Amber #88 - Cinco que valem por cinquenta.

9 de novembro de 1939
15h58

“Faz tempo que o Schultz está por aqui?”, perguntou Ho, enquanto caminhava com Chou no átrio do casarão, “Aprendeu chinês, treinou você, a Li, eu e o meu esposo, e não duvido que também trocou conhecimentos com a Gongzhu”.

“Parecem anos, né? Mas são apenas algumas semanas”, disse Chou, feliz por conta de tantas risadas que deu com o novo amigo, “Em geral o que achou dele?”.

“O método dele é totalmente diferente da Gongzhu. Porém, um princípio achei muito similar ao da Gongzhu: usar técnicas de Inteligência e espionagem de uma maneira mais racional. Eu sempre quis ver alguém demonstrando técnicas usando mais a emoção, dedução, introspecção. Mas vendo que tanto o Schultz quanto a Gongzhu possuem a mesma linha de pensamento e ação, fica ainda mais difícil imaginar algo que fuja disso”, disse Ho.

“Exato. Eu senti e mesma coisa”, disse Chou, mas logo manteve-se em silêncio alguns segundos antes de mudar de assunto, “Escuta, a Gongzhu parece bem apreensiva desde que vocês chegaram com a notícia do Huang”.

“Eu senti isso também. Ver a Gongzhu assim me mata do coração. Nessas horas eu vejo como ela é realmente muito importante para o grupo”, disse Ho, triste.

“Ela se preocupa muito. E fica com essa ideia de culpa na cabeça, mas ela não teve culpa alguma”, disse Chou, “Mas hoje pelo menos o treinamento acaba. A partir de amanhã é uma imensa incógnita. Tudo vai de acordo com o que a Gongzhu decidir hoje”.

Chou e Ho continuaram caminhando um pouco em silêncio, e passaram embaixo da janela do escritório de Tsai, que dali mesmo esta ao ver Chou e Ho pediu algo para elas.

“Chou, Ho! Preciso de um favor de vocês duas, por gentileza”, disse a Gongzhu do topo do local, “Ho, preciso que você vá checar o depósito de munições no subterrâneo ajudar o seu marido lá. Chou, você pode trazer o Schultz aqui na minha sala, por gentileza?”.

“Sim, pode deixar, Gongzhu!”, disseram as duas, em uníssono. Tsai confirmou com a cabeça e voltou para dentro. As duas então se olharam, especialmente Chou, com uma cara confusa.

“Bom, eu vou atrás do Schultz. Você tem ideia de onde ele foi parar?”, perguntou Chou.

“Eu vi ele indo em direção daquela cachoeira a leste daqui”, disse Ho, coçando a cabeça e olhando pra cima, “Eu vi a Li indo naquela direção também uns minutos antes. Mas acho difícil terem ido até a cachoeira. Nesse frio ainda?”, na hora que Ho disse, Chou confirmou com a cabeça e deu alguns passos em direção da saída.

“Puxa, espero que o senhor Schultz não esteja longe. O que será que ele foi fazer atrás da Li?”, disse Chou, pensando alto. Mas logo ela balançou a cabeça e tomou o caminho.

No caminho Chou encontrava sempre moradores locais, e todos eles apontavam o caminho de onde tinham visto Schultz. Mas o que mais a deixou intrigada foi que todas as pessoas que apontavam o caminho, diziam que a Li havia passado momentos antes pelo mesmo local que Schultz passara.

Depois de onze minutos de caminhada, Chou pôde ouvir o barulho da cachoeira. Nem ela acreditava que de fato Schultz estava indo nessa direção. Ao se aproximar começou a ouvir uns barulhos, ainda pouco nítidos. Sacou sua arma e avançou mais uns passos. Eram barulhos que pareciam palmas, mas mais graves, como se batesse num saco de carne. Mais alguns passos viu que os sons dos golpes ficavam mais e mais nítidos, e era possível ouvir uns pequenos gritos.

Minha nossa, tem uma mulher levando esses golpes?, pensou Chou enquanto se aproximava.

Os gritos continuavam, pareciam contidos, e tinham um tom peculiar. As batidas começaram a ficar menos frenéticas, e a apenas alguns metros da fonte do som ouviu um urro masculino. Era a voz de Schultz. Chou subiu numa pedra pra observar de cima. E quando viu, tomou um imenso susto.

