoas que iriam até o fim da sua vida ser fiel ao líder do nazismo.

Briegel, Schultz, e Alice estavam juntos tomando café da manhã no hotel com Sundermann e Goldberg. Estavam conversando e sendo informados sobre o que os soldados alemães haviam levantado sobre Abner Sarkin e seus capangas.

“Você é bem jovem, e serve a Alemanha com tanto… Vamos dizer, ‘afinco’, não?”, disse Briegel, tentando colocar uma palavra correta.

“Sim, tenho dezoito anos, coronel. Ano que vem estarei na SS, e poderei lutar ainda mais pra proteger meu país!”, disse Sundermann, de maneira altiva, “Mas atualmente sou da Juventude de Hitler, a Hitlerjugend. Foi lá que conheci Goldberg, e estamos juntos”, disse Sundermann, que depois se apressou a consertar, “Juntos trabalhando, no caso”.

Homossexualidade era algo completamente repudiável pelos nazistas. Mesmo pra ele, sendo um oficial, nunca deveria sequer cogitar algum comportamento homossexual. Era um dos pilares da doutrina nazista, além de um profundo racismo, violência e hierarquia.

“Seu uniforme, parece muito o uniforme da SA”, comentou Schultz.

“Sim, nosso uniforme é bem parecido. O senhor conhece bem os detalhes, senhor Schultz. O senhor fez parte da SA?”, perguntou Sundermann.

“É. Mas me transferi antes pra SD”, disse Schultz, sério.

“Foi antes do que aconteceu naquele dia 30 de junho?”, perguntou Sundermann, provocando.

“Sim. Tava na cara que o idiota do Hitler ia matar a galera toda ali”, disse Schultz. Na hora que ele xingou Hitler, Sundermann arregalou os olhos, como se Schultz estivesse falando uma heresia contra um deus, “Dei o fora antes, mas muita gente que conhecia não teve a mesma sorte. Eu era subordinado direto do Ernst Röhm”.

Nessa hora Sundermann deu um riso cínino.

“Bem feito. Homossexuais devem ser punidos. Ouvi falar que o Hitler mandou ele se matar, mas ele não conseguiu, aí tiveram que tirar a vida dele mesmo, matando-o”, disse Sundermann, olhando pra Goldberg, que balançou positivamente a cabeça.

“Moleque, você é uma anta mesmo. Você é que não sabe de nada mesmo, e fica lendo esses materiais de propaganda. Lixo pro seu cérebro de cocô, isso sim”, disse Schultz, perdendo a paciência. Briegel na hora olhou pra Schultz, fazendo sinal com a mão para que ele baixasse o tom. Schultz viu e tentou ficar mais calmo antes de prosseguir: “Bom, como eu disse eu conhecia muito tem o Röhm. Todos ali sabiam que ele era homossexual. Até o Hitler. Hitler na verdade fez aquele massacre na SA pra que ele tivesse o poder sobre eles. Eles tinham mais armamento e mais soldados que o próprio exército, mas o Röhm não queria largar o osso tão fácil. Infelizmente é como funciona com esse governo de merda. Não trabalha pra eles, acaba sendo morto”.

Mais uma vez Sundermann parecia chocado. Goldberg não esboçava muita coisa, talvez fosse tímido, uma pessoa mais fechada. Mas obviamente ouvia tudo. O silêncio durou por alguns momentos ainda, e as pessoas aproveitaram pra comer algo. Quem quebrou o silêncio foi Alice Briegel:

“E você? Você não é muito de falar, não é mesmo?”, disse Alice, pra Goldberg, sendo gentil e tentando coloca-lo na conversa.

Goldberg olhou pra ela, mas fingiu ignorar. O clima ficou mais uma vez tenso na mesa. Foi Sundermann que prosseguiu:

“Você, filha de macaco, é raça inferior. Você está sujando nossa Alemanha com essa sua pele preta. Você só está aqui comendo conosco por causa do coronel Briegel. Caso contrário, você estaria comendo com os cachorros, sua vagabunda!”.

