Amber #116 - A atitude de Chen.

“Não, Yamada! Aquilo não é um tanque! Aquilo é um canhão!!”, gritou Eunmi, e ao gritar um tiro acertou ao lado deles, empurrando o carro, que chegou a ficar por alguns momentos erguido em apenas duas das rodas, mas não chegou a virar.

“Vamos nos separar!! Chou, Li, Chen, pulem do carro agora!!”, gritou Eunmi e novamente outro tiro pegou bem do lado deles, de novo assustando e tapando os ouvidos de todos ali. Chou, Li e Chen pularam rapidamente do carro em movimento, aterrissando na enseada do rio que cortava aquele belíssimo vale.

“Aperta o cinto, japonês!!”, gritou Eunmi apertando o seu cinto de segurança. Yamada apenas teve o tempo hábil de prender o cinto quando outro tiro do canhão foi disparado contra eles, bem na frente do carro.

Eunmi e Yamada apenas enxergaram um clarão. Seus ouvidos já mal conseguiam ouvir depois de tantas explosões ocorrendo próximo deles, e então uma sensação péssima de ser jogado pra frente os dominou. O carro emborcou e estava sendo levado ao ar, a toda velocidade, empinando com o teto indo em direção ao chão.

Como reflexo os dois fecharam os olhos, erguendo os braços ao rosto para se proteger. Quando o carro capotou com o teto no chão, ainda se arrastou por alguns metros, e Eunmi e Yamada apenas não sofreram mais com o impacto pois estavam presos à carroceria por meio do cinto de segurança.

“Não acredito! Temos que ver como a Eunmi e o Yamada estão!”, gritou Li, ao ver o carro capotado. Chou estava quase indo lá ver também, mas Chen parecia não querer olhar para o acidente.

Porém naquele momento as duas simplesmente não sabiam o que fazer. Hesitavam em dar qualquer passo na direção de qualquer lugar, enquanto os japoneses do outro lado olhavam para o carro virado de cabeça pra baixo, sem nem perceberem que Chen, Chou e Li estavam escondidos do outro lado do rio.

“Não dá pra gente ficar aqui parado pensando. Melhor ir pra cima deles antes que eles atirem de novo!”, e Chen então sacou seus explosivos e foi enfrentar o rio, erguendo a mochila com explosivos acima do corpo enquanto cruzava o rio, para não molhar.

“E-eu vou c-com o Chen t-também”, disse Chou, gaguejando, com medo da reação de Li por ela ter se direcionado a ela. Li ficou parada, com seu rifle posicionado, olhando para os japoneses e para o jipe capotado sem nenhum sinal de vida. Enquanto isso Chou cruzava o rio tomando cuidado para não molhar sua Fedorov Avtomat, e com a água na região da cintura, sentiu o gelar do rio subindo pelo seu corpo, “Ai, cacete! Porque eu só entro em furada?!”.

E então Chen amarrou bananas de dinamite em pedras e começou a lançar todas que tinha no local onde os japoneses estavam, já com seus pavios acesos. Chen apenas tinha quatro lançamentos, então fez questão de mirar em locais estratégicos de onde estava aquela tropa de japoneses.

Uma após a outra as dinamites foram explodindo, causando um imenso estrago. Muitos soldados foram abatidos, tomados pelo pânico, ficaram paralisados ao verem cargas de dinamite brotando do ar e os jogando pelos ares.

“Vai, Chou! Mira naqueles que pularam no rio!”, gritou Chen no meio da barulheira e histeria causada pelos explosivos sendo detonados.

“Sim, senhor!”, confirmou Chou, e então ela começou a atirar nos soldados que tentavam fugir. Mas ainda assim eram muitos, e Chou não conseguia mirar em todos. Começou a mirar nos que iam pelo outro lado, querendo buscar armamento no caminhão militar que estava ali. Mas ainda faltava o outro lado.

Sem combinar nada, Li começou a abater um após o outro que pulavam desesperados na água. Sua SMLE disparava rapidamente, mesmo sendo um rifle de atirador de elite. Todas as suas seis balas foram usadas, na quantidade perfeita para abater cada um dos dois seis soldados fujões.

“Isso aí! Deu certo! Conseguimos!”, comemorava Li, mas sua felicidade durou pouco tempo. Do seu lado esquerdo ouviu um tiro, e ao virar o rosto vira Eunmi no chão. Focada em acertar os japoneses que tentavam escapar, a chinesa se descuidou completamente de Eunmi do seu lado.

“Eunmi! Você tá bem?!”, gritou Li.

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A coreana e o japonês perderam completamente noção do tempo quando o carro capotou.

Algo então pegou no ombro de Eunmi, a puxando de lá. Era uma voz grossa, e falava em japonês. Seus olhos ainda teimavam em não abrir, mas a dor que ela sentia do seu corpo sendo puxado com o cinto de segurança a segurando dentro dele lacerava seu corpo pedindo para que parasse com aquilo.

Sentiu seu corpo batendo nas pedrinhas e areia da margem do rio, e os mesmos braços a arrastando para fora. Antes de ser erguida porém, conseguiu abrir os olhos. Tudo ainda estava embaçado, difícil de se distinguir. A primeira coisa que viu foi seu amigo japonês. E Yamada continuava desacordado lá embaixo do carro.

Esse braço dessa pessoa forte a ergueu e virou seu rosto, e nesse momento Eunmi vira que era um japonês. E ele pegou Eunmi pelo pescoço e a apertou contra a lataria do jipe, gritando diversas coisas que ela nem conseguia sequer ouvir por conta do barulho que havia tampado seus ouvidos.

