Doppelgänger - #97 - Quando Lucca conheceu o amor.

“Eu não posso continuar em frente, numa nova vida, enquanto eu não tiver certeza de quem eu fui”, disse Lucca.

“L-Lucca...!”, disse Eliza Vogl, com seus olhos lacrimejando, e sorrindo com muito orgulho do que estava vendo.

Eliza Vogl não tinha ninguém naquele momento. Mas aquele homem era como o pai que ela nunca havia tido. E ela queria tanto ter um pai! Sofria muito quando via as amiguinhas da escola indo felizes levando os trabalhos escolares de dia dos pais para seus pais, e ela não podia fazer isso. Talvez o pai a amaria mais do que a mãe que a abandonou. Talvez se o pai nunca tivesse morrido, nada disso teria acontecido também.

“Eliza, eu não sei o nome disso que eu sinto”, disse Lucca, se agachando, olhando firmemente pra Vogl, “Mas eu vou te proteger, nem que eu tenha que sacrificar minha vida! Pois eu quero te ver feliz!”.

Nessa hora Lucca chorou. E Eliza também. E os dois se abraçaram. Para as pessoas ao redor aquilo parecia um emocionante encontro de pai e filha. O coração no peito de Nataku não parava de bater. Talvez a presença de Eliza havia transformado realmente o Nataku, o deus que não havia alma, de volta pra Lucca, o ser humano com sentimentos.

“Sabe qual é o nome disso, Lucca?”, perguntou Eliza Vogl, mergulhada no abraço de Lucca.

“Não. Como se chama?”, perguntou Lucca.

“Isso é... Amor!”, disse Vogl.

“Fique comigo. Confie em mim. E não importa o que eu disser, faça, sim?”, disse Lucca, olhando para Vogl, “Me promete isso?”.

“Prometo!”, disse Eliza Vogl.

Schwartzman olhava aquela cena sem entender direito. Seu coração não tinha empatia suficiente pra ver a beleza daquela cena. Mas ainda assim deu o tempo pros dois conversarem. Eles não teriam escapatória. A noite tingia de escuro toda Londres, e o tempo deles estava chegando ao fim. Um deles iria morrer.

Lucca e Schwartzman estavam se olhando. Ficaram apenas se encarando por alguns segundos. As pessoas ao redor pensavam que aquilo seria algum tipo de flashmob, ou algo do tipo, uma vez que Schwartzman, com suas roupas, parecia qualquer tipo de lunático.

Lucca pegou Eliza pela mão e foram andando.

“Não quero perder tempo com você aqui. Tenho que parar o Ar”, disse Lucca.

Foi aí que Schwartzman apareceu e, totalmente sem jeito, deu um soco nas costas de Lucca, que sentiu o empurrão.

“Eu vou acabar com você agora!”, disse Schwartzman.

Lucca olhou de lado pra ele. Seus olhos ardiam com um fogo de ódio.

“É só isso que você sabe fazer?”, disse Lucca, que deixou Eliza e avançou pra cima de Schwartzman.

Primeiro desferiu um soco potente, atingindo a bochecha esquerda junto do imenso nariz do judeu. Ele ficou simplesmente atordoado, caindo pra trás. Antes mesmo que pudesse cair, Lucca pegou no seu avental (completamente sujo de sangue batido) e puxou pra si, desferindo uma joelhada no seu estômago.

Schwartzman nem mesmo desferiu um único grito de dor. Pra concluir, Lucca desferiu um potente gancho no queixo dele, que quase o fez voar, literalmente. E quando Schwartzman estava caindo ele ainda colocou a mão na cara do judeu e pressionou sua cabeça contra o chão, agressivamente.

Lucca estava arfando. Fazia tempo que não desferia uma sequência tão rápida. A idade estava chegando pra ele também. Mas o que ele não entendia era que mesmo ensanguentado o rosto de Schwartzman pressionado contra o chão permanecia com uma expressão que não cabia para aquele momento.

Schwartzman estava sorrindo.

“Surpresa!!”, gritou Schwartzman, tirando uma injeção e aplicando no braço de Lucca.

Lucca deu um salto pra trás quando sentiu a agulhada. Mas já era tarde. O líquido já estava circulando no seu corpo. Schwartzman levantou calmamente.

“Você nunca vai me fazer sentir um pingo de dor. Ou você acha que eu só usei você como cobaia? Meu corpo é inteiro anestesiado, eu não sinto absolutamente nada. Desenvolvi CIP no meu corpo, e como eu mesmo sou engenheiro biológico, sei cuidar do meu próprio corpo pra não adquirir nenhuma doença, e isso me fez invencível”, disse Schwartzman.

“CIP? Que porra é essa?”, perguntou Lucca.

“A sigla pra Insensibilidade Congênita à Dor. Você pode me bater a vontade, eu não sinto nada. Mas porque estou falando isso pra você? Daqui a alguns minutos você estará morto!”, disse Schwartzman.

“Merda... O que é isso que você injetou em mim?”, disse Lucca.

“Lucca, Lucca, Lucca. Apenas um pai tem o direito de tirar a vida do seu filho. Afinal, fui eu quem te reviveu, mesmo que eu não seja seu pai biológico. Você foi um filho malvado, que não quis ficar do lado de quem te criou com tanto carinho e te deixou do jeito que você está hoje. Logo você estará morto, Eliza Vogl virá comigo, e sinceramente não dou a mínima pro fato de você estar morto, afinal os estudos pra te tornar o que você é estão comigo, é só pegar outra carcaça e criar novos Nataku. Será que consegue entender o que injetei em você?”, disse Schwartzman.

Lucca olhava para a seringa no chão. Ainda tinha metade dela preenchida por um líquido esbranquiçado, parecendo leite.

“Parece um leite...”, disse Nataku.

“É uma mistura do leite da amnésia, o famoso diprivan, ou propofol que preferir, com uma droga que inventei, o MMPH-1. Ataca o sistema nervoso, como um veneno de cobra, mas é totalmente sintético. Você vai dormir, pra depois nunca mais acordar. Nem vai sentir nada. Dei o nome de uma música que gosto muito do Elton John. Sacrifice, o sacrifício”, disse Schwartzman.

Nessa hora Lucca olhou pra Eliza. Ela deveria ser salva a todo custo!

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