"Alain, nunca mude. Seja sempre assim. Você é perfeito assim do seu jeito".

Foram as últimas palavras dela. ^^

Nesses dias eu me vi no espelho. Não gosto muito de espelhos, sempre que eu me vejo neles me vejo mais jovem, mas aí é só questão de me ver nas fotos e me achar bem mais velho - mesmo sendo batida há apenas alguns momentos.

Ela me disse antes de partir pra que eu sempre fosse daquele jeito. Mas gostaria de ver como talvez ela me conhecesse. Quando me olhei no espelho me vi meio que naqueles insights de final de dia. Tudo parou em uma citação básica "Você é aparentemente o enforcado, mas na verdade, você é a morte". Quem entende de Tarot, entenderá que essas duas são duas cartas BEM distintas.

Mesmo uma sendo próximo da outra, ambas tem o significado bem ambíguo. Eu carrego no MSN o "sub-nick" the Hanged Man, o enforcado. Já usei a the Death mas desisti. Naquela época vi que tava mais pro enforcado do que para a morte.

Ao contrário do que muito nerd bonzinho que na sua singela impotência adota nicks de impacto negativo, a morte no tarot não é algo ruim. A morte significa a mudança, um novo começo. Além de significar coisas ditas ruins, como o sacrifício do outro, enquanto o enforcado é o auto-sacrifício. O eu no espelho disse que, mesmo eu tendo cara de o enforcado, eu sou na verdade a morte por dentro. E infelizmente tive que concordar com o meu reflexo.

Lembrei-me então do que havia acontecido no mesmo dia. Minha mãe, toda empolgada estava falando aos sete ventos que tava louca para contratar um arquiteto, e transformar nossa humilde casa - o qual nós chamamos de tapera, pq só tá de pé, pq o resto tá horrível. é piso desgrudando, parede caindo, goteiras a mil, enfim... Isso só de aquecimento, mas não saindo do foco, vamos voltar. Eu virei pra ela e disse "Puxa! Sonhar é bom né? Pena que você só vai ficar no sonho"...

E ela virou pra mim toda emburrada e me mandou calar a boca.

Eu nem liguei, digo. Que raio de filho diria isso á sua mãe? Mas lembrei do que eu pensei na hora. Não sou mais o otimista de antes, sou pessimista sim. Não é nem realista, é pessimismo mesmo. Eu vejo o meu casal de pais como dois seres que se dão bem, mas infelizmente são bem estressados, fumam pra caramba, e sei que provavelmente morrerão daqui a uns cinco anos de câncer no pulmão, e o meu pai de cirrose hepática talvez, e tentarão me fazer chorar no hospital. =\

Ela ficou com raiva? Ficou. Mas infelizmente ela não viu que meu pai a enrolou durante QUINZE longos anos pra comprar a casa. Condições não faltaram, mas ele preferiu continuar no aluguel sustendando o meu avô preguiçoso do interior. Hoje, ele comprou apenas por pressão das minhas tias e do meu avô em pessoa. Mas não enxergam que, por mais que ele compre, administração de dinheiro nunca foi e nunca será o seu forte. Seu ego masculino, aliado ao seu pênis desregulado e seu peito cabeludo provavelmente sempre subiram seu nível hormonal de superioridade (leia-se testosterona) e ele por achar-se o melhor, sempre quis se virar pra cuidar do dinheiro, trabalho, casa, tudo junto. Quando poder fica demais nas mãos de um, principamente quando este um não sabe administrar, acabou-se.

De fato, havia deixado minha mãe desapontada, pois não querendo acreditar na verdade que eu havia tacado na cara dela, preferiu manter-se em um cala-a-boca qualquer. Vi então como sou um mero infeliz maquiavélico, e lembrei de uma das vezes que eu sozinho consegui fazer meus pais brigarem FEIO, sim, tudo arquitetado por mim. O pior é que eu me vejo fazendo essas coisas sem ter o menor escrúpulo.

Vejam só, eu estou tacando meus pais contra eles mesmos! Foi um belo plano, mas foi um plano! Se eu contasse aqui o resto que eu já fiz para prejudica-los, provavelmente eu seria taxado como um lixo de pior espécie do que isso. Sim, o cara bonzinho escondendo uma face maligna, manipulativa que eu nem sei mais quando isso começou. Será que sou mesmo uma pessoa boa? Será que esse mal que eu tenho dentro de mim é algo... Útil?

