Doppelgänger - #116 - O amor está morto.
Victoire suava. Seus olhos estavam arregalados, ela parecia uma animal acuado com as garras prontas para atacar. Ratos mordem gatos quando sabem que vão morrer. Era o que parecia Victoire, com a arma, apontada para os dois Al que estavam na sua frente.
“Calma, Vicky, abaixa essa arma, vamos, devagar”, disse o Al que estava abraçado com ela, se aproximando da francesa.
“Sai daqui! Nem um passo mais pra frente!”, disse Victoire, apontando a arma pra ele.
“Vicky, sou eu. Nós fizemos amor há pouco! Isso tudo foi planejado por mim. Eu vim aqui pra buscar esse impostor”, disse o Al que estava abraçado com ela, apontando pro outro Al, do outro lado.
Do outro lado, o outro Al, o que havia chegado depois jogou no seu dispenser de cigarro a bituca do cigarro que havia fumado. E calmamente pegou outro e colocou na boca, acendendo-o.
“Vem cá, me dá essa arma. Você vai machucar alguém”, disse o Al que estava abraçado com ela.
Victoire permanecia assustada e acuada. O Al que estava abraçado com ela era bem amável, mas o outro ficava ali parado, olhando com desdém pra ela, fumando outro cigarro.
“E você aí? Não vai dizer nada? Ele tá dizendo que você é o farsante!”, gritou Victoire, apontando a arma pro outro Al.
O outro Al olhou tranquilamente pra Victoire, mesmo com ela apontando a arma pra ele. Deu uma tragada e soltou a fumaça pelo nariz. E mostrava o prazer único que era tragar um cigarro. Nicotina realmente o acalmava.
“Já acabou o seu showzinho, Victoire?”, disse o outro Al, fumando, “Não dou a mínima pro que você for fazer com essa arma, apenas saia do meu caminho, que eu tenho que parar o Ar. Não seja um empecilho”.
Victoire estava desiludida. E naquele momento começou uma guerra imensa entre seu coração e sua razão. De um lado estava o Al que ela sempre sonhou, o que a havia abraçado, o que havia dito que queria fugir e ser feliz com ela, o que havia acabado de fazer amor com ela, minutos atrás.
Do outro lado estava o outro Al. Frio, distante, focado na missão. Ela olhava, mas por mais que ela tentasse não acreditar na dura verdade que estava sendo esfregada na cara dela. Victoire era uma pessoa que se iludia com o amor. Uma pessoa que acreditava que as pessoas realmente poderiam se amar. Uma pessoa que acreditou sempre que o amor poderia mudar as pessoas.
Mas naquele momento ela viu que aquilo era o mundo real. Aquilo não era um daqueles filmes que ela tanto gostava.
E na vida real não existe amor. Pessoas hoje em dia vivem numa sociedade líquida, pessoas são tão mesquinhas e individuais que acham que vivem seu próprio filme, que vale a pena correr atrás da pessoa até o fim do mundo, e não se permitem ser conquistadas mais. Não se permitem tomar um desvio no caminho e apostar numa pessoa que fuja daquela idealização que sempre têm. Pessoas são carentes, e dentro dessa carência apenas sonham, se masturbam, ficam calados.
Amor é uma utopia. Não existe hoje em dia. E naquele momento, vendo o outro Al, ela vira que infelizmente o Al que ela sempre sonhou jamais seria um cavaleiro que viria salvá-la montado em um cavalo branco. Não foi por isso que ele colocou aquele rastreador no celular dela. Ele colocou aquele rastreador pela missão. Pois sabia que ela iria se render ao Al que ela sempre idealizou.
Mas o coração, ah, o coração. É sempre ingênuo.
E mesmo que a verdade esteja sendo esfregada na nossa cara, mesmo que nós tenhamos uma raiva incontrolável de quem tenta abrir nossos olhos, nós acabamos só sabendo apontar o dedo e criticar a pessoa. Talvez o amor não seria uma utopia se as pessoas não fossem tão mesquinhas. Talvez o amor existiria se as pessoas tivesse abertura nos seus corações para darem chances para aqueles que eles não sonham. Talvez o amor não seria uma coisa distante se as pessoas soubessem diferenciar a ficção que veem em filmes da dura realidade do mundo.
A realidade de que o amor não é pra sempre. E tampouco o amor existe. O que existem são escolhas. Pois enquanto o ser humano não corta essa individualidade idiota dos tempos contemporâneos, jamais vai conseguir amar pessoas, e pessoas legais passarão pelo seu retrovisor e jamais conseguirão dar uma chance ao novo, pois vivem um amor preso no passado.
