Doppelgänger - #78 - Eliza Vogl.

"Isso só pode ser brincadeira!", disse Nataku, se erguendo do sofá depois da menina se apresentar como Eliza Vogl, "E uma brincadeira de muito mal gosto", ele finalizou, encarando a menina.

A pequenina Vogl ficou assustada. Realmente aquilo era inesperado. Nataku pegou suas coisas e foi em direção a saída. Foi aí que a avó da menina o chamou.

"Espera, espera meu jovem. O que a faz pensar que ela não é quem você procura?", disse a avó Candice.

Nataku virou os olhos pra cima. Aquilo devia ser uma piada!

"Ora, e você ainda pergunta?!", disse Nataku elevando a voz, "Olha só pra ela, ela tem dez anos!".

"Na verdade, eu fiz nove esse ano...", disse Vogl, com uma pitada de ironia.

Nataku realmente parecia sem paciência alguma. Mas a velha Candice parecia estar bem tranquila.

"Escuta, escuta... Essa menina é um gênio super-dotado. Se eu te disser que mesmo ela tendo um terço da sua idade já está cursando doutorado em Oxford. Isso sem contar alguns outros cursos que ela vai entrar com pedido de honoris causa, não a menospreze pois por fora ela tem a aparência de uma criança. Lizzy é um gênio que nasceu nessa família, e com certeza é essa pessoa que você procura", disse Candice, se virando a andando em passos lentos.

Ficou um silêncio imenso dominando o local. Nataku ficou encarando a menina. Candice foi andando até o quarto dela, quando ao abrir a porta se virou pra Nataku e disse algo:

"Vou tirar um cochilo, tô com sono. Dê uma chance pra minha neta, tudo bem? Não a julgue por ser uma menina por fora. Por dentro, ela é realmente um gênio, eu garanto isso", disse Candice Murphy antes de entrar e fechar a porta.

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"Quer leite no seu chá?", perguntou Eliza Vogl.

"Não, só limão mesmo", disse Nataku.

"Olha, eu estou tão surpresa quanto você. Realmente receber você é algo inesperado, mas como você contou aquilo tudo sobre a Saunders, não tenho dúvidas que você é quem realmente diz ser. Nós como insiders podemos indicar pessoas pra herdar todos os nossos conhecimentos, e não tenho dúvidas que você é o eleito pela senhora Saunders", disse Vogl.

"Ah, obrigado", disse Nataku, bebendo um pouco do chá, "Mas o sobrenome da sua avó... Murphy? E você é Vogl? Não entendi".

"Ela é minha avó materna. Meu pai era Siegfried Vogl, e morreu quando eu tinha uns sete anos. Minha mãe se casou de novo e pediu pra minha avó me adotar. Meu padrasto não queria crianças, queria apenas minha mãe, e eu fico aqui cuidando da minha avó", disse Vogl.

"Entendi, err... Vogl", disse Nataku, sem saber como chamar a menina.

"Pode me chamar de Liza mesmo, por favor", disse Vogl.

"Tá. Tudo bem, Liza", disse Nataku, ainda não confortável em chamá-la por um apelido.

"A senhora Saunders que tinha conseguido meus estudos e descobriu meus dotes. Ela era uma grande pessoa pra mim. Mas desde que ela havia sido presa na 10 Downing Street eu temia pelo pior dela - que seria alguém tentar tirá-la de lá", disse Vogl.

"É Arthur Blain. Ele parece que tem uma organização secreta que controla o mundo inteiro e todo o flux...", dizia Nataku, quando foi interrompido por Vogl.

"Eu sei quem é Arthur Blain. O que eu não sabia é que tem pessoas querendo parar essa insurreição dele. Você está do lado desses que querem parar Arthur Blain?", perguntou Vogl.

Nataku parou por um momento.

"Não. Eu já estive dos dois lados, mas agora quero buscar apenas a verdade", disse Nataku.

