Livros 2020 #6 - Viagem ao redor da lua (1869)

 

Esse foi meu segundo livro! Já deu pra ver que eu gosto muito do monsieur Júlio Verne, certo?

Também estava encostado aqui numa estante velha. Comprado em meados de 2000, essa passagem de século que vivi e que parece que foi "há uns dois anos no máximo", mas já fazem vinte fucking anos. Eu sou da teoria de que o verdadeiro bug do milênio foi nos nossos cérebros, mudar de século e milênio assim soltou uns parafusos do lugar aqui.

O livro conta a história de três homens: Barbicane, o presidente do clube de tiro de Baltimore, Nícoles, o cozinheiro, noob e chinelão do livro, e o Michel Ardan, aventureiro francês que embarca junto nessa jornada. Eu lembro que quanto o li pela primeira vez eu fiquei confuso, pois logo no primeiro capítulo eles já entram na Bala que é lançada por um canhão imenso ao céu, rumo à Lua. Ninguém nem se apresenta, nem nos leva para jantar antes.

Foi só depois que eu terminei o livro e pesquisei que eu descobri que na verdade esse livro é a continuação de um outro, o Da Terra à Lua, do mesmo autor, e lá explica como construíram o canhão, explica um pouco mais a história dos personagens, e inclusive o final em aberto no primeiro é concluído anos depois na sua sequência.

E diga-se de passagem, o livro foi lançado em 1869, cem anos antes da Apollo 11 pousar no terreno lunar.

O livro tem muito palavreado científico e cálculos chatos. Especialmente vindo do Barbicane. Tem um capítulo interminável que ele fica falando sobre como conseguiram a velocidade para que o projétil fosse lançado da Terra, e depois ele fica falando outras coisas chatas, como estarem na órbita convexa ou côncava ao redor da Lua. Essas partes poderia ter como pular. Mas ao mesmo tempo isso mostra como o Júlio Verne pesquisou muito para escrever o livro, numa época em que o ser humano mal tinha balões decentes para subir na atmosfera.

Quando chegam na Lua eles fazem uma descrição incrível da sua topografia e do que viam. A gente se sente mesmo como vendo a Lua com nossos próprios olhos, lendo as descrição extremamente acuradas da tripulação da Bala. E isso considerando que na época da Verne a única coisa que se tinha para chegar à Lua eram os telescópios da época. A tripulação rotaciona todo nosso satélite e conseguem chegar até o Lado Escuro da Lua (que de escuro não tem nada, quando estamos em lua nova, ela é iluminada do lado oculto), só que quando os três patetas chegam lá... Está tudo escuro, pois a Lua está cheia.

É curioso pois na época do Verne acreditavam que no lado oculto da lua haveriam florestas, vida e "seres selênicos", pois ninguém nunca tinha visto como era o outro lado (e nem tinha como aqui da Terra), só foram enviar uma sonda para ver o lado oculto da Lua em 1959, e seria vista por humanos apenas na Apollo 8.

Passam alguns capítulos da escuridão do lado oculto, talvez apenas parcamente iluminada por um meteoro que passou ali perto deles e trouxe alguma luz, mas ainda assim é muito obra da imensa imaginação do Verne mesmo.

Eles passam mais um pouco observando a Lua (eles atravessam do polo norte ao sul!) e então retornam. Ficam com receio de ficarem presos na gravidade entre a Lua e a Terra, mas no final a Terra os "puxa" de novo e eles caem no meio do mar, sendo resgatados e viram heróis mundiais.

Como obra de ficção científica o livro é muito bom. Não apenas pela pesquisa que Júlio Verne fez, como também pelo conhecimento limitado que tinha pra época. Ok, tem muita coisa que hoje sabemos que não funcionam assim, mas em muitas coisas ele acertou, como decolarem da Flórida e pousarem com o módulo no meio do oceano (mesmo que tenha esquecido de dar a eles paraquedas).

Uma das coisas que hoje sabemos que não dariam certo é serem disparados com um canhão. Para um projétil daquele tamanho, carregando tanta gente, não teria como sendo tão pequeno como retratado no livro ser capaz de produzir força o suficiente para alcançar a velocidade de escape da Terra. Isso sem contar que teria que ser lançado numa velocidade muito superior à do som, e considerando que eles mal tinham como amortecer toda essa imensa força G, provavelmente os três ali morreriam (como aconteceu com um dos cachorros que embarcaram com eles).

Tem outras viagens também, como não existir a falta de gravidade: a geração de Verne acreditava que mesmo quando algum objeto conseguisse sair da Terra, continuaria com sua gravidade exercendo atração sobre ele. Ninguém flutua dentro da Bala, estão todos em pé, como se a força da Terra ainda os atraísse. Eles só "flutuam" quando se aproximam do campo gravitacional da Lua e "invertem" suas posições.

Outra coisa que caiu por Terra é uma cena onde eles abrem rapidamente a escotilha para lançar lixo, incluindo o cachorro, chamado Satélite, morto depois da decolagem. No livro eles ainda falam que "abriram rapidinho para evitar perderem todo o ar", hahaha! Ainda havia uma cadela chamada Diana, e até galinhas no meio da nave. Achou isso viajado? Pois existem cenas onde o Nícoles — o burrinho dos três — vai cozinhar para a tripulação, usando um fogão e até uma adega com vinhos e champanhe.

Hoje, depois do desastre da Apollo 1, existem protocolos de segurança extremamente rígidos que impedem que qualquer chama seja acesa em espaçonaves. Como é um ambiente com praticamente oxigênio puro, uma chama ali iniciada poderia facilmente sair do controle.

Tirando essas pequenas incongruências, que também só sabemos hoje que existem por conta da exploração espacial, o livro é uma ótima e empolgante ficção! Júlio Verne é muito bom, adorei cada página desse livro!

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