Doppelgänger - #81 - A pureza da resposta das crianças.

10h47

Nataku e a pequena Vogl estacionaram o carro no centro e foram andando a pé.

Com certeza a dona do carro já anunciou que o carro não está lá e os policiais já estão vindo atrás da gente. Melhor ir agora um pouco de transporte público ou a pé, pensou Nataku.

Depois de uns quinze minutos de caminhada foram parar em Leicester Square, uma famosa praça onde o gigantesco e famoso cinema Odeon chamada a atenção pra premiere de "Os Miseráveis", o musical de 2012.

"Eliza, acho que um local com muitas pessoas pode nos ajudar a nos confundir na multidão", disse Nataku.

A menina ainda estava com uma cara péssima.

"Liza, escuta. Você gosta de sorvete? Tem uma filial ali da Häagen-Dazs. Eu pago um sorvete pra você!", disse Nataku.

E, com as mãos dadas com Vogl, Nataku foi até a sorveteria. Pediu três bolas pra menina. Já pra ele, pediu duas com sabor do famoso creme de licor alcoólico, o Baileys.

Talvez isso seja o mais próximo que eu vou conseguir de um porre. Se bem que isso não vai nem me deixar tonto..., pensou Nataku.

Os dois subiram pro andar de cima e começaram a tomar sorvete.

Mas Nataku não conseguia desgrudar os olhos de Vogl.

"Porque você tá me olhando tanto?", perguntou Eliza Vogl.

Nessa hora Nataku parecia ter saído do "transe".

"Ah! Nossa. Desculpa, Liza. Não sei exatamente o motivo... Como eu disse, eu não sei nem mesmo direito quem eu sou. Eu era um agente, mas parece que eu fui caçado, e fiquei à beira da morte. Conseguiram recuperar meu corpo, mas mudaram a minha identidade. Porém eu perdi completamente a minha memória", disse Nataku.

"Nossa. Isso é realmente grave", disse Vogl.

"Sim. Mas ás vezes eu tenho alguns sonhos. Parecem lapsos de lembranças. E eu sempre vejo uma mulher, asiática, grávida. E o filho que ela está carregando é meu. Poderia pensar que isso é algo da minha cabeça, ou um desejo escondido de ser pai, mas esse sonho eu pelo menos uma vez por semana desde que eu me entendo por gente. Não deve ser algo tão trivial. Talvez essa mulher tenha sido uma esposa minha, ou algo assim.", disse Nataku.

Um silêncio tomou conta do local. Eliza Vogl deu duas colheradas no sorvete e depois prosseguiu:

"Você só a vê grávida... Então você não chegou a ver a criança nascer, é isso?", perguntou Vogl.

"Não. Mas, não sei explicar... Eu te olho, e eu quero muito te proteger. Como se eu tivesse perdido uma coisa no passado e não quisesse de forma alguma perder de novo. Não sei quem é essa asiática, muito menos se esse filho está vivo e bem. Eu francamente não tenho a mínima ideia. Mas só a ideia de ver algo acontecer com você, mesmo não tendo nenhum laço sanguíneo comigo, me faz querer realmente te proteger com a minha vida o que eu não consegui proteger no passado", disse Nataku.

Isso parecia ter dado um alívio grande pra Eliza de alguma forma. A pequena Vogl, cujo sorvete estava até derretendo dentro do copinho de isopor, parecia enfim estar se sentindo bem pra tomar o sorvete. Nesse momento, Nataku a vendo feliz daquele jeito sorriu. Ele não precisava mais daquele sorvete de Baileys. Jogou no lixo antes de sair.

Andando de volta em Leicester Square, Vogl viu o famoso "M&M's World". Uma loja imensa onde se vende os famosos confeitos de chocolate, e tem vários brinquedos temáticos.

Ela nunca tinha visto aquilo. Por mais que ela fosse o grande gênio super dotado que fosse, Eliza Vogl nunca teve muito tempo pra brincadeiras. E o tempo que sobrava, ela usava pra cuidar da sua avó, de idade bem avançada. Por mais que aquela loja fosse algo trivial, muitas vezes quando ela passava em Leicester Square com sua avó só tinha a chance de ver as vitrines, mas nunca entrar. Logo, ali com Nataku, ela parecia hipnotizada com aquilo.

"Liza, quer entrar e conhecer o local? Eu também estou bem curioso!", disse Nataku.

Eliza Vogl sorriu nessa hora, olhando pra Nataku. Começou com uns passos tímidos em direção da entrada, mas quando se virou e viu que Nataku estava passando na frente dela, com mais curiosidade ainda do que ela, a menina saiu correndo e entrou na loja como uma verdadeira criança faria.

Aquilo era um sonho pra ela! Todos aqueles brinquedos, pelúcias, doces! Eliza Vogl poderia ser apenas uma criança, mas nunca teve a chance de agir como uma. E naquele momento ela enfim se sentia livre! Comprou dois saquinhos de M&M's coloridos, e mais uma pequena almofada. Era tudo com o pouco de dinheiro de Nataku tinha naquele momento, mas aquilo pra menina era inestimável.

Nataku olhava pro sorriso puro e sincero da menina, os olhos arregalados e todo o sorriso que ela dava ao ver aquilo tudo.

Isso despertou um imenso sentimento paterno em Nataku. Ele sempre quis ser pai. Parecia algo instintivo, algo dentro do coração dele de maneira inerente. E não seria apenas um pai que bota apenas comida em casa. Queria ser um pai pra andar junto com o filho, participar da vida e ser amigo deles. Queria poder brincar com seus filhos e ensinar o pouco que sabia sobre a vida, aconselhar.

Não era apenas um sentimento de proteção com Vogl. Aquela menina estava sozinha no mundo. Seu pai havia morrido, sua mãe havia deixado sua guarda com a avó pra casar de novo e sabe lá deus como era o relacionamento da filha com a mãe. A avó estava morta, e nesse momento a menina estava com a cabeça a prêmio por parte de Ar, que não mediria esforços para matá-la. Mesmo ela sendo uma menininha.

Nataku não queria que isso acontecesse. Embora o sentimento pela menina fosse ainda algo muito recente - questão de apenas horas desde que conhecera Eliza - ele tinha certeza que aquilo tudo era muito puro. E que iria proteger Eliza como se fosse a filha que ele sempre quisera ter.

Os dois saíram de mãos dadas depois de uma meia hora dentro da M&M's World.

"Vamos na Chinatown? É aqui do lado! Eu sempre quis conhecer!", pediu Vogl.

"Sim! Vamos lá!", disse Nataku.

Mas mal eles sabiam que estavam sendo vigiados. E bem de perto...

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