Doppelgänger - #73 - Who dares, wins.

30 de novembro

16h11

Nataku estava na tocaia o dia inteiro. Havia alugado um carro e estava lá dentro, apenas observando uma modesta casinha na Alexandra Park Road, uma rua colada junto do Alexandra Park, em Londres. As informações dos insiders indicavam que ali havia o próximo contato. E seria uma outra pessoa que era também uma insider.

A casa não tinha indicação que era da família, o que tornaria o serviço muito mais fácil. Nataku apenas tinha um sobrenome: Vogl. Ele não sabia se alguma outra pessoa tinha essa informação, mas ele não poderia simplesmente chegar na casa da pessoa anunciando quem era. Isso poderia ser perigoso, tanto pra ele, quanto pras pessoas ali na casa. Insiders confiam plenamente um no outro, e é um grupo muito, muito restrito.

Acontece que esse insider teria as mesmas informações que Sheryl Saunders tinha. E poderia levar Nataku direto para o grupo dos cinco empresários que estariam fazendo o lobby a favor de Ar, ajudando ele a controlar a economia global. Porém, Nataku estava sozinho. Todas as coisas que ele descobriria não iria compartilhar nem com Ar, nem com Al. Seguindo a orientação de Al, ele resolveu andar por conta própria, e buscar a verdade que existe por detrás de tudo. E as ferramentas todas ele tinha nas mãos.

Nataku agora havia herdado o posto de Saunders. Havia se tornado um insider, e herdado todas as valiosas informações que Saunders havia compartilhado no grupo. Mas haviam ainda muitas lacunas, e dentro do grupo ele mesmo foi orientado a buscar um outro insider, cujo apenas o sobrenome era conhecido: Vogl, residente próximo do Alexandra Park, Haringey, Londres. Não se sabe nenhuma característica, se é homem, mulher, branco, negro, asiático, latino, rico, pobre... Nada.

Mas para Nataku, aquelas informações eram mais que suficientes.

Parece que é aqui que o tal Vogl mora. Vou estacionar meu carro aqui e ficar na espreita. Espero conseguir alguma coisa logo, disse Nataku. Já haviam se passado dois dias.

Nataku estava cansado de ficar comendo apenas lanches servidos no Spouter's Corner, um pub da franquia do Wetherspoon em Wood Green, o mais próximo do Alexandra Park. Mas isso era necessário, pois seria ótimo ele não levantar nenhuma suspeita em cima dele.

No dia 29 de novembro viu uma senhora saindo três vezes da casa dos Vogl. Ela ia caminhando até uma loja de conveniência próxima para comprar alguns pães e hortaliças, e pela noite ia até o mesmo Spouter's Corner pedir um dos pratos principais ingleses: Fish 'n Chips, filé de peixe empanado com batata frita. A noite ela saía com uma garota, possivelmente sua neta.

Nataku sabia que ali estava um grande problema.

Se fosse apenas a velha seria mais tranquilo. Mas havia uma criança, e justo uma menininha, aparentando não mais que dez anos. Nataku sabia que havia uma grande chance do Ar estar observando ele, e se ele tentasse uma abordagem se estudar muito bem o terreno antes, ele poderia ser seguido e além da senhora ser alvo, a criança também acabaria provavelmente sucumbindo caso os capangas de Ar decidissem eliminar a senhora do mesmo jeito que foi com Saunders.

Provavelmente a garotinha não seria poupada.

Nataku nem tinha idéia que longe dali, em Candem Town, Agatha havia enfim vencido Sara. O time de elite do Ar estava com dois a menos, perdendo Ravena na Colômbia, e Sara em Candem Town. E faltava justamente aquele que ele conheceu primeiro na ocasião que foi tirar Agatha da cadeia da Holanda: Schwartzman.

Já passavam das quatro da tarde, já havia anoitecido. Nataku decidiu ficar apenas mais algumas horas observando a casa, e era mais um dia comum, parece que só a senhora e a garota viviam mesmo na casa. Uma casa comum, sobrado inglês colado no vizinho, cor cáqui, detalhes em branco.

No próximo dia, logo pela amanhã, ele iria tocar a campainha e entrar. Agora era dia de voltar e descansar.

- - - - -

Al havia sido jogado numa cela, sozinho.

Merda. Poderiam ter jogado um cigarro junto, pensou.

Já havia anoitecido, e sabia lá deus como ele iria sair de lá. Talvez a ideia fosse esperar, e torcer para que Neige tentasse achá-lo nos registros nos computador e vir buscá-lo. Quanto antes pudesse sair, melhor. Fazia bastante frio na cela. E Al nem tinha ideia de onde estava.

Nem mesmo haviam dado um daqueles uniformes de presidiários. Corte de custos da realeza? No fundo Al estava achando um pouco de graça daquilo. Mas ainda não era hora de desistir, por mais que o Reino Unido tivesse a melhor polícia, ainda tinha lá suas falhas. Ainda havia uma esperança. Talvez Natalya Briegel poderia dar uma mão.

Mas a situação estava realmente contra Al. A insígnia dos guardas era uma das mais temidas em todo o Reino Unido: SAS.

Quem se atreve, ganha, pensou Al, lembrando do motto da SAS britânica - who dares, wins - presente no emblema deles. Realmente pra sair de lá ileso teria que ter muita ousadia.

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