Amber #5 - Próxima parada: Munique.

19 de abril de 1937

“Ei, acorda logo Schultz, vamos logo! Já são 6h10!!”, disse Briegel, entrando no apartamento de Schultz.

Schultz não tinha uma casa confortável como Briegel no campo, nos arredores de Berlim. Como gastava todo seu dinheiro com mulheres e jogos, a única coisa que ele conseguia pagar mesmo era um quarto num prédio vagabundo perto do trabalho. Na sua cama estavam duas garotas, bem novas, que estavam nuas na cama ao lado dele. Ao verem Briegel entrando no quarto, as garotas e Briegel se assustaram.

“Minha nossa, Schultz, de novo não!”, disse Briegel, virando o rosto. As garotas se ergueram da cama, tampando os seus seios com as mãos e pegando as roupas no chão, “Me perdoem, eu não sabia que ele… SCHULTZ!!!”.

“Hã? Que foi? Que horas são?”, perguntou Schultz, com uma baita ressaca.

“Vamos logo, temos que pegar o trem! Será que eu tenho que vir te buscar como se fosse sua mãe toda vez, é?”, disse Briegel, nessa hora Schultz se levantou, e estava completamente pelado. Briegel virou o rosto, morrendo de vergonha de ver aquela cena tórrida, “Coloca uma cueca pelo menos, Schultz!”

“Tá bom, tá bom. Mas vê se vira a Alice vira pro outro lado, ela pode gostar do que tá vendo, hahaha!”, brincou Schultz.

Alice Briegel, que não estava entendendo nada, entrou no quarto e se assustou quando viu seu tio completamente pelado.

“Alice, filha, vira pra lá!”, disse Briegel, virando sua filha.

“Ah, tudo bem, papai!”, brincou Alice, rindo.

“Até parece que ela nunca viu isso, Coronel. Ela já é mulher, já tem trinta anos, e você tem que parar de tratar ela como uma criança! Mas o que mais me intriga é…”, nessa hora Schultz pausou pra dar um drama maior na sua fala, “O que raios ela tá fazendo aqui?”.

Briegel, ainda de costas pra Schultz, respondeu:

“Vou levar ela comigo pra Munique. Ela ainda tá gripada, assim vou poder tomar conta melhor dela”, disse Briegel.

“Ei, já disse pra não tratar ela como criança!”, disse Schultz, já de calças, virando Briegel. Briegel se assustou pensando que Schultz ainda estivesse nu, mas vendo que seu amigo estava com roupas já tratou de apressar e ajudar ele a arrumar suas coisas.

“Eu não ligo, tio! Meu pai é assim. É a forma que ele achou de mostrar que se preocupa e ama sua filha”, disse Alice, com ternura.

Briegel ao ouvir isso sorriu. Não era uma pessoa de sorrir muito, era sempre sério, mas quando ouvia uma palavra cheia de ternura da sua filha rapidamente ficava vermelho e seus olhos lacrimejavam. Ele nunca se arrependeu de ter salvo, ou de ter criado sua filha com todo o carinho que ela merecia. Mas eram momentos assim que enchiam ainda mais seu coração de amor por Alice. Momentos de ternura que o derretia todo!

“Tá certo então! Bom, quem será nosso contato lá em Munique? O do oclinhos passou pra você?”, perguntou Schultz enquando abotoava a camisa.

“Sim. É um oficial nazista. Não é de alta patente, mas vamos aproveitar sua discrição. Seu nome é…”, disse Briegel, pegando o papel e checando novamente o seu nome, “Lars. Lars Sundermann. Ele estará nos aguardando com seu auxiliar, Izaak Goldberger”.

“Auxiliar? Que viadice do caralho! Um deve estar pegando o outro, com certeza!”, disse Schultz, pegando seu sobretudo no baú.

“Larga de besteira e penteia esse cabelo, vai! Vamos logo! O trem vai sair logo!”, mandou Briegel.

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16h43

Briegel, Alice e Schultz chegaram sem problemas a Munique. Desceram do trem e foram logo em direção ao saguão.

“Puxa, porque vocês me acordaram ás seis se o trem só saiu ás oito? Eu poderia ter dormido um pouquinho. Daria dado até tempo de dar umazinha naquelas meninas de novo de manhã, sabia?”, queixou Schultz.

Alice deu risada, Briegel fingiu que não ouviu, como se já conhecesse as ladainhas que o amigo falava.

“Elas não eram garotas de programas, não é tio?”, perguntou Alice. Briegel estava na frente, procurando o local onde Sundermann estaria o esperando.

“Não! Eu tenho uma lábia boa também, é bom poder praticar a pegação!”, disse Schultz.

“Melhor o senhor tomar cuidado, tio. Pode engravidar uma aí sem querer!”, disse Alice.

“Nada! Eu sou esperto. Fiz vasectomia. Aí posso fazer o quanto quiser, não preciso me preocupar em tirar o pinto fora antes de gozar. E se eu vou num prostíbulo eu tomo uns antibióticos antes e tá tudo bem!”, disse Schultz, fazendo um sinal de ‘beleza!’ com a mão, “Gonorréia nunca mais!”.

Isso é um bocado perigoso não? Ah, deixa pra lá, hahaha!, pensou Alice, sorrindo.

“Cadê o papai?”, perguntou Alice, que perdeu de vista Briegel que foi na frente. Quando ela esticou o pescoço o viu na frente, indo em direção da saída onde havia um oficial fardado alemão, “Ali! Vamos, tio!”.

“Sundermann?”, perguntou Briegel.

“Coronel Briegel?”, confirmou Sundermann. Briegel balançou positivamente a cabeça, “Minha nossa, é uma honra conhecer uma lenda como o senhor! Muitíssimo prazer! Eu sou Lars Sundermann, oficial do Führer, e esse é o meu auxiliar, Izaak Goldberg. Minha nossa, como eu pude me esquecer? Melhor saudar do jeito correto...”.

Nessa hora Lars ergueu o braço direito com a palma para baixo, e fez a saudação nazista do “Heil, Hitler”.

Briegel não fez o gesto. Na verdade fez até um sinal pra que ele relaxasse, que não havia a necessidade de cerimônias. Já Schultz sussurrou pra Alice baixinho:

“Puxa, parece que vamos trabalhar com mais um cãozinho do Hitler”. Alice deu um risinho discreto no meio da tosse da gripe.

“Esqueci de apresentá-los. Essa é Alice, minha filha, e Schultz, meu auxiliar”, disse Briegel, dando um riso ligeiramente cínico pra Schultz.

“Eu, auxiliar? Cai fora!”, disse Schultz, tirando sarro de Briegel, “Sou eu quem manda aqui na verdade, sabe?”.

Sundermann cumprimentou Schultz, mas fingiu que não viu Alice. Depois voltou pra frente de Briegel, mas continuava encarando Alice dos pés à cabeça, como se ela tivesse algo errado por ser negra.

“Vou ajuda-los com sua bagagem. Reservei o melhor hotel da região para vocês. Estou honrado de trabalhar ao lado de duas lendas da SD pra ajudarmos nosso Führer a chegar a mais uma conquista!”, disse Sundermann.

Sundermann e Goldberg foram na frente com as malas com Briegel os acompanhando de perto. No final estavam Alice e Schultz atrás deles, só observando tudo.

“É, essa será uma longa missão com esses fanáticos aí…”, lamentou Schultz para Alice.

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