Amber #16 - O anjo da morte.

“Gehrig! A-há! Seu filho da puta esperto!”, gritou Schultz, tomado pela felicidade. Todos subiram rapidamente pro aposento superior. O cativeiro parecia um chiqueiro, fedia a fezes e urina, estava muito sujo. E tinham alguns corpos em decomposição. Era um local horrendo, completamente insalubre.

“Argh, que cheiro! Vamos descer logo! Venha cá!”, gritou Schultz, puxando Gehrig. Mas Gehrig ao chegar no andar onde havia acontecido a batalha ouviu um barulho de golpes vindo do fosso do elevador. O ser platinado estava socando o elevador tentando escapar.

“Merda, eu tô todo fudido mesmo, não vou conseguir sobreviver. Me escuta então, eu não tenho muito tempo”, disse Gehrig. Sundermann estava no chão junto de Goldberg, que lutava pela vida, “Existe um hospital da cruz vermelha aqui perto. Podem levar seu amigo lá. Você também vai poder curar seu braço”, Gehrig disse, se referindo ao braço ferido de Schultz.

“Vamos te levar também, vamos logo, se aquele cara sair do fosso estamos fudidos!”, gritava Schultz, querendo fugir dali enquanto era tempo.

“Eu estou morrendo, Schultz. Estou com pneumonia em estágio final, eu duvido que alguém consiga me salvar, mesmo se eu desse entrada agora”, confessou Gehrig tossindo muito sangue, colocando a mão no seu peitoral, “Mas em gratidão por ter vindo, preciso dizer algo”.

Schultz o sentou no chão. Realmente seu estado não era dos melhores. Ficar num lugar tão insalubre, com outros corpos apodrecendo, de provavelmente inimigos de Sarkin, acabaria com a saúde de qualquer um. No mínimo contrairia uma infecção cadavérica naquele local. Um local que provavelmente era usado pra desova dos corpos, num prédio bem protegido, com a única entrada protegida por uma estante, que não despertaria maiores suspeitas. Era o cativeiro perfeito. Um cativeiro que serviria também como abatedouro humano.

“Por favor, diga, senhor Gehrig”, disse Schultz, ajoelhando na sua frente.

“Eu ouvi o que vocês estavam falando lá de cima. Então você é um dos poucos que consegue ver com seus próprios olhos o que ele doente mental do Hitler está fazendo com a Alemanha e o mundo, certo?”, perguntou Gehrig.

“Sim. Eu, talvez por ser um agente da SD, tinha informações sobre tudo o que estava sendo escondido, as manipulações da mídia, e os crimes cometidos por aquele bandido. Pessoas estão sofrendo, e muitos ainda vão sofrer! Eu não poderia ficar de braços cruzados vendo tudo aquilo se desenrolando na minha frente”, confessou Schultz.

Nessa hora Sundermann virou seu rosto e olhou com raiva pra Schultz. Mas não disse nada. Schultz não viu o gesto de raiva em sua direção por ter criticado o Führer na frente do seu cãozinho mais obediente.

“Muito bom, muito bom”, disse Gehrig, em meio a fortes tossidas, “Você não é desses que são manipulados pelo governo. Não duvido que na Alemanha existam pessoas que são contra nazismo ou contra Hitler. Mas alguém como você não apenas tem como saber, mas tem como agir. Dá pra acreditar num futuro vendo jovens iguais a você”.

O ser platinado continuava a socar cada vez mais forte o elevador que o havia fechado naquele fosso. Os sons, cada vez mais altos, pareciam mostrar que ele conseguia distorcer o ferro sem maior esforço.

“Ali naquela caixa tem explosivos. Arme e coloque um aqui do meu lado”, disse Gehrig. Schultz, imaginando que aquilo era algum plano pra jogar no fosso, fez sem perguntar, rapidamente, “Agora coloque a caixa do meu lado e me dê o detonador na minha mão”.

“O quê?”, disse Schultz ao entender qual era o plano, “O senhor vai se suicidar assim!”.

“Cale a boca, seu inútil! É o único jeito! Vocês vão ter que fugir enquanto eu vou ficar aqui de isca!”, gritou Gehrig.

Nessa hora Schultz lembrou da missão. A missão era levar os dois engenheiros vivos de volta à Alemanha.

“Não posso, preciso levar o senhor de volta à Alemanha. Vamos, me dê esse detonador na sua mão!”, ordenou Schultz.

“Idiota! Porque acha que eles me querem de volta? Pra fabricar armas? Acha que é realmente pra isso que eles que me querem? Pensa um pouco, ô ‘super-inteligente agente da SD’!”, disse Gehrig.

Schultz por um momento parou e pensou. Estava difícil se concentrar com os sons das brutais pancadas do ser prateado vindo do elevador. Realmente manter ele naquele cativeiro era uma sentença de morte. Era impossível alguém sobreviver naquela situação. Porém precisavam de alguma informação que ele tinha. Talvez por isso não o mataram, e deixaram que a tortura psicológica de viver ali se encarregasse disso.

“Sim. Faz sentido. Se o senhor fosse útil apenas pelos seus conhecimentos pra compor armamentos, seria melhor ter deixado o senhor vivo e bem. Te torturam porque você tinha segredos!”, disse Schultz.

Os golpes começavam a ficar cada vez mais altos. Até que um barulho grande, como se algo muito forte fora arrombado ecoou na sala. O ser platinado havia rompido a parte debaixo do elevador, que era a que tinha mais resistência. Agora era apenas questão de tempo até arrombar o teto.

“Vá pra Guernica!! É lá que está o outro engenheiro!”, gritou Gehrig, cuspindo cada vez mais sangue. Nessa hora Schultz arregalou os olhos. Era o local onde Briegel havia ido pra salvar Alice. Com certeza Briegel está em apuros!

“Merda!! Não temos muito tempo!”, disse Schultz, ouvindo o barulho ensurdecedor dos murros contra o ferro que o ser platinado dava a poucos centímetros dali.

“Só vocês podem descobrir a verdade! É tudo vontade DELES! Alguém que está manipulando até mesmo o governo!!”, se esforçava Gehrig a falar, tentando puxar todo o ar em seus pulmões, em meio a tossidas fortes e desesperadoras, “Com certeza a pessoa que está por detrás de tudo está lá também! Busquem por Oliver Raines! Ouviu bem? OLIVER RAINES!!”, nesse momento Gehrig agarrou Schultz pelo braço e o aproximou do seu rosto, olhando fixamente pros seus olhos, “Agora fujam daqui, procurem a cruz vermelha, e salvem seu amigo!!”.

Schultz então sem hesitar pegou Goldberg, mesmo todo machucado pelo ombro e puxou Sundermann com força pelo braço. Antes de sair olhou pra Gehrig. Sua expressão pacífica lhe deu mais certeza de que ele a partir daquele momento deveria seguir nessa investigação até o fim.

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“Ei, Platinum. Procurando alguém?”, disse Gehrig, no chão, com o detonador na mão.

Nessa hora o ser prateado virou seu rosto, mas ao ver os explosivos ficou parado.

“Sabe quem eu sou, né? Não, agora não sou mais o Gehrig frouxo que você conhece”, disse Gehrig, com a mão posta sobre o detonador. Nesse momento o ser prateado começou a correr desesperadamente pra pra tentar tirar o detonador das mãos de Gehrig, “Não. Agora eu sou o anjo da morte. O anjo da morte que veio leva-lo”.

Schultz ouviu ao longe a explosão ao chegar na entrada do hospital da Cruz Vermelha segurando Goldberg. Ele sabia que era o presente de despedida de Gehrig.

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