Amber #9 - O ser prateado.

Abner Sarkin estava com mais outros dois traficantes terminando de encher mais um baú de um caminhão de armas. O edifício era alto, parecia um armazém de uma fazenda, mas sem nenhum produto agrícola, apenas com caixas e mais caixas de armamento traficado. Sarkin parecia impaciente. Provavelmente querendo levar ao destino final logo todas as armas antes que fosse pego. Quando se virou pra pegar mais uma caixa com um dos assistentes, ouviu um tiro e viu que uma bala acertou a perna do que capanga que o aguardava dentro do baú do caminhão, fazendo-o cair no chão, gritando.

“Parado aí mesmo, Abner Sarkin”, disse Briegel, se aproveitando do elemento surpresa, apontando a arma e rendendo Sarkin, “Você, o assistente, largue a caixa e saia por ali. Agora!!”.

Na hora que o assistente saiu do local, foi nocauteado por Sundermann, que o aguardava ali depois de ter junto de Goldberg derrubado os dois guardas que faziam ronda ali.

“Você... Eu sei quem é você”, disse Sarkin, “Eu sei exatamente quem chega e quem sai dessa cidade, eu tenho olhos em todos os lados”.

Briegel mostrou um par de algemas.

“Abner Sarkin, você está preso por tráfico de armas. Se resistir a prisão, serei obrigado a puxar esse gatilho aqui mesmo”, disse Briegel.

Mas Sarkin, embora mostrasse estar tenso, não conseguia parar de sorrir. Ele tinha uma cicatriz grande que cruzava seu olho esquerdo, que não abria totalmente. Tinha cabelo bem baixo, e um corpo forte, musculoso. Vestia uma camisa vermelha surrada e um sobretudo de pele, bem encardido. Tinha cheiro de quem havia bebido muito. Seus olhos eram vermelhos e ele parecia babar.

“É bom que você não me mate. Eu sei que você quer saber onde estão os engenheiros que sequestrei”, disse Sarkin.

Schultz estava na surdina. Foi ele quem atirou de longe, acertando o capanga dentro do baú do caminhão. Não era preciso ele aparecer ainda, e caso algo acontecesse, Schultz estava perto de Briegel e poderia defendê-lo ou alertar ele de algo. Mas Sarkin ainda não o havia visto, e o judeu não sabia que haviam ainda Sundermann e Goldberg lá fora, de tocaia.

“Diga logo então, onde eles estão?”, perguntou Briegel, calmo.

Sarkin deu um riso, e de súbito o grande portão foi fechado, cortando grande parte da luz do dia que vinha por ali. Era um dia nublado em Munique, estava difícil enxergar qualquer coisa. Agora a luz que iluminava fracamente o local vinha apenas de umas pequenas janelas do topo do edifício. Briegel e Schultz ouviram um som de algo se movendo acima deles. Indo e voltando dos lados, tocando na madeira, e parecia voar de um lado pro outro.

Merda, o que é isso?!, pensou Briegel, tentando olhar pra cima, mas com medo disso o distrair e ele perder Sarkin de vista.

Sarkin deu mais um riso alto.

“HAHAHA!”, riu Sarkin, “Os engenheiros são realmente tão preciosos pra você, coronel Briegel?”, disse Sarkin. Briegel continuou de olho em Sarkin sem dizer nada, apontando a arma pra ele, mas os olhos estavam demorando a se acostumar com aquela escuridão, e Sarkin estava cada vez mais lentamente indo pra trás, “E o que você faria se perdesse alguém que fosse realmente precioso pra ti? Você iria até o inferno atrás dessa pessoa?”.

Nessa hora Briegel ouviu um grito de Schultz, e um som forte de pancada, como se ele tivesse levado um forte golpe, caindo cambaleante atrás dele. Briegel não escondeu a preocupação e virou seu rosto pra gritar pelo seu amigo.

“Schultz?! Você está bem?!”, gritou Briegel, fitando Schultz. Quando ele virou de volta, Sarkin havia sumido.

O caminhão! Ele deve ter entrado no caminhão!, pensou rápido Briegel, que decidiu correr até lá.

Mas naquela escuridão ele viu algo. Não parecia uma pessoa. Parecia uma “coisa”. Tinha uma espécie de armadura que reluzia prateada, e andava de um jeito esquisito, como se fosse um animal. Briegel começou a disparar, e entre os flashes da arma via algo, mas ainda assim era algo indescritível. A coisa caminhava ao seu encontro e as balas simplesmente ricocheteavam ao tocar no corpo prateado.

“Meu deus! Impossível!”, disse Briegel a si mesmo.

E então o ser prateado aplicou um potente chute no rosto de Briegel, lançando-o ao chão, com a queda amortecida por um monte de capim seco ali. O chute não havia pego em cheio, mas a ponta que o acertou foi como um golpe certeiro com toda a força. A dor era intensa, e Briegel lutava pra tentar acordar. Seus olhos simplesmente não abriam, e ele sentia como se sua cabeça pulsasse de dor. Estava realmente difícil de achar onde estava. Enquanto o ouvido era dominado pelo zumbido, conseguiu ouvir que o caminhão estava sendo ligado e o portão aberto. Sarkin estava fugindo. Quando Briegel conseguiu abrir os olhos viu que havia uma identificação naquele caminhão. B-147. Não conseguia se levantar ainda por conta da dor e a potência do golpe, mas ficou sussurrando pra si mesmo “B-147” pra não esquecer.

“Coronel, coronel!”, disse Schultz, ao se aproximar do amigo. Tiros eram ouvidos ao fundo. Provavelmente eram Sundermann e Goldberg tentando parar Sarkin, “Você tá bem? Vamos, acorda!”

Briegel começou a recobrar seu controle.

“Caralho, o que era aquilo? Nossa, me deu um soco no meu estômago, e nossa, sua cara tá toda vermelha! Acho que vai ficar roxo isso!”, disse Schultz, que ainda cuspia um pouco de sangue, “Nossa, parecia, sei lá, aquela força não era humana. O que raios era aquilo?”.

“B-147… B-147”, dizia Briegel pra si mesmo, se erguendo, “B-147”.

Schultz viu e entendeu que aquilo era o que estava escrito como identificação no baú do caminhão. Sundermann e Goldberg entraram correndo e foram amparar Briegel que estava caminhando com dificuldade.

“Sundermann, comunique à polícia. Preciso que encontrem esse caminhão. Estava escrito um grande B-147 nele. Precisamos ir pegar Sarkin. Ele sabia de nós”, disse Briegel, que ainda falava pausando, tomando ar, “Schultz, preciso de sua ajuda. Vamos voltar ao hotel”.

“Ao hotel? Pra quê?”, disse Schultz.

“É a Alice...”, disse Briegel, “Preciso chegar lá antes que ele chegue”.

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