Nessa hora Briegel bateu forte na mesa. O som assustou a todos.

“Puta merda, é bom que você tenha comprado seu jazigo, moleque. Você tá mortinho!”, disse Schultz pra Sundermann.

Briegel se ergueu da mesa e encarou Sundermann furioso, e disse, apontando seu dedo pra ele:

“Se você falar mais alguma coisa sobre a minha filha, eu juro pra você que eu vou te matar, e vou fazer de tal maneira que sua família não vai nem saber onde tá o seu corpo, e mesmo se encontrarem, eu farei questão de cortar você em pedacinhos e ninguém vai saber diferenciar você de um pedaço de porco, que é o que você é, seu filho duma puta”.

Briegel se sentou, e Alice pegou na mão do seu pai, tentando acalma-lo, sem dizer nada.

“Bom, mudando de assunto, o que vocês descobriram sobre Sarkin?”, perguntou Schultz, já mais animado.

“Sim. Abner. O Sarkin, sim”, Sundermann ainda estava pálido e tremendo de medo, “Sabemos onde ele está, não foi tão difícil. Rastreamos alguns carregamentos de armas e vimos que grande parte do armamento era dada como entregue, mas na verdade era desviada e posteriormente dado como perdido. Descobrimos ontem o braço-direito dele. É um francês, ele atende pelo apelido ‘Hollandaise’. Não descobrimos o nome real dele, mas é certeza que ele é subordinado direto ao Sarkin”, disse Sundermann.

“Muito bem! Hollandaise, que nominho mais tosco, hein!”, disse Schultz, passando jogando creme holandês no ovo frito no seu prato, “Vamos lá fazer uma visitinha a ele!”.

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11h20

Hollandaise estava andando calmamente na rua, buscando algum lugar pra comer nas ruas de Munique. Havia acabado de deixar a pé uma loja de sapatos que ele usava de fachada. A porta obviamente estava trancada, e não havia ninguém lá. Apenas uma placa dizendo que voltaria logo. Schultz colocou sua luva e quebrou o vidro com um soco, destrancando a porta por dentro. Todos olharam pra ele surpresos.

“Que foi? Tô agilizando o serviço, ué!”, disse Schultz.

Alice Briegel mostrou uma chave mestra que ela havia trago pra caso precisasse abrir a porta. Depois de dar um sorriso amarelo, Briegel, Sundermann, Alice e Schultz entraram, e Goldberg ficou nas redondezas, do lado de fora, observando tudo.

“Eles nunca tinham o meu número de sapato aqui. Talvez as armas estejam todas ali no fundo. Por aqui, coronel”, disse Sundermann indo na frente.

Quando eles chegaram, tomaram um susto. Não parecia um lugar tão grande de fora, mas havia muito armamento lá. E de todo o tipo. Pistolas, fuzis, bombas, tudo. Dava pra declarar uma guerra com aquilo tudo. E como o terreno da suposta loja tinha um depósito imenso e comprido no fundo, parecia um corredor sem fim, bem alto, mas extremamente organizado.

“Cacete, a gente pode levar um pouco e conseguir uns trocados? Duvido que ele vai perceber que tem algo faltando”, brincou Schultz.

“É incrível mesmo. Bom, isso prova que Abner Sarkin está envolvido até o pescoço nisso, podemos ir bater um papo com ele depois também. Isso é tão organizado que tem até uma lista aqui dos compradores”, disse Briegel, pegando uns papeis que estavam jogados nas estantes, “Parece que tem um carregamento indo pra Espanha em breve. Até em qual trem vão enfiar isso tá escrito aqui. É toda evidência que precisávamos. Foi bem mais fácil do que imaginava”.

“Coronel Briegel?”, disse uma voz nos fundos. Era Goldberg.

Nessa hora Alice, que estava mais próxima da porta soltou um grito, assustada. Todos viraram seu rosto na direção da entrada e ficaram atônicos com o que viam.

“Saiam já daí calmamente, senão eu mato seu amiguinho!”, disse Hollandaise, segurando Goldberg como refém, com uma arma apontada na cabeça dele.

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