Amber #123 - Para que viver se não puder vencer? (2)

Huang balançava a cabeça sem acreditar no que estava ouvindo. Scar Xue estava tentando chantageá-lo, oferecendo dinheiro e até mesmo a chance de ter algum desafeto morto por ele. Nesse momento Huang sentiu um pouco de vergonha de si mesmo também, pois se Saldaña estava mandando Scar Xue dizer isso, era porque o próprio Saldaña acreditava que Huang seria uma pessoa desse tipo, que trairia seus amigos, seus companheiros, e além de tudo, que trairia a Tsai. Ter dado motivos para alguém de fora ter imaginado isso dele o dilacerava por dentro.

“Hã? É isso mesmo que eu ouvi? Ah, fala sério!”, disse Huang, indignado, “Eu não entendo da onde você tirou isso, seu americano idiota. É verdade que eu sou um pouco insubordinado, mas uma coisa que eu jamais faria era trair a Tsai”.

“Vamos, dê o seu valor. Não é minha intenção me engajar em um conflito aqui”, disse Scar Xue, provocando Huang sem se mostrar abalado depois da proposta, “Todo homem tem um valor. Seja alto ou baixo. Se é dinheiro o problema, consigo o dinheiro. Se quer eliminar alguém, posso conseguir isso. Apenas preciso que o senhor me deixe passar, sem problemas”.

“Escuta aqui, seu imbecil. Farei questão de falar em chinês, para que você compreenda”, disse Huang, indo até Scar Xue e pegando-o pelo pescoço, apontando a arma para sua cabeça com a outra mão. O resto da conversa foi em chinês, o que impossibilitou que Saldaña entendesse: “Eu jurei lealdade para a Tsai, e para todos do nosso pelotão. Você sabe o que é isso? Eu acho que não. Um desonrado igual você jamais saberia o que é isso. É verdade que eu e até outras pessoas talvez não concordem sempre com a Tsai, mas isso é normal. Nós acima de tudo somos fiéis uns aos outros, e mesmo que tenhamos pontos de vista diferentes somos ouvidos e respeitados”.

Scar Xue estava se sentindo incomodado com Huang o apertando e apontando aquela arma para sua cabeça.

“Abaixe essa arma”, disse Scar Xue, em inglês.

E então Huang deu uma coronhada na testa do assassino.

“Vai, sai daqui”, disse Huang, enquanto Scar Xue gemia no chão, levando a mão à cabeça, “Dá o fora daqui senão vou te expulsar aqui na base dos pontapés!”.

“Você realmente não tem noção”, disse Scar Xue, falando baixo, como se estivesse resmungando, “Não tem noção com quem você tá falando, seu soldadinho de merda!”.

E então Scar Xue se ergueu e se jogou violentamente contra Huang. A cabeçada que o chinês deu na barriga de Huang foi muito forte, e lançou os dois contra uma parede. Apesar do barulho do impacto, Huang soltou um grito abafado.

“Maldito! Se é assim que você quer, você vai ver só!”, disse Huang, dando um golpe com as duas mãos nas costas de Scar Xue, o levando ao chão.

Huang se preparou para dar um chute em Scar Xue caído, mas ele se ergueu rapidamente e os dois começaram a trocar socos e chutes.

“Uau. E eu achando que essa noite ia ser um tédio”, disse Saldaña, pensando alto. Ele virou o rosto para White, e percebera que ele ainda dormia profundamente, mesmo com o barulho ali do local, “E esse imbecil aí dorme igual pedra”.

Já nos primeiros golpes Huang percebera que era muito superior que Scar Xue em combate físico.

“Para alguém que se autointitula um assassino você luta muito mal!”, disse Huang, antes de acertar dois golpes na cara de Scar Xue enquanto desviava sem problemas dos golpes do algoz, “Não fazem assassinos como antigamente, viu. Essa tecnologia toda fez vocês só se preocuparem com o ato de matar. Nem cair na porrada você sabe!”.

