Doppelgänger - #53 - The Lady Saunders (3)

“Francesca Vittorio? Droga... São tantos nomes que tá foda ficar guardando tudo isso”, resmungou Nataku.

“Hahaha!! Francesca Vittorio que deu todo o poder político pro Ar. Ela é italiana, uma velha, como eu. Émilie sumiu depois que o Arch morreu. Al conseguiu encontra-la só uma vez, mas quem era sua tutora essa senhora, a Vittorio. Ela manipulou a vida do Al de todas as formas possíveis. Ela fazia com que os que trabalhavam com ele contassem mentiras, fazia ele receber pistas que só faziam ele dar voltas e voltas, e forçou até a ele se casar com uma bastarda dos Blain, uma meia-irmã da Émilie, a Val”, disse Saunders.

“Inacreditável”, foi a única coisa que Nataku disse.

“Francesca Vittorio era perfeita. Nunca deixava pistas, nem suspeitas. Ótima lábia. Mas a dama da sorte do Al sorriu pra ele. Sorte mesmo, coisas de destino, e Al descobriu tudo. Isso foi pouco depois da Val, a esposa de Al, se matar. Até a briga deles foi algo arquitetado pela Vittorio, que queria mesmo acabar com qualquer resquício dos Saint-Claire. Ela acabou morrendo. Mas sei lá, tenho minhas dúvidas. Esse povo arquiteta a morte ás vezes, e possivelmente ela só deve ter saído de evidência. Ou pode ter morrido mesmo”, disse Saunders.

“É comum vocês ficarem arquitetando mortes?”, disse Nataku.

“Sim. É um direito de quem trabalha na Inteligência. Como você acha que as pessoas se aposentam? Ganham uma identidade nova e vão morar em Maryland, Papua Nova Guiné ou no Chipre. Mas pra isso, devem matar a identidade antiga. A Vittorio forneceu toda influência e contatos ao Ar. Émilie morreu em junho de 2012. Na verdade, se matou. E isso foi mais do que confirmado, Émilie não era da Inteligência. Havia se casado com um magnata e vivia uma vida muito confortável, mas depois da Crise de 2008 a cada ano o marido perdia mais e mais fortuna. Foi um dos muitos suicídios causados pela queda do Lehmann Brothers que desencadeou essa crise atual. Ironia mesmo foi a Crise Econômica Mundial ter sido causada pelo Ar, o seu próprio filho, acabou matando a própria mãe indiretamente”, disse Saunders.

“Cara... Isso é como se todas as peças se encaixassem”, disse Nataku.

“Eu ainda estou levantando informações. E é claro que tudo isso que eu te disse o Al já sabe há muito tempo, mas achei que seria uma boa você saber. Ainda existem coisas que eu tô pesquisando”, disse Saunders.

“Você disse que você não está sozinha nessa, né?”, disse Nataku.

“Sim. Tenho um cúmplice!”, disse Saunders enquanto anotava num papel um telefone, “Fique com esse número. Eu vou morrer a qualquer momento, provavelmente o Ar está só esperando algum tempo pra você chegar, depois ele vai me matar, com certeza”.

“Não, eu não vou deixar, senhora Saunders. Estou farto de ver pessoas morrendo na minha frente, eu fico muito mal e me sinto incapaz. Como essas pessoas tem tanto sangue frio de fazer algo assim?”, disse Nataku.

“É assim que o mundo funciona, meu jovem. A gente nunca sabe direito quando é a nossa hora. A Inteligência caça o crime, e o crime caça a Inteligência. Embora as motivações sejam diferentes, o modus operandi é similar. Veja você e o grupo do Al, por exemplo. Todas suas ações estão na ilegalidade. Dentro das leis, vocês estão em estado ‘disavowed’, o que significa que suas operações são ilegais. Logo, vocês são tão criminosos quanto aqueles que vocês caçam. Mas sempre vai ter alguém pra assumir depois. A vida de um agente ou de um criminoso não é nada perto das vontades dos que controlam o sistema. Não pouparam nem o pobre Arch, jovem de 20 anos, casado com uma esposa linda, grávida do primeiro filho, podre de rico e além de tudo um gatão e inteligente. Porque poupariam o Al que no máximo tá comendo a Victoire e mal tem onde cair morto?”, disse Saunders.

“Isso realmente tira todo aquele glamour de cassinos e martinis do James Bond... A vida na Inteligência é uma luta pela sobrevivência mesmo, literalmente”, disse Nataku.

“Pelo menos o Al tá trepando. Tem uns dois anos que não trepo, acredita? E eu ainda tô uma velha gatinha, fala sério! Eu tenho uma xoxota e mereço ser comida de vez em quando...”, disse Saunders.

Saunders se levantou e foi ao caixa do Prêt pagar a conta. Nataku colocou seu sobretudo e esperava na porta, olhando para algo na ponte de Vauxhall.

“Tá tudo bem?”, perguntou Saunders, após sair do Prêt e encontrar Nataku.

“É o MI6, né?”, perguntou Nataku.

“Sim”.

“Primeiro eles pedem pro Al caçar o Ar. E agora, eles mandam ele voltar atrás e parar com tudo. Sabe, ás vezes eu fico me perguntando se o mundo que o Ar criar não pode acabar sendo melhor que esse atualmente. A economia do mundo vive sempre à beira de uma nova crise, cada vez mais países estão mais e mais pobres, empresas sugam o povo a toda custa, governos coniventes com tudo isso... E o Ar está colocando tudo isso em ruínas, derrubando empresas, economias, países inteiros. Se com apenas 20 anos ele derrubou o sistema bancário americano, sem dúvida esse momento pode ser o ponto de partida pra ele acabar com todo o resto. Cada país no mundo está sofrendo uma crise... Por exemplo, a Espanha. Não tenho dúvidas que isso também foi obra do Ar. Cada país de cada vez, e quem sabe depois que tudo estiver arruinado, enfim o mundo tenha uma economia justa. Isso é, se o Al não parar os planos do Ar antes”, disse Nataku.

“Sabe, Nataku... Essa é uma guerra particular entre Al e o Ar. Guerras são provocadas porque ambos os lados acreditam firmemente no que acreditam, e o único jeito de um dos dois cederem é um saindo derrotado e o outro vitorioso. O mundo que Al defende parece tão bom quanto o que o Ar defende. Nós não temos escolha, apenas podemos observar. É uma guerra particular entre os dois maiores cérebros da Inteligência. Vendo de uma maneira crua, ambos são heróis e vilões ao mesmo tempo. Mas só o vitorioso será considerado herói, enquanto o derrotado será o vilão”, concluiu Saunders.

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