Amber #111 - A suspeita de Li.

“Rápido, vamos, a gente tem que fugir daqui!”, sussurrou Chou apontando para que a seguissem, e Eunmi e Chen assim o fizeram, “Esses japoneses vão acabar achando a gente aqui!”.

Porém Li continuava lá, com a cara emburrada.

“Li, não é hora disso! Vamos logo!! Vem!!”, sussurrou Chou para Li, mas ela continuava a ignorar, olhando para o acampamento onde os japoneses faziam a varredura.

“Não vou sair daqui. Não enquanto não recuperar meu rifle”, disse Li, decidida, mas ainda com a cara amarrada, “Se quiserem ir sem mim, podem ir”.

Eunmi tentou tomar a frente, mas Chou ainda agachada se aproximou de Li, e levou sua mão em direção ao braço da batedora.

“Pode tirar essa mão daí. Não quero que um lixo de quinta categoria como você sequer encoste em mim!”, disse Li, muito grossa, para Chou, que antes mesmo de tocar no braço da colega, recuou a mão. Porém Chou não virou as costas, ela continuou ali, parada, sinalizando que não iria de forma alguma se Li não fosse junto.

“Ai, não acredito! Justo agora estão tendo uma briga!”, disse Eunmi, sem saber o que fazer para apartar aquela guerra de cochichos, “Chen, você é o mais velho aqui, vai lá resolver isso, por favor”, disse Eunmi o empurrando, e Chen foi também agachado, completamente confuso até onde estavam Chou e Li, tomando todo cuidado para não ser visto pelos japoneses. Antes de abrir a boca pra falar algo como Li e Chou ele virou o rosto pra Eunmi e apontou o indicador no seu ouvido, que Eunmi de início achou que ele queria gesticular que “elas estavam loucas”, ou algo assim. Mas logo ela percebera que era porque ele era surdo mesmo, seria uma conversa bem difícil de terem ali.

Porém os japoneses continuavam a varredura no acampamento. Tudo delas estava lá, comida, roupas, água, barracas, e a arma de Li, que ela sem intenção havia deixado lá, e fora justamente naquele curto período que justamente os japoneses apareceram, coincidentemente.

“Não! Merda! Minha caixa com minha outra arma!”, disse Li quando vira um japonês pegando na caixa em formato de tubo com pouco mais de um metro que ela carregava sempre.

O soldado abriu o tubo pela tampa e olhou para dentro. Fez uma cara de indiferença e fechou de volta, jogando a caixa perto de onde Eunmi estava.

Essa é a tal ‘outra arma’ da Li, não? Ela nunca deixa ninguém nem chegar perto, e ninguém nunca fala o que é essa “outra arma” da Li. Eu lembro que o Schultz reparou quando ela trouxe, mas ele nunca conseguiu descobrir – e menos ainda a Li nunca mostrou o que havia dentro dali, pensou Eunmi, puxando da sua memória o que achava que sabia sobre aquele misterioso artefato.

“Ei, psiu!! Coreana!! Pega esse negócio aí!”, sussurrou Li, apontando para a caixa cumprida em forma cilíndrica, “Anda logo, eles estão olhando para o outro lado!”.

E tomando todo o cuidado, Eunmi foi lá a resgatou a caixa, sem abri-la, por mais que a curiosidade a atiçasse de vontade de querer ver o que havia lá dentro. O japonês na direção oposta que estava com o rifle SMLE de Li, por outro lado, havia até vestido a bandoleira e praticamente tomado o rifle para si – o que deixava Li ainda mais a ponto de ter um ataque de nervos vendo aquela situação.

Li sinalizou com a mão para que Eunmi fosse até ela lhe entregar o rifle, e assim a coreana o fez, agachada tomando todo o cuidado para não fazer nenhum barulho, e lhe entregou a caixa. Porém, logo na frente delas, um soldado japonês percebeu um movimento estranho no meio daquela moita e se aproximou com passos constantes até o local onde estava vendo aquilo.

De início apenas Chen percebeu que havia um japonês vindo em direção delas, mas não havia muito tempo, apenas poucos passos os separavam, e o chinês olhava desesperadamente para os lados tentando buscar outro esconderijo, enquanto Eunmi apartava aquela discussão de sussurros que Li e Chou contracenavam.

Quando Chen sinalizou para as garotas que havia um soldado se aproximando delas já era tarde. Ele estava a poucos metros da moita!

“Merda. Vamos ter que utilizar a força!”, disse Chou, destravando sua Fedorov Avtomat e apontando para onde o japonês iria aparecer, já com o dedo no gatilho.

Eunmi nesse momento pousou sua mão no cano da Fedorov de Chou, baixando o rifle, e fazendo o gesto com o dedo na frente dos lábios pedindo silêncio para todas ali. A ideia era evitar um conflito a todo custo, e por mais estranho que pudesse parecer, Li e Chou obedeceram Eunmi e ficaram quietas.

Inesperadamente uma explosão então aconteceu na direção oposta de onde elas se escondiam. Pelo som era possível presumir que aconteceu longe, mas ainda assim todos os soldados japoneses se assustaram e foram até lá, averiguar a fonte da explosão, inclusive o soldado que quase as encontrou escondidas atrás de toda aquela vegetação.

“Minha nossa, o que foi isso?”, perguntou Li, assustada.

