Amber #138 - Suspicious minds (15) - Because I love you too much, baby.

“E então?”, disse Eunmi, pegando no braço de Aomame enquanto a Gongzhu ia em direção da escadaria que tinha uma estátua de um peixe, “O acordo era que você me diria onde está o capitão Miura assim que a Gongzhu lhe entregasse onde está o Saldaña!”.

“Sim, eu me lembro, coreana. Mas não estou com o Saldaña em mãos ainda”, respondeu Aomame, séria como sempre.

“O quê? Mas isso não vale! O acordo não era esse!”.

“Acordo é acordo. Verificarei nessa mansão, se o Saldaña estiver lá, te direi na hora onde está o capitão Miura. Todos aqui estamos atrás de algo que nos é de valor, e se tem como todo mundo sair satisfeito, por que arriscar?”, disse Aomame, precisa em cada sílaba, “Se a Tsai mentiu, vou precisar de você para chegar nela de novo”.

“Mas a Tsai não mente! Definitivamente você não a conhece!”, apelou Eunmi, mas o pedido parecia não chegar aos ouvidos da japonesa.

Aomame fingiu não escutar Eunmi, e começou a pegar suas coisas para ir embora, chamando Tengo para deixarem o local. A coreana, que estava preenchida de ansiedade, sentiu como se tomasse um banho de água fria com a declaração da japonesa. Era óbvio que a Tsai não mentia, e Eunmi sabia disso. O problema era que Aomame não sabia disso, uma vez que a japonesa não a conhecia como ela a conhecia.

Eunmi já estava dando uns passos indo logo atrás de Aomame e Tengo em direção da saída quando um pensamento lhe ocorreu subitamente, percorrendo seu corpo como uma corrente elétrica. Ela se lembrou da emboscada que eles sofreram enquanto buscavam o fotógrafo, a armadilha que poderia ter tido um final muito diferente se ela mesma não tivesse se distraído e perdido tempo conversando com o seu primo traidor. Ela percebeu que ao seguir Aomame, e deixar todos seus amigos para trás, novamente ela estava agindo de forma bastante egoísta, e decidiu que não faria isso. Ela não tinha motivos para isso. Ela poderia se juntar à Aomame mais tarde.

Ao virar o rosto para a multidão ela viu Schultz, indo pra direção oposta de onde estava indo Tsai. A questão era que onde Tsai estava indo que era o destino correto. A coreana sentiu que ela tinha uma dívida, e esse momento era a hora de quitar isso.

Eunmi, negando seu desejo de saber onde estava o capitão Miura, foi a passos rápidos passando pelas pessoas da festa, indo na direção do corredor que ela vira Schultz entrar. Como ela era pequena e magra, Eunmi conseguia passar sem maiores problemas, avançando até o destino. Toda aquela luz, aquelas conversas, as pessoas dançando, bebidas, e o cheiro de perfume depois de um tempo perdiam todo o glamour e virava uma visão quase que saída do próprio inferno. Aquele definitivamente não era o seu mundo. E ela obviamente se sentia sufocada a cada passo que dava entre as pessoas.

Eunmi alcançou a escada e começou a subir, e quando chegou no topo viu Schultz no corredor, andando lentamente, claramente na espreita de alguém, disfarçado andando rente à parede. A coreana foi caminhando a passos ágeis e discretos na parede oposta, onde haviam algumas portas para os muitos cômodos daquela mansão.

Só mais um pouco… Espera aí Schultz, dá pra diminuir o passo um pouquinho?, pensava Eunmi enquanto via Schultz a menos de sete metros dela.

E então uma das portas do lado que Eunmi estava se abriu. E uma pessoa saiu, um homem. Quando a coreana se preparou para virar para desviar, seu olhar se encontrou com os da pessoa que saía daquela porta.

E ela ficou paralisada.

“Oh, é você mesmo? Não imaginava te encontrar aqui, donzela”.

Era o homem loiro e de idade que havia dito para ela semanas atrás para que ela fosse para a Alemanha buscar Schultz para encontrar Miura, o assassino do seu noivo. E exatamente o mesmo homem que estava sequestrando o fotógrafo Chou Xuefeng quanto eles estavam atrás dele em Nanquim!

