Doppelgänger - #140 - Subjugation.

Era difícil ver alguma coisa naquele momento. Tudo estava embaçado, as pupilas ainda estavam se acostumando com aquela claridade toda. O fogo azul tingia a sala deixando um ar sobrenatural.

Mas o mais questionador era o vulto que estava caminhando. Andava a passos lentos, calmos, vindo lentamente em direção dos dois. Eram poucos metros, e a cada segundo que passava estava chegando mais e mais perto. Aos poucos as feições iam tornando-se mais e mais nítidas.

“Quem diabos é você?!”, gritou Ar, dando uns passos pra trás, com a arma em punhos.

Foi nessa hora que um cheiro subiu no ar. Era inconfundível. Era aquele cheiro de perfume de sândalo e lavanda. Mais alguns passos e o rosto ia se tornando mais e mais nítido contra a luz. A barba de bode embaixo do queixo, um dos olhos brancos sem pupila, a roupa de espionagem preta. Al não tinha como se confundir.

“Mano...!”, gritou Al, olhando pra Arch.

Arch olhou pros dois, mas permaneceu sem dizer uma única palavra. Seu rosto estava sério. Arch era o mais alto de todos, no alto dos seus 1,95m. Al era o segundo, com 1,85 e Ar era o mais baixo, com 1,78m. Mas ainda assim todos eram bem altos, bem acima da média britânica.

“O quê?”, disse Ar, ao ouvir Al chamando pelo seu irmão mais velho, “Sim... Tem algo em comum. Essas feições, estão bem mais envelhecidas, cabelo e barba brancos, esse olho faltando, está bem diferente. Mas sim, dá pra ver uma semelhança. Não acredito que seja você mesmo, justo aqui!”, Ar sorria, com um tom de vitória, subjugando Al.

Arch virou seu olhar pra Ar. Seu rosto ainda permanecia sério, sem expressar emoção alguma.

O ferimento de bala de Al estava cada vez mais doendo. Ele estava perdendo muito sangue, era difícil se manter acordado naquela situação. Além da dor. Ele não sabia onde a bala havia acertado exatamente, e ainda estava deitado no chão, virando seu rosto pra frente observando tudo. Tentou usar suas forças pra tentar ficar pelo menos em posição pra engatinhar, mas cada vez mais doía.

Al tinha medo. Ar estava armado, e sequer havia conhecido o seu pai. O desespero bateu nele novamente. O receio de perder mais uma vez seu irmão fazia seu coração pulsar. Ar seria capaz de atirar em Arch, e Al mal conseguia engatinhar no chão! Sequer se erguer pra defender seu irmão que tanto ama!

Já Ar e Arch ficavam se olhando. Arch ficou apenas sério, mantendo o contato visual nos olhos, mas Ar não acreditava no que estava vendo. Ele realmente estava vivo! Isso era algo inexplicável!

“Puxa, isso é... Inacreditável. Eu nunca te conheci, mas eu sempre admirei você. E sei da sua vontade, de criar um mundo onde todas as pessoas pudessem ser livres, sem governos, sem autoridades, onde todos se ajudariam e criariam um mundo perfeito, sem guerras, nem nada. E você apareceu justo agora, pra ver o triunfo do seu sonho, Arch!”, disse Ar.

“Mano... Arghh!!!!”, disse Al, caindo depois de engatinhar poucos centímetros, gritando de dor. Aquilo era insuportável.

“Sim! Olha só pra ele, Arch!”, disse Ar, apontando pra Al, “Essa é a face da derrota. Ele tentou ir contra os nossos planos! Ele tentou ser o empecilho do mundo perfeito que você havia idealizado! Vamos, pegue minha arma...”, disse Ar, oferecendo a arma pra Arch, “...Vou deixar que dê o tiro de misericórdia nesse traidor! Ele queria acabar com o mundo que você morreu tentando criar! Esse idiota merece a morte!”.

Al observava aquilo, ainda caído no chão. Na sua cabeça tinha várias dúvidas. Ainda era difícil de acreditar que estava vendo novamente seu irmão em tão pouco tempo. Será que Arch veio mesmo pra dar o ponto final nessa guerra indo pro lado de Ar? Ou será que Arch veria que mesmo que Ar estivesse lutando pelos seus ideais, estava na verdade criando um caos mundial irremediável a partir daquele ano de 2012?

Arch pegou a arma de Ar. O coração de Al disparou. Parecia que era o fim mesmo.

Sua visão estava cada vez mais embaçada. Ainda de joelhos, engatinhando, acabou caindo em cima do ombro e ficando não mais de bruços, e sim com o dorso virado pra cima. Sua respiração era ofegante, a dor parecia dominar cada milímetro do corpo. O sangue estava deixando tudo grudento em seu corpo, tingido de vermelho. Mas não queria deixar de ver o seu irmão. E usou suas forças pra esticar o pescoço e olhar pra Arch uma última vez.

Mas o que aconteceu foi algo inesperado. Arch pegou a arma, ficou uns instantes fitando-a, e depois a jogou pro lado, nas chamas. Avançou três passos em direção de Ar, ficando na sua frente. Parecia alguém... Imponente!

“Mas... O quê?”, disse Ar, não entendendo nada do que estava acontecendo.

E Arch, sem falar uma única palavra colocou sua mão no pescoço de Ar e o apertou. Ar estava se debatendo, mas não conseguia fazer nada, Arch parecia muito forte. Muito forte do que qualquer outro que ele havia lutado. E a sua mão no seu pescoço era firme e forte, apertando com muita força.

E então Arch simplesmente ergueu Ar pelo pescoço em pleno ar. Parecia alguém subjugando uma fera, dominando, erguendo a presa prestes a ser abatida. Aquilo era inexplicável! Ar tentava de debater, sair daquilo, mas simplesmente não conseguia. Aos poucos os seus movimentos foram ficando mais e mais lentos até que começaram a parar.

Aquela cena ficou gravada na mente de Al. E segundos depois de ver Ar sendo erguido pelo pescoço por Arch, ele simplesmente apagou, perdendo os sentidos.

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Do lado de fora da Bolsa de Valores londrina, carros do exército apareceram trazendo homens da SAS para parar os membros da Yard que estavam ali dando suporte pra insurreição de Ar. Todos eles foram sumariamente presos, por obstrução da justiça, traição ao estado.

Aurora Watson estava junto dos membros da SAS e foi pessoalmente até o furgão onde Natalya Briegel e Bose estavam sendo mantidos. Os libertou, enquanto dava voz de prisão para todos aqueles policiais corruptos que estavam ao lado de Ar.

No University College Hospital homens da SAS entraram também, prendendo membros do próprio exército que estavam haviam desertado pra insurreição de Ar – pelo menos os que não foram abatidos por Agatha enquanto defendia Lucca, Ravena e Sara naquele local.

Bombeiros chegaram na Bolsa de Valores, e com a ajuda dos membros da SAS entraram no local. Neige, Eliza Vogl, Victoire e Olivia Carrion foram resgatados, e as última tiveram os primeiros socorros prestados ainda no local, na rua.

David Frost ouvia assessores e a secretaria pessoal do Primeiro Ministro inglês implorando pra que nada daquilo fosse divulgado. Era madrugada ainda, tudo ali seria acobertado da mídia, e com a força de Aurora Watson os que haviam cometido crimes sofreriam as duras penas da lei.

Al e Ar foram encontrados inconscientes, no mesmo local onde estavam.

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