Da onde veio essa minha total frieza?

São perguntas que eu ainda medito á procura de respostas. Não sei... Fui criado numa era em que meus amiguinhos sempre diziam que seus pais eram isso ou aquilo, e eu sempre inventava algo legal. Mas chegando em casa tinha sempre que encontrar com a dura realidade de um pai que não via exceto de noite, e quando o via ele me fazia chorar querendo esconder meus video-games, e uma mãe que tratava sempre bem meu irmão e sempre eu era "o filho que apenas entendia", que tinha que engolir tanta coisa. Eu quero saber o que é isso, se estou banhado em algum lago da mais pura vendetta, e quero agora usar tal veneno para fazê-los sofrer, porque é apenas agora que tenho como arquetipar mil coisas para enfim acabar com isso que chamam de família. E provar que isso não existe. Que é apenas uma ilusão, uma utopia do século XXI.

A foto é Seishirou Sakurazuka, o Sakurazukamori de Tokyo Babylon e X/1999, ambas publicadas pela CLAMP. Hoje a professora disse que o ser humano é um bicho sociável. Infelizmente não sou. Dizem que pessoas são insubstituíveis, mas sempre tive que substituí-las por outras. Sempre fui trocado de sala quando estava na escola, logo os amigos que eu fazia eu não conseguia sequer estudar com mais de dois anos com eles, e eu ia sempre conhecendo muitas pessoas, mas será que eu fiz algum amigo? Digo, nunca senti falta de ter uma namorada, sempre fui o gordinho peitudo desprezado pelas meninas. Sempre fui o complexado, o menino que, enquanto os moleques iam jogar bola, eu preferiria ficar na minha resolvendo contas da matemática (outra coisa que sempre me fascinou), e ficar em debates com professores mesmo com tenra idade. Eu era do tipo daquele que perguntava porque a Teoria de Bose-Einstein sobre os novos estados da matéria já haviam sido visto, enquanto os moleques da minha idade mal sabiam que a fusão é a passagem do estado sólido para o líquido...

Sempre fui aquele que teve quem ensinar aos meus pais. Ensinar ao meu pai que o que é necessário não é uma faculdade que dê grana, mas sim uma que você goste, afinal se você gostar você irá sempre querer crescer dentro da profissão. Pode começar como um gari, mas terminará como o secretário do meio-ambiente. Tive que ensinar pra minha mãe que o igual não é o literal. Que quando você tem 10, não tem que dividir cinco pra mim e pro meu próximo. Mas sim ver que eu por ser o mais velho eu tenho outras necessidades nutricionais, maiores que a do meu irmão quatro anos mais novo que eu, sobre os malditos pães de queijo que sempre me deixavam com fome e que o meu irmão nunca aguentava comer tudo. Tive que ensinar que por mais que ele seja meu pai, minha mãe, formalmente, é que acima de tudo são meros mortais. E meros mortais, cometem erros. Acho que meu pai sempre no seu ego imenso nunca quis ouvir o que eu dizia a ele, principalmente quando eu dizia do fundo do meu coração que ele merecia se tratar num psicólogo, e que não adianta ele vir com o ego dele de que "sou assim você que me aceite", pois quando se quer criar uma família você além de ser o exemplo, você tem que guiar seus filhos. Meu pai, o cara que sempre fora um fumante inveterado, um wokaholic, um cara que "bebe pra cacete" que eu aprendi só de ver ele a ficar longe de cigarros, a nunca beber e a não trabalhar igual a um condenado. Só de ver ele já sei como é.

Bah. =~~

E me pergunto o que eu fiz á minha mãe. Se eu fiz um favor a ela, explicando a realidade numa única oração, ou se feri os sentimentos dela, pelo simples prazer.

Seishirou Sakurazuka. Eu adoro ele. Mas sei que sou muito parecido com o Subaru, o cara no colo dele na foto, um garoto ingênuo, bobo e fraco. Pode ser até que eu seja alguém assim, mas o meu lado mal estou descobrindo agora. é algo como ver uma pessoa e chutá-la como uma pedra. Como se a pedra ou a pessoa fossem algo igual.

Vou ficar longe de espelhos.

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