“Rááááááá!!”, gritou Scar Xue, indo pra cima de Huang, o empurrando para fora do quarto.

Huang novamente bateu as costas contra a parede, mas dessa vez segurou Scar Xue pela gola, o puxando para cima.

“Mas pelo visto você é desses que gosta de empurrar os outros, né?”, disse Huang, dando um soco forte no rosto de Xue, o lançando cambaleante até a parede do outro lado do corredor, “Eu te disse que eu ia te chutar para fora daqui, seu merdinha! Volta aqui!”, e Huang então o agarrou novamente e deu um chute no abdômen do assassino, e depois o lançou contra a outra parede, “Você não merece nem um tiro daquela arma. Você é um erro, um derrotado, um lixo!”.

Tsai nesse momento abriu uma fresta da porta e viu Huang, que também percebera que ela estava ali o observando. Era possível ver que ela estava nua, segurando um lençol tapando sua nudez. Huang depois lançar um olhar para a Gongzhu apenas acenou com a cabeça e continuou a bater em Scar Xue. Tsai não saiu do quarto, fechou a porta. Parecia que Huang estava sob o controle de tudo.

Saldaña observava tudo do batente da porta, com os braços cruzados. Parecia alguém vendo um show na sua frente.

Huang agarrou Scar Xue perto da escadaria que levava para baixo.

“Sabe, eu ouvi a conversa de vocês dois. E existe algo que eu compartilho com aquele crápula do Saldaña”, disse Huang, com um tom duro e sincero em sua fala, “Que não existe motivo para viver, sendo um derrotado. E eu acho que você deveria ouvir isso. Não é porque você deu uma alcunha supostamente ameaçadora para si que o faz ser alguém malvado”.

“E você? Tem alguma alcunha?”, disse Scar Xue, com o rosto todo machucado, “Pois se não tem, deveria ter”.

“Eu tenho um sim, dentro do nosso esquadrão. Me deram o de ‘Wangzi’. Nada ameaçador, não acha?”, disse Huang, e nesse momento Xue deu um risinho, pois obviamente sabia o que significava em chinês. Huang prosseguiu: “Mas eu não ligo se isso significa ‘príncipe’. Poderia significar o que fosse. Eu, pelos meus atos, farei com que as pessoas temam e respeitem o tal ‘príncipe’. Não preciso ser chamado de ‘Scar’ para ser temido, seu grande idiota”.

E então Huang lançou Scar Xue escada abaixo. O velho Cheng coincidentemente estava caminhando com sua bengala pela sala quando viu Xue chegando ao chão.

“Desculpa a sujeita, velho. Vamos limpar”.

“É bom mesmo, moleque. Esse sangue todo não vai se limpar sozinho”.

E quando Huang se aproximou de Xue, vira que mesmo depois de rolar escada abaixo ele ainda estava vivo.

“Vaso ruim não quebra mesmo”, disse Huang, puxando Scar Xue pelo braço.

Xue bateu no braço de Huang e conseguiu se soltar, e então começou a correr, cambaleante, até a porta de saída da mansão de Cheng. Huang foi até Xue aos passos rápidos, uma vez que nem correr direito o tal Xue conseguia. O velho Cheng interviu:

“Ei, deixa ele, garoto. Ele já foi derrotado, não há motivo para continuar com isso”.

E então Xue saiu pela porta da frente, todo ferido.

“Sensacional”, disse Saldaña, lá de cima da escadaria, batendo palmas, “Vocês sabem sair no braço com estilo. Eu adoro esse lugar!”.

Huang e Cheng nem olharam para Saldaña. Apenas ergueram os olhos expressando impaciência. Huang então começou a subir as escadas, em direção a Saldaña.

“Já para o seu quarto, idiota. Agora!”, disse Huang, enquanto subia as escadas, ordenando.

“Sim senhor!”, disse Saldaña, debochando.

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