VII - O Carro



"Al? Você por aqui?", disse uma voz inquisitora próximo de mim.

Estava uma garoa fina e um vento gelado. Fort Meade, sede da temida NSA. A agência de segurança que ninguém tinha vontade de mexer. O jovem Rockefeller foi enviado para uma missão naquele local. O mesmo Rockefeller que há mais de dez anos havia participado do expurgo e assassinato do meu irmão mais velho.

O único empecilho era que quem iria escoltá-lo, seria eu.

"Eles estão me achando com cara de office-boy", eu iniciei, coberto por uma capa para me proteger da chuva, sentado no chão, "Dos confins do Chile, me mandam para o meio da Sibéria ocidental, e agora aqui, Washington. E para proteger um cara na mesma situação que a minha".

"Al, justo você?", o jovem Rockefeller iniciou, mas logo depois sua voz parecia ter adquirido um tom de aceitação, "Minha missão será adentrar aquele corredor, vamos invadir a NSA pela porta da frente, o local mais seguro. Porém, uma vez que eu estiver dentro daquele prédio eu serei um alvo fácil. Inclusive pra voc...".

"...É. Talvez sim", eu disse, encarando um dos algozes do meu irmão.

O problema não era proteger ele. A garota do cabelo lilás não estava lá, estava na Grécia, mas logo iria me encontrar em Washington. Eu estava prestes a ajudar um dos caras que mataram meu irmão mais velho há mais de dez anos. Isso me incomodava muito. Mas somente eu poderia fazer isso, uma vez que fui designado exatamente pra isso.

Rockefeller adentrou o local, junto de mais três homens. Eu fiquei estacionado na porta, observando o movimento. De acordo com nossos planos ninguém entraria naquele momento. Foi aí que um homem, de roupas pretas se aproximou da porta.

Eu o parei na hora.

"Deixe-me advinhar. Você deve ser o Al, filho mais novo do Arch", ele disse de primeira. Eu fiquei um pouco assustado mas não demonstrei surpresa, "Justo você protegendo um dos caras que mataram seu irmão? Vamos lá, deixe-me passar. Tenho um acerto de contas com aquele jovem Rockefeller".

Eu não percebi, mas na hora levei um forte golpe no estômago. A dor é indescritível, eu apenas caí e segurei a barriga. A dificuldade de respirar é o que mais incomoda, pela dor, e pela contração do diafragma. Tudo a minha volta rodava, e via o homem chegar cada vez mais perto da porta.

Num impulso, ainda sentindo fortes dores me ergui. Era apenas eu e o homem de preto. Segurei-o pelo ombro. Ele parou.

"Aceite seu destino. Você não pode fazer nada contra ele. Não acredita em destino, jovem?"

"Não", eu respondi.

"Então me dê licença e me aguarde. Não levarei mais do que cinco minutos, e trarei o cadáver desse Rockefeller", o homem disse. Na hora pude ver seu punho vindo de novo. Eu desviei e o prensei na parede.

As palavras que eu disse eu jamais me esqueci.

"Eu não acredito em destino. O destino a gente não pode mudar. Se eu acreditasse em destino seria o mesmo que acreditar que o meu irmão mais velho teve que morrer mesmo sendo inocente", eu iniciei, "Por isso, se você diz que o seu destino é matar o Rockefeller, eu farei de tudo para impedir que isso aconteça!".



O homem de preto havia deixado o recinto. E lá estava eu, caído no chão. Minhas costas estavam todas feridas (as cicatrizes guardo até hoje), e acho que em algum momento ele havia injetado algo em mim. Alguns soldados vieram ao meu auxílio e do homem misterioso também, mas mesmo assim acabamos levando uma surra.

Foi quando uma sirene soou em todo o prédio que eles fugiram, feridos. Eu não tinha forças, e estava mais apagado do que lúcido. Estava perdendo sangue e tinha muitos hematomas. Foi aí que Rockefeller saiu do prédio, vitorioso da sua missão.

Ele me carregou até o Hospital St Elizabeth, onde a garota do cabelo lilás estava me aguardando.

"Aqui está ele. Gostaria que por favor, desse um recado pra ele quando ele acordar", disse o jovem Rockefeller.

"Ele está bem ferido mesmo, precisa ser hospitalizado imediatamente. Mas diga-me sim, eu passarei o recado a ele".

"Diga que, quando eu estava dentro daquele prédio pude sentir e ouvir a dedicação que ele teve, e a força inabalável. Isso me fez lembrar do falecido irmão, e seu senso de justiça sempre presentes. Ele usou quase que sua própria vida pra proteger eu, do qual ele poderia ter qualquer sentimento de mágoa. Diga que sou muito grato, e quando ele precisar de mim, estarei pronto para ajudá-lo como ele me ajudou".

Fui hospitalizado ainda naquele dia. Acho que foi mais ou menos aí que comecei a olhar a garota com outros olhos. Ela ficou dia e noite ao meu lado no leito. De alguma forma os meus sentimentos estavam transformando ela.

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