E enquanto Victoire refletia isso, ela olhava pro outro Al. E sequer percebeu que o Al que a havia abraçado estava do seu lado, havia se aproximado devagar, enquanto ela estava divagando sobre o amor.
“Vicky, baixa essa arma”, disse o Al que estava abraçado com ela, “Vamos, vai, dá ela pra mim, vai... Por favor”.
O coração de Victoire estava a mil. Ela poderia ser uma mulher forte, capaz de derrubar homens com o dobro do tamanho dela, mas naquele momento ela mostrava a maturidade de relacionamentos de treze anos de idade que ela tinha. Não era algo que ela tinha desenvolvido. E por mais que na sua frente estivesse o outro Al, o verdadeiro, fumando e a encarando com frieza, ela, não como mulher, mas como ser humano, se rendeu ao seu coração.
E baixou a arma.
“Isso. Agora calma... Dá ela pra mim. Você não está bem”, disse o Al que estava abraçado com ela.
Victoire, com os olhos marejados simplesmente obedeceu. E entregou a arma dela ao Al que estava abraçado com ela. Era o coração, né? Talvez naquele momento poderia ter uma reviravolta. Uma pessoa apaixonada acredita, mesmo cega, dá duas, três, quatro, milhões de chances esperando que a outra pessoa enfim receba seu coração.
Mas isso não era um filme. Isso não teria o final feliz com o casal se beijando. O amor só existe na ficção. Por isso pessoas praticam essa auto-ilusão. Pessoas acreditam que tal coisa possa existir no mundo real, mas ao aplicarem esse sentimento na vida real descobrem que o amor é algo que ninguém sabe direito o que é. Que ninguém está disposto a amar alguém que não amavam antes. Ninguém quer deixar de idealizar alguém, mesmo que do outro lado tenha uma pessoa que talvez seja sua alma gêmea. Mesmo que essa pessoa que amam antes sequer deem a mínima para essa pessoa. O amor morreu há muito tempo.
“Isso. Boa garota”, disse o Al que estava abraçado com ela.
O outro Al não acreditou no que estava vendo. No final das contas Victoire se rendeu ao seu sentimento e entregou a arma pro Al que ela acreditava ser o verdadeiro, o Al que ela havia idealizado, que obviamente, era o Ar.
“Hora de fechar o bar, meu irmão!”, disse o Al que estava abraçado com Victoire, tirando a peruca e revelando seu cabelo raspado e preto, “Um último pedido?”.
Ar pegou a arma e apontou na cabeça de Victoire.
“Calma, Vicky, abaixa essa arma, vamos, devagar”, disse o Al que estava abraçado com ela, se aproximando da francesa.
“Sai daqui! Nem um passo mais pra frente!”, disse Victoire, apontando a arma pra ele.
“Vicky, sou eu. Nós fizemos amor há pouco! Isso tudo foi planejado por mim. Eu vim aqui pra buscar esse impostor”, disse o Al que estava abraçado com ela, apontando pro outro Al, do outro lado.
Do outro lado, o outro Al, o que havia chegado depois jogou no seu dispenser de cigarro a bituca do cigarro que havia fumado. E calmamente pegou outro e colocou na boca, acendendo-o.
“Vem cá, me dá essa arma. Você vai machucar alguém”, disse o Al que estava abraçado com ela.
Victoire permanecia assustada e acuada. O Al que estava abraçado com ela era bem amável, mas o outro ficava ali parado, olhando com desdém pra ela, fumando outro cigarro.
“E você aí? Não vai dizer nada? Ele tá dizendo que você é o farsante!”, gritou Victoire, apontando a arma pro outro Al.
O outro Al olhou tranquilamente pra Victoire, mesmo com ela apontando a arma pra ele. Deu uma tragada e soltou a fumaça pelo nariz. E mostrava o prazer único que era tragar um cigarro. Nicotina realmente o acalmava.
“Já acabou o seu showzinho, Victoire?”, disse o outro Al, fumando, “Não dou a mínima pro que você for fazer com essa arma, apenas saia do meu caminho, que eu tenho que parar o Ar. Não seja um empecilho”.
Victoire estava desiludida. E naquele momento começou uma guerra imensa entre seu coração e sua razão. De um lado estava o Al que ela sempre sonhou, o que a havia abraçado, o que havia dito que queria fugir e ser feliz com ela, o que havia acabado de fazer amor com ela, minutos atrás.
Do outro lado estava o outro Al. Frio, distante, focado na missão. Ela olhava, mas por mais que ela tentasse não acreditar na dura verdade que estava sendo esfregada na cara dela. Victoire era uma pessoa que se iludia com o amor. Uma pessoa que acreditava que as pessoas realmente poderiam se amar. Uma pessoa que acreditou sempre que o amor poderia mudar as pessoas.