“Ah, nossa... Tava meio apertada, mas foi bom! Agora no final tava uma delícia!”, disse Schultz, completamente nu, suado e o pênis meio endurecido. Li estava também nua, havia tirado os braços que estavam apoiados nas rochas, e tinha passado os dedos em sua vagina, tirando algo grudento e branco de lá.

“Ai, não acredito, você gozou dentro!”, disse Li, dando um empurrão em Schultz, “Eu disse pra não gozar dentro, cara! E agora? Tem certeza que você é estéril?”, nessa hora ela, também completamente pelada, tirou com o dedo dentro da sua vagina um pouco da ejaculação de Schultz.

“Cem porcento, filhinha! Senão eu já teria uma renca de filhos aí. Esse gozo aí não engravida nem se jorrasse um litro disso. Fica tranquila!”, disse Schultz, indo até o lago da cachoeira, “Será que essa água tá mesmo gelada como você disse?”.

Li do outro lado estava colocando sua roupa de volta. Schultz nesse momento deu um mergulho no lago, emergindo depois de um instante.

“Tá sim. Mas dá pra dar um mergulho. No verão que é uma delícia”, disse Li, terminando de colocar suas roupas, “Eu vou voltar agora. Pode ser que se perguntem onde estávamos. Espera um pouco antes de voltar, sim? Pra não dar muito na cara que a gente estava junto”.

“Beleza! Falou!”, disse Schultz, indo até a margem do lago da cachoeira.

Logo após de terminar sua fala, Li subiu pelo lado oposto de onde Chou estava e foi embora. Era essa a hora de se aproximar sem fazer contato com Li.

“Schultz, eu não acredito! Você tava comendo a Li! Você não presta mesmo! Vocês estão juntos? Tem alguma coisa rolando?”, perguntou Chou. Schultz ao ver ela ali se assustou, escorregando na água.

“Que susto, Chou, sua louca!”, disse Schultz, se levantando, ainda completamente nu, “Rapaz, essa água tá realmente um gelo! Deixa eu colocar minha roupa”.

“Não fuja do meu assunto! Eu vi tudo, Schultz! Até gozou dentro dela!”, disse Chou, furiosa, “E se ela engravidar? No mínimo use camisinha, ou goze fora!”, e ela, ainda furiosa, parou um segundo antes de dizer a última frase indignada, “Ou melhor: não transe com suas companheiras de pelotão!”.

“Ei, eu não menti quando disse que sou estéril. Eu fiz vasectomia. Deus me livre ficar trepando por aí com medo de alguma menina engravidar! Melhor manter o prazer, sem o medo da responsabilidade!”, disse Schultz, colocando suas roupas.

“Mas vocês estavam fazendo sexo... Eu vi! Existe algo entre vocês?”, disse Chou, expondo seu outro ponto de preocupação.

“Ah, isso foi nada! Não tem nenhum sentimento entre a gente. A gente só queria fazer ‘aquilo’, ela disse que tem meses que não trepava. Cara, tava muito apertada, até entrar legal demorou um pouquinho. Mas foi como, sei lá, jogar tênis. Sem compromisso. Do jeito que sempre deveria ser!”, brincou Schultz, terminando de abotoar sua camisa.

“Nossa, assim eu fico mais tranquila. Ou não, sei lá. Vocês estavam transando, nossa!”, disse Chou, jogando a jaqueta para Schultz.

“Pega nada isso, Chou, relaxa! Todo mundo tá trepando por aí. Você que é inocente, hahaha!”, brincou Schultz, colocando sua blusa, “Você é que devia dar uma trepadinha pra relaxar!”, Schultz nessa hora deu um tapinha na bunda dela, “O que eu me espantei é você ter essa pegada mais voyeur! Sua taradinha! Eu nunca duvidei que debaixo dessa cara séria você era bem safada! Você gosta de espiar os outros transando!”.

“Cala a boca, idiota! Eu vim atrás de você pra dar um recado. A Gongzhu está atrás de você!”, disse Chou, braba, “Anda logo que ela tá te esperando!”.

“Poxa, a princesa ainda tá com aquela cara?”, perguntou Schultz, enquanto calçava seus sapatos, “Desde que o casal ali chegou ela tá assim. Parece que nem dorme direito. Deve estar muito preocupada, por sinal”.

“Bom, recado está dado. Eu preciso ir nessa”, disse Chou, indo embora. Mas antes ela se virou uma última vez para Schultz, “Se você engravidar a Li, vou arrancar esse seu pinto fora, você vai ver só!”.