Mas então um som alto e grave chamou sua atenção no meio daqueles gritos e tiros que ela não conseguia compreender. O que Eunmi ouvira foi uma explosão. Seguida então de diversos tiros, alguns tiros mais cadenciados, e outros mais rápidos. O japonês que a segurava arregalou os olhos assustado olhando para a outra margem do rio.

“N-nani?!”, gaguejou o japonês, em sua língua. Algo como “o quê?!”.

Eunmi virou o rosto, ainda recuperando os sentidos, e vira explosões no local onde estava o canhão que os havia acertado, e Chou e Chen se aproximando abrindo fogo e explodindo tudo enquanto Li acertava a distância com seu rifle. Em questão se segundos aquele último grupo que os perseguia havia sido subjugado.

O japonês então soltou Eunmi no chão e começou a correr desesperado. A coreana então tirou a areia do rosto e sacou sua pistola M1911 do coldre no seu peito e mirou no soldado fujão. Ela só precisava apenas de um tiro, e este o acertou em cheio. Ele deu um grito e caiu, segurando a perna.

“Eunmi!! Você tá bem?”, disse Li, depois do japonês cair no chão. A coreana olhou pra Li e confirmou com a cabeça, e então foi de volta ao carro e vira que Yamada já havia desperto. Chen, Li e Chou então se aproximaram para ajudar.

“Você tá bem, Yamada?”, disse Eunmi, estendendo a mão para puxá-lo de lá.

“Ahhhh! Ai, ai, ai!!”, gemia Yamada enquanto era puxado pela coreana, “Ai, tá doendo, tá doendo, vai com calma!! Eu acho que quebrei alguma coisa!! Ai, ai!!”.

E então Yamada saiu debaixo do carro. A coreana o retirou com tanta força que acabou desequilibrando e caindo sentada na margem do rio, molhando sua roupa na água gelada. Yamada, que estava sendo puxado por ela, caiu caindo de cara nos seios da coreana, e depois que percebeu a gafe, tombou para o lado, batendo com as costas na água.

“Rapaz, se essa é a maneira de um japonês dizer que está interessado em uma garota, tenho que admitir que deve ser uma daquelas coisas que só deve funcionar no Japão mesmo!”, brincou Eunmi, enquanto se erguia, estendendo a mão para ajudar o japonês a se erguer. Yamada estava vermelho de vergonha!

“Eu disse pra ir com calma, Eunmi, poxa vida! Eu quebrei meu braço, tá doendo muito, muito, muito!”, disse Yamada, segurando seu braço, “E me desculpe pela cara nos, bem, você sabe...”.

“Tudo bem, um dia eu deixo você ver eles ao vivo, sem essa roupa toda!”, brincou Eunmi, dando uma piscadinha pro japonês, que ficou ainda mais vermelho, igual um pimentão.

“N-não, eu não quis dizer isso, Eunmi! Não foi essa a minha intenção!”, disse Yamada, ainda vermelho de vergonha.

“Se está doendo, deixa a médica aqui ver, japonês!”, disse Chou, puxando o braço de Yamada, que gritou muito mais pelo susto do que necessariamente pela dor, “Mexe a mão e o braço, Yamada”, e assim o japonês o fez, soltando gemidos de dor. Chou olhou pra ele e fez um ordenou um sonoro: “QUIETO!! Agora mexe de novo!” e o japonês novamente mexeu o braço, e Chou colocou o ouvido perto da sua pele para escutar algo.

“E então, Chou? É muito grave?”, perguntou Yamada, com lágrimas nos olhos por ter segurado a dor, “Será que vou sobreviver?”.

“Ah, vocês homens, viu! Um arranhão e vocês já ficam achando que tão morrendo! Tá quebrado nada, Yamada! Não tem nenhuma deformidade, e menos ainda crepitação do osso. Foi só uma luxação na pele por conta desse vai-e-vem do impacto”, diagnosticou Chou, procurando a sua caixa médica que ela tanto usava, e havia deixado no acampamento, “Se eu tivesse umas faixas e uma pomada pra passar, rapidinho você melhorava...”.

Todos caíram na gargalhada. Menos Li, que apenas abriu um sorriso, enquanto tentava disfarçar a seriedade por conta da inimizade com a Chou. A médica ajudou a levar Yamada e deixou ele encostado numa pedra, enquanto massageava lentamente o braço do japonês.

O lugar, que havia presenciado explosões, tiros, e fogo, agora exalava tranquilidade.

“Que silêncio, que paz. Mas é melhor a gente continuar em movimento. Ainda tinha japoneses lá no acampamento, não conseguimos nos livrar de todos”, disse Eunmi, e Li assentiu. E de fato, tudo estava calmo. Era possível até ouvir os pássaros voando, o barulho da calma correnteza do rio, o vendo balançando as árvores.

E passos. Passos vindo das costas de onde estavam. E a cada segundo pareciam mais e mais próximos.

Eunmi virou o rosto, e Li a acompanhou logo em seguida.

“Parados onde estão! Ou eu atiro!”, alertou Eunmi, para o casal que estava indo na direção deles. A mulher vestia uma saia preta rodada até o joelhos, meia-calças pretas e sapatilhas. Por cima de tudo ela vestia um casaco grosso bege. Logo atrás dela vinha um homem, vestindo calças militares, botas grossas e um sobretudo cinza.

Ao ver a arma apontada pra si a mulher parou, mas não ergueu os braços. Ao invés disso cruzou os braços, parecendo peitar Eunmi com aquela arma. Era claro pelas suas feições que eram asiáticos. Mas não pareciam ser nem chineses, e menos ainda coreanos.

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