"Bom, se fosse pra silenciar o que eu sei, você já teria me matado faz tempo. Se eu estou viva, minhas informações ainda são de alguma valia pra você. Ao mesmo tempo você diz que não está do lado de quem está contra o Arthur também. Ainda assim faz sentido ter vindo atrás de mim. O que aconteceu com Saunders?", perguntou Vogl.

"Eu trabalhava pra Al, o tio do Ar", disse Nataku, corrigindo, "Quer dizer, esse 'Ar' é 'Arthur Blain'. Esse tal de Al é a única pessoa capaz de parar ele. Só que fui mandado numa missão pra invadir um pedaço desconhecido do bunker de Churchill cujo único acesso era pela 10 Downing Street, onde Saunders estava. Fui enganado, pois não sabiam quem ela era, menos ainda seus segredos. Só que a mensagem foi interceptada pelo Al, que também mandou pessoas, e no final todos foram usados pelo Ar. Só que ao invés de entregar Saunders pra ser morta pelo Ar, ou protegida pelo Al, achei que poderia protegê-la com minhas próprias mãos".

"Entendi. Foi aí que algum agente à paisana do Ar apareceu e matou Saunders?", disse Vogl.

"Exatamente", disse Nataku.

Novamente um silêncio dominou a sala.

"Minhas informações podem levar o Al direto pro Ar. Mas eu morta, levantaria uma muralha intransponível pro Al parar Ar. O Ar não sabe que eu existo, nem nada sobre os Sentado no banheiro, né?".

"Sobre o 'Sat on the Toilet'?", perguntou Nataku, Vogl confirmou com a cabeça, "Não. Eles não tem acesso nenhum. Apenas eu. Eu descobri esses dias, e não passei nenhuma informação, eu juro. Aliás, que nome pra uma organização, viu? Sentado no banheiro?".

"No fundo é isso que somos mesmo. Como pessoas sentadas no toalete ouvindo as pessoas fofocando enquanto estão na pia, lavando as mãos. Somos só um grupo que ninguém deve conhecer ninguém direito, exceto eu que conhecia Saunders, pois era a guardiã das informações dela. Você tentou proteger a senhora Saunders e ela acabou morrendo. Porque acha que comigo pode ser diferente? Acha mesmo que vai conseguir me proteger?", disse Vogl.

"Liza, olhe bem nos meus olhos. Eu estou farto de pessoas morrerem na minha frente. Saunders havia confiado tudo em mim, até mesmo seu acesso como insider nos 'Sat on the toilet'. E sei que os agentes do Ar estão em todos os lugares, inclusive até mesmo na polícia, dos governos, na gerência de grandes empresas, ou até mesmo no exército. Se esse sentimento de não querer ver mais ninguém na minha frente tendo a vida tirada, eu não sei o que mais me serviria como incentivo melhor que esse!", disse Nataku.

Nessa hora, os dois ouviram um barulho vindo do quarto da velha Candice Murphy. Era um barulho de vidro sendo quebrado.

"Vovó?", disse Vogl, se erguendo.

Momentos como esses parecem acontecer em câmera lenta. O coração de Nataku disparou quando ouviu o barulho de vidro. Será que não tinha realmente ninguém o seguindo?

E mesmo se aparentemente não tivesse, como descobrir quem é amigo ou inimigo? Ás vezes uma mulher atravessando a rua, ou o guarda de trânsito no local poderia ser um informante. Muita gente estava no grupo de Ar, e eles pareciam estar bem conectados.

Foi aí que uma explosão foi ouvida no quarto da avó de Vogl. Uma granada jogada no quarto da velha Candice.

"ELIZA! SE ABAIXA!!!", gritou Nataku se jogando em cima da menina, deitando com ela no chão.

Foi talvez um ou dois segundos depois deles tocarem no chão. O som de várias metralhadoras dominaram o local. As balas atravessavam as paredes frágeis de drywall, passando centímetros acima de Nataku e Eliza Vogl, que estavam deitados no chão se protegendo.

Aquilo não era um assalto. Era uma execução.

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