Doppelgänger - #77 - Onde está Vogl?

1 de dezembro

8h45

Nataku deu uma última conferida na vizinhança. Passou duas vezes na redondeza perto da Alexandra Park Road, mas não viu ninguém que aparentemente representasse uma ameaça. Enfim resolveu bater na porta da tal casa dos Vogl.

Tocou a campainha e aguardou. O dia estava claro e limpo, e Nataku não sabia o que esperar. Ouviu que alguém estava do lado da porta, e viu que essa pessoa derrubou a chave duas vezes, provavelmente tendo dificuldades em colocar a chave no buraco.

Deve ser aquela velhinha. É difícil mesmo depois de uma certa idade, ponderou Nataku.

Porém, quem abriu a porta foi uma linda menininha de pijama.

"Pois não, senhor?", disse a menina.

Nataku ficou perplexo. Mas continuou mesmo assim.

"Ah, bom dia garotinha. Eu posso falar com a sua avó? Diga a ela que eu sou amigo de Sheryl Saunders, com certeza ela conhece", disse Nataku.

A menina pediu um momento e fechou a porta. Depois de mais ou menos uns dois minutos ela voltou e abriu a porta. Nataku entrou na casa.

Era uma casa simples dessas que famílias humildes alugam em Londres. Um sobrado, quartos no andar de cima e no térreo uma cozinha espaçosa junto de sala. O local estava bem quente graças à calefação, Nataku pendurou seu casaco e foi levado pela menina até a sala, onde a velha estava sentada com uma manta sobre as pernas numa poltrona.

"Senhora Vogl?", perguntou Nataku.

"Pode entrar meu jovem", disse a velha.

Nataku sentou no sofá na frente dela. A menina estava na cozinha, aprontando um mingau com torradas pra tomar de café da manhã enquanto a senhora assistia a tevê.

"Senhora, pode me chamar da Nataku. Sou um agente da Inteligência, e estou aqui para fazer umas perguntas, e escoltar a senhora em segurança", disse Nataku.

"Muito prazer. Meu nome é Candice", disse a senhora.

"Pois bem, dona Candice. Antes de começar: tem algum problema a sua neta estar ouvindo essa conversa?", perguntou Nataku.

"Não, não, não se preocupe com ela. Em que posso ajudá-lo, meu jovem? Se deseja roubar alguma coisa, saiba que nós não temos nada. Talvez eu tenha algumas jóias que eu usava quando era uma bela jovem há muito tempo atrás, mas não temos nada de interessante para oferecer. Talvez uns cookies? Venha, Liza, entregue uns cookies de ontem pra esse jovem moço", disse Candice.

A menina prontamente parou tudo e trouxe a bandeja cheia de cookies para Nataku. Foi bem rápido mesmo. Nataku, meio sem jeito, aceitou um.

"Bom, voltando... Temo que a senhora talvez esteja em uma grande enrascada. Homens fortes estão caçando pessoas aí fora, são pessoas com contatos no auto-escalão, todos querendo as informações que a senhora tem. Eu estava até pouco tempo atrás com Sheryl Saunders, mas ela foi assassinada por um inimigo que ainda é muito obscuro até mesmo pra gente", disse Nataku.

A jovem Liza, que lavava a louça, derrubou um copo na pia, fazendo um barulho imenso depois que Nataku terminou sua frase. Já a velha Candice, não expressou nada muito satisfatório.

"Por favor, continue", disse Candice.

"Bem... Sheryl me passou todos os contatos e na verdade eu possuo grande parte das informações que ela como insider tinha compartilhado no grupo. Mas pelos contatos dos outros insiders, eles possuem dois tipos de informações. Como é uma rede de pessoas, grande parte do conhecimento é compartilhado entre os outros membros do grupo, que devem guardar tudo em suas memórias. Essa parte eu adquiri toda, graças à senhora Saunders que me confio o acesso a esse grupo no seu lugar. Mas eles disseram que era pra eu buscar uma pessoa, de sobrenome Vogl, que foi a protetora dessas informações que Vogl tinha. As pessoas compartilham algumas informações com o grupo e outra parte fica com uma pessoa só do grupo, e grande parte das informações vitais ficam com essa única pessoa, no caso, Vogl. E temo dizer isso, mas a senhora corre nesse momento perigo de vida. Pessoas querem silenciar a senhora a qualquer custo, e eu na verdade estou aqui para escoltá-la em segurança para longe daqui", disse Nataku.

"Eu entendo. Mas como deveria confiar em uma pessoa como você? E se você desejar as informações e depois que tê-las cometer um assassinato?", perguntou a velha.

Nataku tomou ar.

"Escuta, sei que realmente não tenho como mostrar que sou confiável. Na verdade, eu mal sei quem eu sou... Trabalho na Inteligência, mas tudo o que eu busco é apenas a verdade. Eu estou no meio de uma batalha entre dois grandes cérebros da investigação mundial, duas ideologias diferentes uma da outra, e pra ser sincero, ambos me deram motivo o suficiente para que eu não confiasse plenamente em nenhum deles", disse Nataku.

"E então...?", questionou a velha.

"Não quero ser apenas uma ferramenta do governo, ou de quem quer que seja. Eu quero buscar não apenas quem eu sou, mas também buscar a verdade no meio de tanta coisa. E parece que quanto mais eu chego ao fundo disso, mais pareço ver uma luz no fim do túnel, uma fagulha de esperança, e a senhora é a minha última esperança em saber o que realmente está acontecendo, para aí sim tomar o lado que preferir nessa batalha", disse Nataku.

"Está trabalhando sozinho no meio dessa guerra toda? Uau. Realmente você parece alguém digno de confiança. Mas eu sinto muito, meu jovem", disse Candice, se erguendo.

Nataku olhou, assustado pra velha. Ela estava andando até a cozinha. Um silêncio sepulcral dominou o local, e Nataku apenas ouvia os seus batimentos cardíacos, que estavam acelerados.

Hã? Sente muito? Mas sente muito porquê? Não vai me dizer que você não é a Vogl?, pensou Nataku.

"Sou apenas uma senhora velha, com a memória ruim, e os olhos danificados pela catarata. Como disse, meu nome é Candice. Candice Murphy", disse a senhora.

Nessa hora Nataku não sabia o que pensar. Só poderia ser a casa errada! Ou pior, o tal Vogl deveria ter sido sequestrado, ou algo do gênero! A pessoa poderia nesse momento já estar nas mãos do Ar. Sua única esperança era aquela senhora, mas ela não era quem ele esperava ser! E ainda assim ela ouviu toda a conversa, e provavelmente agora denunciaria aos policiais e tudo estaria perdido!

Foi aí que a menina, a tal Liza, cruzou a bancada. Ela estava de pantufas rosas, tinha o cabelo loiro, olhos azuis, pele branca. Vestia um avental branco e rosa da Hello Kitty, além de um pijama rosa com bolinhas brancas. Seu cabelo estava amarrado com um laço ricamente adornado. Não parecia ter mais de dez anos.

"Sou eu quem o senhor procura. Meu nome é Eliza Vogl", disse a menininha.

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