Doppelgänger - #58 - Desfibrilador

26 de novembro

11h10

“Que bizarro isso, não?”, disse Victoire.

“É a influência do Ar. Foi a perícia mais rápida que já vi, já concluíram os laudos, queimar o corpo e jogar no lixo não reciclável. E esse é o fim do Löfgren, mas talvez ele já esperasse isso. Pelo menos parece que enfim a casa é nossa, vamos entrar logo e procurar lá pistas”, disse Al.

A casa estava do mesmo jeito que haviam deixado. Al não tinha visto ainda, mas ficou impressionado com o sangue que estava no local onde Löfgren havia sido baleado.

“Vicky... Você disse que havia uma mulher junto do Rockefeller?”, perguntou Al.

“Sim. Era alguém de idade já. Tinha um sotaque sutil e meio estranho... Acho que o Rockefeller a chamava de ‘Fran’”, disse Victoire.

“Difícil pensar em algo apenas com isso. Enfim, temos que ficar de olho no Rockefeller. O Neige entregou esse vírus, se a gente instalar no computador do Löfgren a gente vai conseguir que o Neige entre nele e ache o que precisamos”, disse Al.

E foi o que eles fizeram. Depois da instalação, Al ligou para Neige.

“E aí? Conseguiu acessar?”, disse Al.

“Sim. Al, eu deixei o meu computador processando a noite inteira os dados desses e-mails dos ‘Doe’. Eram muitos IPs mascarados, firewalls, todo tipo de segurança que é possível de se imaginar, realmente eles fizeram um bom serviço. Eu consegui chegar em uma identidade aqui, e bateu com o registro que havia nesse computador. De fato, Löfgren era um dos ‘Doe’, não temos mais dúvidas!”, disse Neige.

“Ótimo. Faltam achar os outros cinco. Espero que estejam juntos, pelo menos”, disse Al.

“Isso vai me levar um tempo. Mas já estou trabalhando nisso”, disse Neige.

Al e Victoire continuaram andando pela casa, buscando algum tipo de pista. Haviam muitas coisas, mas aquilo levaria um bom tempo até que fosse analisado. Livros, anotações, planilhas, transações bancárias... Aquilo tudo na casa de Löfgren parecia um paraíso de pistas – mas que precisavam também de pelo menos mais umas três pessoas para analisarem tudo e concluírem algo.

Al estava suando. Mesmo dentro da casa não estava muito quente, uma vez que o aquecedor não estava ligado e as cortinas estavam fechadas. Victoire ficava olhando pra ele de vez em quando, pois aquilo não lhe cheirava bem.

Do nada, Al sentou-se no sofá. Ele estava arfando, e pálido.

“Al! Você tá legal?”, gritou Victoire, correndo ao seu encontro.

As pupilas de Al estavam dilatadas, e ele parecia atordoado. Aquela fraqueza tinha sido súbita, e ele mal tinha forças pra se manter sentado no sofá, seu corpo estava caindo. Al estava sentindo até mesmo falta de forças para respirar.

“Vicky...”, dizia Al, baixinho.

O que será que é isso? Droga, eu te disse para tomar todas as medicações... As células do seu corpo estão envelhecendo em um ritmo muito acelerado, as medicações não te tornariam mais jovem, mas pelo menos teriam estacionado os sintomas em determinado ponto! Agora é tarde demais! É um cara de 34 anos com células de alguém de mais de 60!

Pensa, Victoire, pensa... O que são esses sintomas? É verdade que alguns órgãos dele estão envelhecendo mais rápido devido a fatores genéticos, mas esse cansaço súbito... Só pode ser isso!

“Al, presta atenção em mim, ok?”, disse Victoire, tentando deixar Al acordado o maior tempo possível, “Fique tranquilo, você está tendo uma taquicardia. Vou precisar do desfibrilador que está no carro, vou lá correndo, fique acordado!”.

Al não sabia se ficava nervoso de vez ou se apagava. Simplesmente não fazia nenhum som, mas o cansaço estava dominando seu corpo, ao mesmo tempo que a ideia de uma taquicardia naquele momento havia injetado um bocado de adrenalina no seu corpo. O carro estava logo na frente, talvez não levaria nem mesmo dois minutos, mas cada batida do relógio parecia algo eterno. Tudo estava em câmera lenta.

Pensou que talvez para se manter acordado poderia se jogar no chão. E foi o que fez, jogou seu corpo e caiu bem em cima do seu braço, quase torcendo seu pulso, dando uma dor imensa.

Al gritava de dor. Porém ele sabia que aquilo lhe deixaria acordado.

Foi aí que Victoire chegou com um desfibrilador portátil.

“Isso, vamos lá, desabotando a camisa... Vamos, vamos, vamos... Colocar aqui, e agora apertar aqui para soltar a carga. Anda, anda, and...”, dizia Victoire, mas Al nem conseguiu ouvir ela terminar de falar o último “anda” que sentiu como se dessem um golpe forte no peito dele.

E aí, depois desse choque, tudo parecia melhor.

“Ah...!”, disse Al, como se enfim conseguisse respirar.

“Mas que merda, Al. Se ficar assim, não sei se você vai poder continuar conosco”, disse Victoire.

Al sentou-se e virou pro lado, tossindo, como um velho. Sem dúvida não era apenas os seus cabelos grisalhos que denunciavam sua idade corporal avançada, mas seus órgãos estavam começando a falhar, um a um. Al estava tão mal que até mesmo Victoire duvidara se ele sobreviveria até o final da missão.

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14h30

“Toma, bebe um pouco de água”, ofereceu Victoire.

“Obrigado...”, agradeceu Al, pegando o copo.

“Al, olha só quem deu as caras”, disse Agatha, entrando na casa.

Era Nataku.

“Nataku! Por onde esteve?”, perguntou Al.

“Al, eu não estou do seu lado. Muito menos no lado do Ar. Mas eu sei de coisas que talvez seriam muito valiosas pra você, e podem mudar o rumo da investigação. Será que podemos conversar um pouco?”, disse Nataku.

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