“Eu não sei. E francamente não quero nem saber”, disse Eunmi, dando uma olhada por cima do arbusto, “Tivemos sorte isso sim, vamos aproveitar isso e vamos todas dar no pé daqui”, e quando Eunmi se virou, deu de frente com ninguém menos que Yamada, que estava arfando, mas com um sorriso que o preenchia de orelha a orelha.

“Minha nossa, enfim achei vocês! Rápido, eu sei um lugar para escaparmos, é só a gente ir por ali e...”

“Cala a boca, japonês! Por que a gente confiaria em você?”, perguntou Li, furiosa e desconfiada de Yamada, “Onde raios você se meteu?”.

“Li, o que é isso? Eu já pedi, por favor, pra não dizer coisas assim!”, pediu Eunmi, encarecidamente. Ela queria poupar Yamada de ouvir asneiras por parte dela.

“Ah, você tá certa. Eu juro que vou explicar no caminho, mas precisamos sair daqui logo! Eu que deixei uma granada lá para assusta-los para que possamos fugir!”, disse Yamada, apressando.

“Sim! Vamos logo, meninas! Depois o Yamada explica tudo, temos que aproveitar e fugir agora!!”, pediu Eunmi, acompanhando Yamada, mas logo viram que estavam sozinhos nessa.

Li e Chou continuavam irredutíveis.

“Eunmi, acorda! E se isso for uma emboscada?”, disse Li, “Eu ainda não confio no Yamada. O Schultz disse que você se encontrava às escondidas com pessoas suspeitas. Pessoas que ninguém tem ideia de quem são!”.

“Li, não é hora disso. Por favor, vamos logo! Eles vão voltar a qualquer momento!”, dizia Eunmi, tentando expor os fatos e a opção mais lógica para aquele momento.

Mas Chou e Li continuavam ignorando completamente os apelos de Eunmi. Chen apenas queria sair de lá, fosse com Yamada ou sem ele, por isso se juntou a Eunmi, que estava ao lado do japonês. Yamada então tomou a frente com um olhar sério.

“Olha, por favor, só peço que venham comigo. Eu juro que vou explicar, é uma longa estória, mas vocês têm que confiar em mim”, disse Yamada, e mais uma vez ele fitou no fundo dos olhos Chou e Li e ressaltou o que havia acabado de dizer, repetindo: “Confiem em mim, por favor. Eu juro que vamos sair, mas temos que ir rápido. Eu explico no caminho!”.

Chou então deu de ombros e se aproximou do grupo com Eunmi, Chen e Yamada. Ela sentiu sinceridade no olhar e na fala do japonês. Mas Li continuava ali, de braços cruzados, os encarando séria. Eunmi franziu a testa, como se perguntasse para Li se ele iria se juntar a elas ou não, e então a chinesa respondeu:

“Tudo bem, eu irei. Mas eu preciso do meu rifle, japonês. Ele pode estar com muitos anos de uso, mas eu cuido dele como se fosse de estimação. Não consigo nem pensar na ideia de que um japonês vai usa-lo sem o menor cuidado!”, disse Li, propondo os seus requisitos.

“Eu não posso ir lá e dar a cara, pedindo o rifle. Mas eu tenho dois amigos que podem fazer isso e eles estão nos esperando, naquela direção”, disse Yamada, apontando para uma trilha que estava escondida no meio do mato, “Eles podem conseguir de volta a arma. Conseguir agora, nesse momento, vai ser meio difícil”.

Li então se aproximou delas, ainda meio relutante.

“Tá certo, pode ser. Espero que eles não ferrem com minha arma querida”, disse Li, tomando a frente, “Para onde, japonês, por aqui mesmo? São japoneses amigos seus que estarão por lá?”.

“Sim, são japoneses sim”, disse Yamada, meio hesitante. Quando Chou ouviu isso na hora se virou para ele.

“O quê? Japoneses? Vai dizer que tá nos levando para uma emboscada?”, perguntou Chou, voltando até onde Yamada estava, mas Chen logo colocou a mão nos seus ombros e a puxou em direção da trilha lentamente, com um sorriso de confiança no rosto, enquanto Chou continuava questionando e pedindo para voltar.

“E você, vem?”, perguntou Eunmi, preocupada com o japonês. Ele ficou vermelho, completamente envergonhado vendo a preocupação da coreana, e então ele respondeu:

“Eu irei sim. Vou ficar na retaguarda de olho neles caso algo aconteça. Vai indo!”, disse Yamada gentilmente apontando com a mão para o caminho, pedindo por gentileza para Eunmi ir seguindo em frente. A coreana se aproximou do rosto do japonês e deu um beijo na sua bochecha. Yamada ficou vermelho, e quando os lábios da coreana encostaram nele, ela sentiu que ele estava quente, de tanta vergonha. Ela deu um risinho e seguiu em frente, se juntando aos outros que estavam na frente enquanto Yamada ficava lá de olho, completamente abestado vendo a coreana ir.

Yamada ficou tão abobado depois do beijinho que Eunmi lhe deu que ele se distraiu e cometeu um erro grave. Um erro tão grave que iria comprometer toda a inesperada fuga do pelotão naquele momento:

“Ei, você? Quem é você?”, disse um soldado ao aparecer logo atrás de Yamada. Nesse momento ele ficou totalmente paralisado de medo. Todo o seu plano havia ido pelo ralo abaixo.

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