Mas naquele momento ela viu que aquilo era o mundo real. Aquilo não era um daqueles filmes que ela tanto gostava.
E na vida real não existe amor. Pessoas hoje em dia vivem numa sociedade líquida, pessoas são tão mesquinhas e individuais que acham que vivem seu próprio filme, que vale a pena correr atrás da pessoa até o fim do mundo, e não se permitem ser conquistadas mais. Não se permitem tomar um desvio no caminho e apostar numa pessoa que fuja daquela idealização que sempre têm. Pessoas são carentes, e dentro dessa carência apenas sonham, se masturbam, ficam calados.
Amor é uma utopia. Não existe hoje em dia. E naquele momento, vendo o outro Al, ela vira que infelizmente o Al que ela sempre sonhou jamais seria um cavaleiro que viria salvá-la montado em um cavalo branco. Não foi por isso que ele colocou aquele rastreador no celular dela. Ele colocou aquele rastreador pela missão. Pois sabia que ela iria se render ao Al que ela sempre idealizou.
Mas o coração, ah, o coração. É sempre ingênuo.
E mesmo que a verdade esteja sendo esfregada na nossa cara, mesmo que nós tenhamos uma raiva incontrolável de quem tenta abrir nossos olhos, nós acabamos só sabendo apontar o dedo e criticar a pessoa. Talvez o amor não seria uma utopia se as pessoas não fossem tão mesquinhas. Talvez o amor existiria se as pessoas tivesse abertura nos seus corações para darem chances para aqueles que eles não sonham. Talvez o amor não seria uma coisa distante se as pessoas soubessem diferenciar a ficção que veem em filmes da dura realidade do mundo.
A realidade de que o amor não é pra sempre. E tampouco o amor existe. O que existem são escolhas. Pois enquanto o ser humano não corta essa individualidade idiota dos tempos contemporâneos, jamais vai conseguir amar pessoas, e pessoas legais passarão pelo seu retrovisor e jamais conseguirão dar uma chance ao novo, pois vivem um amor preso no passado.
E enquanto Victoire refletia isso, ela olhava pro outro Al. E sequer percebeu que o Al que a havia abraçado estava do seu lado, havia se aproximado devagar, enquanto ela estava divagando sobre o amor.
“Vicky, baixa essa arma”, disse o Al que estava abraçado com ela, “Vamos, vai, dá ela pra mim, vai... Por favor”.
O coração de Victoire estava a mil. Ela poderia ser uma mulher forte, capaz de derrubar homens com o dobro do tamanho dela, mas naquele momento ela mostrava a maturidade de relacionamentos de treze anos de idade que ela tinha. Não era algo que ela tinha desenvolvido. E por mais que na sua frente estivesse o outro Al, o verdadeiro, fumando e a encarando com frieza, ela, não como mulher, mas como ser humano, se rendeu ao seu coração.
E baixou a arma.
“Isso. Agora calma... Dá ela pra mim. Você não está bem”, disse o Al que estava abraçado com ela.
Victoire, com os olhos marejados simplesmente obedeceu. E entregou a arma dela ao Al que estava abraçado com ela. Era o coração, né? Talvez naquele momento poderia ter uma reviravolta. Uma pessoa apaixonada acredita, mesmo cega, dá duas, três, quatro, milhões de chances esperando que a outra pessoa enfim receba seu coração.
Mas isso não era um filme. Isso não teria o final feliz com o casal se beijando. O amor só existe na ficção. Por isso pessoas praticam essa auto-ilusão. Pessoas acreditam que tal coisa possa existir no mundo real, mas ao aplicarem esse sentimento na vida real descobrem que o amor é algo que ninguém sabe direito o que é. Que ninguém está disposto a amar alguém que não amavam antes. Ninguém quer deixar de idealizar alguém, mesmo que do outro lado tenha uma pessoa que talvez seja sua alma gêmea. Mesmo que essa pessoa que amam antes sequer deem a mínima para essa pessoa. O amor morreu há muito tempo.
“Isso. Boa garota”, disse o Al que estava abraçado com ela.
O outro Al não acreditou no que estava vendo. No final das contas Victoire se rendeu ao seu sentimento e entregou a arma pro Al que ela acreditava ser o verdadeiro, o Al que ela havia idealizado, que obviamente, era o Ar.
“Hora de fechar o bar, meu irmão!”, disse o Al que estava abraçado com Victoire, tirando a peruca e revelando seu cabelo raspado e preto, “Um último pedido?”.
Ar pegou a arma e apontou na cabeça de Victoire.
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