Doppelgänger - #40 - Não existe outra opção.

Victoire estava sozinha. Al estava em algum lugar do mundo com seu mestre. Agatha e Nezha estavam presos, provavelmente sobre a acusação de atividades ilegais de espionagem. Ar estava solto. E logo ela estaria presa também, mas não sabia em quem confiar. E esse tal de Neige? Ela não tinha opção, pelo menos se fosse ele, era melhor arriscar do que ficar parada lá esperando a polícia chegar. Pelo seu telefone Neige ia dando instruções pelo GPS no celular da francesa.

“Siga essa rua até o semáforo, depois vire”, dizia Nezha enquanto Victoire andava a passos curtos e rápidos. Logo ela estava dentro do DLR, os monotrilhos das docas de Londres rumo à Tower Gateway. Em mais ou menos vinte minutos já estava muito próximo à Torre de Londres, o castelo medieval conservado no centro da City londrina. Mas o local do encontro era relativamente próximo dali.

Copper’s Row... pensou Victoire.

“Eu estou aqui. Estou com um moletom cinza e estou de touca aqui sentado”, disse Nezha pelo celular. Victoire foi então ao seu encontro.

Na hora que Neige viu Victoire, ele abaixou a touca revelando seu rosto. Era um rapaz branco, aparentemente jovem, com um cabelo loiro-escuro, olhos pretos, e óculos. Seu rosto tinha um desenho de barba bem rala, como se tivesse ficado alguns poucos dias sem fazer. Parecia um nerd comum, não uma pessoa tão capaz dentro da Inteligência.

“O DLR estava meio lerdo, né?”, iniciou Neige, “É tão pertinho Canary Wharf daqui... Foi quase meia hora”.

Victoire sentou ao lado de Neige. Tinha uma pistola na sua bolsa, que apontou para Neige, escondendo-a por baixo do seu sobretudo.

“Quem faz perguntas aqui sou eu, seu idiota”, disse Victoire, enfática, “Quem diabos é você? Esse sotaque... Você é americano?”.

“Calma, calma, por favor, não atire. Sou realmente amigo, confie em mim”, acalmou Neige, “Sou da Carolina do Norte sim, sou especialista em computação, ou como outros me intitulam, um hacker dos bons”.

“Qual sua filiação?”, disse Victoire, empurrando ainda mais a arma em direção à cintura de Neige.

“NSA”, respondeu Neige.

“E da onde você conhece o Al?”, perguntou Victoire.

“O Al é meu amigo, tô falando sério! Escuta, acho que quando virem que você não está naquele prédio vão mandar policiais em todo perímetro. O Al pediu pra cuidar de vocês, mas foi difícil encontrar vocês. Eu já perdi dois, portanto preciso que confie em mim, senão vai ser mancada com meu amigo. Do outro lado da Trinity Square tem um táxi esperando. Ele sabe as instruções e pra onde tem que levá-la. Eu vou te encontrar lá, mas preciso te colocar num lugar seguro antes, pois o Ar e a polícia estão atrás de vocês... E como você bem sabe...”, disse Neige, olhando para um muro, onde havia uma câmera, “Londres é o local mais vigiado do mundo. Vá com extremo cuidado”.

“Como posso saber se posso confiar em você?”, disse Victoire.

“Simples. Não tem outra opção”, disse Neige, mantendo a postura séria.

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Agatha estava sendo interrogada. A clássica cena entre quatro paredes, um imenso espelho, uma mesa, cadeira, e luz. Muita luz. Estava algemada.

“Estão faltando dois, holandesa”, disse o oficial, “Onde estão Victoire e Al?”.

“Devem estar por aí, oras. Eu não sou grudada com eles, não sei se deu pra perceber”.

Agatha já havia trabalhado na Inteligência. E sabia como interrogatórios funcionavam. E durante alguns minutos conseguiu enrolar bem o oficial novato. Foi aí que entrou na sala outro interrogador. E Agatha conhecia muito bem.

“Dawson. Pegou o primeiro voo pra cá?”, disse Agatha, num tom de deboche.

Dawson deu uma risadinha amarela.

“Temos algumas regalias, Agatha, você sabe”, respondeu Dawson. O mesmo que estava no encalço deles na Itália.

Capitão Dawson tirou uma foto da carteira. Mesmo com o mundo cheio de tecnologia, ainda era saudosista e gostava de revelar fotos. Era uma selfie de um casal que Agatha não os reconheceu de pronto. Dawson explicou quem era.

“É meu filho Jack, e sua esposa, Rose. Isso faz poucos anos, quando eles noivaram. Mas não mudaram muito não”.

“Nossa! O Jack cresceu e ficou um gatinho. E essa mulher dele também é bem bonita. Sem dúvida vai ter netos muito bonitos, Dawson. Parabéns!”, disse Agatha.

“Obrigado! Mas sabe que, se fui chamado aqui foi pra tirar de você algumas respostas, né Agatha?”, disse o capitão.

“É... Eu já temia isso”.

O capitão Dawson desligou o microfone da sala. Tirou o paletó, colocando na cadeira e olhou firme para Agatha, sentada na cadeira, algemada.

“E você bem sabe que nós da Inteligência não somos muito diferentes na hora de obter informações. E faz um bom tempo que não pratico meu esporte favorito...”, disse Dawson, com o rosto desfigurado pela raiva, sedento por um pouco de sangue.

“Seu esporte favorito... Tortura?”, respondeu Agatha, com um tom de cinismo.

“Exato, minha cara. Exato”.

“Mas já aviso de antemão que realmente não sei nada. Se encontrar o Ar me deixou surpresa, encontrar a polícia foi mais inesperado ainda. Se você analisar os fatos pelos fatos vai ver que estar aqui era a última coisa que passou pela minha cabeça, Dawson. Pode me torturar o quanto quiser, que não tenho como dizer nada, pois realmente não sei”.

“Vejamos...”, disse Dawson.

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A porta do camburão se abriu e ele desceu. Uma pessoa estava apontando um carro, um luxuoso BMW. Ao entrar, ele deu de cara com ninguém menos que Ar.

“Lucca, obrigado pela sua ajuda”, disse Ar.

“Ar... Eu só fiz isso por um motivo e você sabe muito bem”, respondeu Nezha.

“Sim. Eu sei. Eu vou te mostrar toda a verdade sobre quem você é e o que fizeram com você, Lucca. Vamos comigo para minha central. Você não vai se arrepender”, concluiu Ar.

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