“Hahahah! Relaxa, Chou! De mim pode ter certeza que ninguém vai sair barriguda daqui a nove meses!”, brincou Schultz, antes de Chou sair. Ele se apressou para ir encontrar Tsai, rapidamente passou por todo o caminho de volta e voltou ao casarão, subindo no andar de cima. Ao bater duas vezes na porta de Tsai ela o mandou entrar.

Tsai estava em pé, dando voltas na sala. Estava com a mão no queixo, pensante, olhando pra baixo. Parecia estar no meio de um imenso dilema.

“Fala aí, princesa!”, disse Schultz, entrando na sala, “Em que eu posso te ajud...”.

“Schultz, preciso que você me ajude em um dilema que eu tenho que resolver aqui”, disse Tsai, indo até sua mesa, “E preciso que você me ajude a tomar uma decisão, uma vez que você não está tão envolvido emocionante com nenhum dos lados. Por favor, sente-se”.

Schultz então sem dizer nada puxou a cadeira e se sentou de frente para a Gongzhu.

“As opções que tenho que decidir são três. A primeira é achar Chou Xuefeng em Nanquim, e te ajudar com mais informações sobre esses monstros que ele captou na sua câmera. A segunda opção é levar Eunmi até a Coréia, o que é um perigo imenso, pois está no meio do território japonês”, disse Tsai.

“Na verdade a Coréia é uma nação separada do Japão. Eles apenas dominaram, sabe...”, disse Schultz, que não seguiu em frente, pois Tsai o estava encarando, como se seus olhos dissessem que era óbvio que ela sabia daquilo, “Ok! Desculpa, hehehe!”.

“E a terceira opção é sobre Huang. Mas esse a gente sabe quase nada. Apenas que ele sumiu, e provavelmente está nas mãos dos japoneses. Possivelmente está sendo torturado, ou até mesmo executado”, disse Tsai, com uma cara que expressava preocupação com raiva.

“Acha que não estamos seguros aqui?”, perguntou Schultz.

“Eu não ligo para a nossa segurança. Se Huang for torturado, ele pode revelar o que for, até o tamanho do meu pé e quanto eu visto. Nós sabemos nos defender. O problema é exatamente ele, membro do meu pelotão, sendo torturado por sabe lá deus quem. Isso sim é algo que me preocupa”, disse Tsai, apreensiva. Schultz pôde sentir o quanto ela realmente se preocupava com seus companheiros.

“Nossa, você realmente tá tensa”, disse Schultz. Nessa hora ele olhou para Tsai. Os olhos dos dois ficaram parados se encarando por alguns momentos. Mas aquele contato todo parecia fazer o mundo ao redor ficar em silêncio, fora de qualquer conexão, flutuando no espaço. De fato aquele momento durou alguns segundos. Mas pareciam horas. Depois desse tempo Schultz e Tsai quase que no mesmo momento balançaram suas cabeças, cortando o transe, “Bom, como eu disse, você parece realmente tensa, e é difícil tomar uma decisão sensata num momento desses, então eu acho que talvez deveríamos...”.

“Gongzhu!”, disse Ho entrando do nada na sua sala, “Me desculpa interromper, mas a Li disse que viu algo lá em cima! Parece ser japoneses se aproximando!”.

“Minha nossa! Vamos até onde ela está agora, traga a Eunmi!”, ordenou Tsai, indo na frente.

Alguns momentos depois todos estavam reunidos perto de Li, que observava tudo por seu binóculo.

“Devem ser uns cinquenta. Estão subindo, mas a maioria parece vir na entrada norte do casarão, mas estão todos espalhados em todas as direções, Gongzhu”, disse Li, explicando a situação para Tsai, que ao olhar pelo binóculo viu exatamente o que Li estava dizendo, “Qual o plano de ação, Gongzhu?”.

Por um momento Tsai ficou em silêncio com seus pensamentos. Mas em breve retomou, e seus olhos pareciam em chamas, cheios de determinação e empolgação. Olhou para todos seus companheiros e depois para Eunmi e Schultz.

“Schultz, Eunmi, vocês serão apenas os expectadores”, disse Tsai, esbanjando empolgação em sua fala, “Hoje vocês vão ver como um pelotão bem treinado de apenas cinco pessoas valem mais do que cinquenta do outro lado”.

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