Amber #26 - Dirlewanger

14h47

“Coronel? O senhor Schultz me mandou pra ajudar o senhor aqui”, disse Sundermann ao se aproximar de Briegel, que estava em pé, perto de uma casa afastada de Guernica, observando o acampamento militar de Dela Rosa.

“Ah, Sundermann, ótimo”, disse Briegel se virando pra ele. Na hora que virou Sundermann jogou para Briegel uma metralhadora MP40 no chão, enquanto mostrava uma que ele tinha arranjado pra ele.

“Consegui isso de uns soldados ali. Tem uns pentes de munição aqui, no caso de termos que entrar em combate”, disse Sundermann.

“Muito bem. Vamos torcer pra não precisar chegar a esse ponto”, disse Briegel, colocando a alça da arma no ombro e jogando a metralhadora pra trás. Nessa hora ele viu que Sundermann estava tremendo, “Você tá… Tremendo? Já entrou em combate alguma vez?”

“Apenas em treinamento no quartel, coronel. Não tenho experiência de campo ainda”, disse Sundermann, inseguro, mas tentando mostrar alguma segurança.

“Entendi. Bom, treino talvez tenha suas vantagens, mas no campo de batalha impera sempre o inesperado. Não sei exatamente o que vai acontecer, mas uma dica que posso te dar é: encare qualquer embate com a mente aberta. Se você ver algo que te espante, tente ver isso como algo que você tem que enfrentar e acalme-se. O maior perigo do campo de batalha é você perder o controle de si mesmo. Eu não fiquei muito tempo lutando naquela Grande Guerra de 1914, mas tenho uma experiência satisfatória em campo. Agora vamos pegar Rodolfo dela Rosa!”, disse Briegel. Sundermann foi logo atrás dele.

Briegel se aproximou do acampamento militar. Ao entrar no local de onde estavam as barracas muitos que estavam ali reagiam de duas maneiras: ou se surpreendiam, fitando Briegel, ou erguiam a mão no gesto de “Heil, Hitler” automaticamente. Aquele gesto dava náuseas ao coronel Briegel, que não sabia como reagir aquilo, se balançava a cabeça positivamente ou simplesmente encarava de maneira respeitosa.

“Coronel, parece que é ali”, apontou Sundermann para uma barraca maior em posição privilegiada, “Deve ser ali que eles fazem as reuniões”.

Briegel e Sundermann foram em direção da barraca. E conforme passava por mais corredores, mais pessoas apareciam pra saudar Briegel. Todos os soldados que estavam desempenhando suas funções comuns estavam naquele momento lisonjeados de receberem a visita de um espião do mais alto nível como era Briegel. Simplesmente quebrou a rotina daquele pelotão.

Ao chegar na barraca do comandante, Sundermann foi na frente e puxou a entrada para que Briegel entrasse. A barraca era imensa. Tinha mesas, parte do armamento, chaves de automóveis, e por volta de dez soldados, mais ou menos. Alguns já estavam de saída com suas missões e passaram por Briegel, saindo do barracão. O líder deles estava numa mesa mais afastada, de costas, e percebeu pelo barulho que alguém havia entrado.

“Não é possível. O que diabos você tá fazendo aqui?”, disse Briegel ao ver quem estava no comando ali. Ao ouvir o homem se virou, dando um sorriso ao ver Briegel.

“Briegel? Roland Briegel? Minha nossa! Como ninguém me disse que você estava por essas bandas!”, disse o homem ao se virar e ver Briegel. Ele tinha quase a altura de Briegel, era muito magro, olhos fundos e cheios de olheiras, nariz grande e pontudo com um bigode logo abaixo, um cabelo bem ralo jogado pra trás e orelhas grandes e pontudas.

“Dirlewanger. De todas as pessoas, tinha que ser justo você por aqui?”, disse Briegel, sem acreditar.

Oskar Dirlewanger tinha a mesma idade de Briegel. Nascido em 1895, Dirlewanger também havia lutado na Primeira Guerra Mundial. Se juntou aos nazistas em 1923, mas sempre se mostrou alguém incrivelmente psicótico. Era um bandido que os nazistas se orgulhavam por não ter moral alguma na hora de matar. Uma verdadeira máquina de guerra que não via escrúpulos em torturar ou matar quem quer que fosse. Foi sem dúvida um dos maiores genocidas que lutaram ao lado dos nazistas.

“Que isso, meu amigo. Venha cá, me dê um abraço”, disse Dirlewanger, “Faz tempo que não te via. Poxa, a gente estava junto no exército, éramos inseparáveis, e olha só! Te encontrar justo aqui!”.

“Pensei que você estivesse preso”, disse Briegel, “Ouvi falar do que você fez”.

“Nah! Aquilo foi nada. Bom, é simplesmente tesão que me deu, cara. Não se segura isso, você também é homem. De uma forma ou de outra ia acontecer com ela. E com aquela roupinha que ela andava, ela estava pedindo pra eu comer”, disse Dirlewanger.

Briegel balançou a cabeça negativamente, como se não acreditasse naquilo.

“Você é um doente. Você estuprou uma criança! Uma criança!!”, disse Briegel, “Como diabos você ainda tá solto por aí?”.

Dirlewanger soltava um estalido com a boca como um tique, em geral quando as pessoas não viam a realidade que ele acreditava ser a correta.

“Ah, corta essa meu amigo, ela tinha só quatorze anos. Nem engravidou. Você é homem também. Se estivesse na minha situação teria comido também”, disse Dirlewanger.

“Engravidou? Você estuprou uma criança e você está preocupado se ela ENGRAVIDOU??”, disse Briegel, empurrando Dirlewanger com as mãos, “Chega disso. E não me chama mais de ‘amigo’, seu doente. Eu vim procurar o seu chefe. Onde está Rodolfo dela Rosa?”.

“Dela Rosa não está aqui. Disse que ia resolver umas coisas do outro da cidade”, disse Dirlewanger, “Parece que ele foi atrás de uma pousada, do outro da cidade que não foi tão destruída. Eu ouvi ele falando sobre uma mulher e uma criança que estariam lá, parece”, essas últimas frases Dirlewanger disse mudando o tom de voz, como se achasse graça nisso.

Pousada? Merda! Não é possível, será que ele foi pra onde estão o Schultz, Maggie e Liesl?, pensou Briegel, assustado.

“Só pode ser brincadeira isso”, disse Briegel, indo em direção à saída da barraca, onde Sundermann aguardava ouvindo toda a conversa do lado de dentro, “Vamos, Sundermann. Vamos voltar”.

“Espera aí, Briegel!”, disse Dirlewanger, dando um sinal para os soldados irem até a entrada da barraca barrar Briegel, “Porque não brincamos um pouco? Afinal, não é todo dia que tenho a chance de encontrar você!”.

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