Rumo à Salto!


Depois que o Leozinho faleceu, fiquei muito abalado. E o fato de conhecer o amigo ali, dentro do paletó de madeira, me fez pensar que existem muitas pessoas que amo, amigos e irmãos, que é besteira ficar adiando o dia de se conhecer pessoalmente. Fiquei adiando tanto conhecer pessoalmente o Leozinho, que acabou ele falecendo, e só fui vê-lo pessoalmente ali, momentos antes de ser enterrado a sete palmos do chão.

Bicho, isso é muito triste.

Quando o Leozinho faleceu, em uma das primeiras conversas que tive com o Odirlei e o Flávio, eu manifestei minha vontade de querer conhecer o quanto antes quem eu faltava conhecer: o próprio Odirlei.

Bom, não vou comentar do imenso talento que esse meu amigo de ouro tem com desenhos. Se eu fosse citar isso, esse post se tornaria uma bíblia, e com certeza me faltariam palavras para expressar o quanto o admiro do fundo do meu coração.

Mas o Odirlei sempre foi um exemplo imenso de vida pra mim. Ele nasceu com uma rara desordem genética chamada Síndrome de Larsen. Isso causa deslocamento de ossos no útero e luxações terríveis, que acaba limitando os movimentos da pessoa. Desde que veio ao mundo ele tem lutado pela vida, passando por incontáveis cirurgias, dificuldades em fazer coisas simples como caminhar, e a coisa mais sombria dessa condição: o maldito bullying.

Foi por conta desse bullying que ele acabou sofrendo um acidente de bicicleta na adolescência, quando um menino o empurrou por pura maldade. Odirlei fraturou a coluna, passou por diversas cirurgias para recuperar os movimentos, mas conseguiu vencer a batalha. Isso antes dos quinze anos. Porém esse acidente, junto com a síndrome de Larsen, fez a vida dele a partir daquele ponto ser ainda mais difícil.

Odirlei cresceu, chegou inclusive a ter um registro de carteira assinada, mas logo entrou com pedido de aposentadoria por invalidez. E é basicamente com isso que ele vive, além de uma renda esporádica com seus desenhos. Vive com muita dificuldade, e a arte, além dos videogames, são as paixões que movem esse meu grande amigo.

Quando o conheci foi numa partida de Battlefield, onde o Flávio (que nessa época eu o conheci também, pois é o irmão mais velho do melhor amigo do meu irmão) me apresentou o Odirlei. E óbvio que foi amizade à primeira vista! É o tipo de pessoa que parece que a gente já se conhece, é meio difícil descrever. Quando fiquei sabendo da imensurável capacidade artística dele então, aí a gente tinha ainda mais assunto pra conversar. Trocentas vezes ele me ajudou, me dando dicas, conselhos, opiniões. Eu acho que só o ajudei uma vez quando ele me perguntou algumas coisas sobre o verniz fixador (que a gente usa para finalizar uma arte, pra fixar o desenho no papel) e outra vez que traduzi um texto para ele no Instagram.

Eu brinco com ele que essa balança tá muito desequilibrada, pois eu o ajudei duas vezes, enquanto ele me ajudou mais de mil, com certeza!

Mas aí o Leozinho faleceu e todos nós ficamos muito abalados. Perdemos o nosso chão, até hoje. Dia dezenove agora vai fazer quatro meses, mas acho que a dor que vamos vivendo vai fazendo parecer que foi há muito mais tempo. Porém havia a determinação que iríamos nos conhecer. E quando se há essa determinação, parece que as portas se abrem quando menos esperamos.

No funeral do Léo conheci o Leandro, irmão mais novo do Léo. Nos vimos depois algumas vezes, nas missas de sétimo dia e um mês de falecimento do Leozinho. Em janeiro, no dia 18, marquei com o Leandro que ir até a casa dele e pegar um ou dois desenhos do Leo para enquadrar e guardar de recordação desse amigo tão querido que partiu. Foi aí que o Leandro disse pro Odirlei que queria ir lá em Salto (do lado de Itu, interior de São Paulo) conhecê-lo pessoalmente. Passou-se um tempo, mas aí na semana retrasada o Leandro disse que queria ir lá conhecer o Odirlei e perguntou se queria ir junto comigo.

E esse encontro aconteceu na última sexta, dia seis!

Foi um dia ótimo. Ficamos a tarde e saímos no comecinho da noite. Conheci a Sabrina, a cadela de estimação do Odirlei, o senhor Laerte e a dona Shirlei (os pais do Odirlei) e, óbvio, o Odirlei, enfim pessoalmente! Ele até me deu um desenho. Ficamos conversando, jogando videogame, até comemos pingüinos, um bolinho tipo Ana Maria, que eu nunca tinha ouvido falar, que comia de vez em quando enquanto jogávamos online no PS4. Foi um dia incrível, e claro, vi pessoalmente todas aquelas obras de arte dele e o quarto/estúdio onde ele vive, desenha, joga videogame e guarda seus escorpiões mortos aterrorizantes no formol.

O dia foi pra lá de incrível e memorável. Eu lembro da entrevista do Leozinho falando de como os desenhos do Odirlei eram incríveis quando a gente via pessoalmente. E, de fato, aquilo era um novo mundo. Por mais que eu já conhecesse suas obras, conhecia via fotos de whatsapp. Ver tudo aquilo pessoalmente era uma coisa de outro nível. Era assustador a precisão dos detalhes dos desenhos, dos quadros de motos, de tudo.

Mas isso foi apenas um detalhe minúsculo perto da felicidade de vê-lo ali, pessoalmente, aquela pessoa com quem dividimos tanta amizade, tanta reciprocidade, falamos tanta besteira e também servimos de ombro amigo quando precisávamos.

Obrigado Odirlei, meu irmão. Te amo cara!
(na foto sou eu, Leandro e o Odirlei, da esquerda pra direita)

Comentários

Postagens mais visitadas