“Tudo bem com você? Conseguiu encontrar o alemão que eu te falei?”.

Mas Eunmi continuava paralisada, com os olhos arregalados, sem acreditar naquilo. Aquele homem loiro que ela não tinha ideia de quem era, nem mesmo o nome, tinha algo de ameaçador. Um jeito de a encarar que parecia um animal prestes a dar o bote. Eunmi tinha medo, um medo que a congelava dos pés até a cabeça, um medo que a impedia de esboçar qualquer reação. Um medo que só uma mulher sabe quando encontra um homem ameaçador desse tipo.

“Bom, não precisa fazer essa cara quando me encontrar, mocinha”, disse o homem, e nesse momento ele baixou a cabeça e foi até o ouvido de Eunmi, colocando a mão sobre o ombro dela, “Você não me deve nada. Valeu a pena cada momento”.

E nesse momento a mão desse homem foi descendo do ombro até o seio de Eunmi, e ele encheu a mão no seio da coreana e a apertou, enquanto ela continuava ali, paralisada pelo medo e pálida, ao ser abusada por aquele homem.

Esse tipo de sentimento que Eunmi sentiu talvez seja uma das coisas que infelizmente apenas uma mulher poderia descrever. Talvez as pessoas diriam para que ela se desvencilhasse, batesse nele, ou se defendesse. Mas a verdade é que na frente de um abusador existe um misto de sentimentos que as mulheres sentem, que inclui medo, nojo, revolta, e tudo isso envolto por uma camada de impotência e indefesa, que dependendo do quão ameaçador é o homem, mais paralisada é capaz de tornar a mulher. Uma injustiça, recheada de machismo.

O homem já estava a alguns passos atrás de Eunmi, indo embora, e ela sentia ainda as marcas do aperto nos seios que aquele homem deu. Ela massageava, tentando deixar de lado aquele choque que sentira, e o nojo por ele ter pegado em seu corpo sem permissão. Porém Eunmi estava vulnerável e fraca. E mesmo que não tivesse ninguém ali para lhe fazer algum mal, a memória daquele aperto no seu seio não foi apenas uma mera dor desencadeada pelo seu sistema nervoso. Aquela era algo que mexeu muito mais com sua alma, e com seus segredos. Memórias que ela não queria se lembrar de forma alguma de experiências dolorosas que ela já havia passado.

Agachada, encostada na parede, segurando o seu seio, Eunmi estava com os olhos cheios de lágrimas. Tomada pela emoção, ela ainda queria fazer o certo. Ela ainda queria dar os passos que faltavam para encontrar Schultz. Mas ela simplesmente não conseguia.

“Schultz… Schultz… Schultz…!”, dizia Eunmi, num sussurro alto, repetindo o nome do alemão. Schultz parou por um momento quando percebeu o seu nome e se virou, e nesse momento viu Eunmi agachada ali com a mão no peito, com os olhos cheios de lágrimas.

O alemão não pensou duas vezes e foi correndo até o seu encontro.

“Eunmi, por deus!! O que aconteceu com você? O que você tá fazendo aqui?”, disse Schultz, a abraçando, enquanto Eunmi chorava no seu ombro.

“Schultz, não vai por aí. Você não pode ir por aí”, disse Eunmi, segurando os soluços.

As pessoas passavam pelo corredor e não entendiam direito o que estava acontecendo com aqueles dois abraçados, praticamente sentados no chão. Mas Schultz e Eunmi os ignoravam. A coreana precisava de ajuda, e o alemão ia fazer de tudo para que pudesse ajudá-la.

“Por quê, Eunmi? Por que não posso ir por aqui?”, perguntou Schultz, que também estava ficando emocionado, mesmo sem entender o que estava se passando com sua amiga.

“Chang Ching-chong não está aí. Deve ser uma armadilha. A Gongju descobriu onde ele está, vá para a escadaria com a estátua do peixe, do outro lado do salão”, disse Eunmi, já um pouco mais calma, e nesse momento Schultz esticou o pescoço e viu uma estátua de um peixe parecido com um salmão, do outro lado do salão, “Vai lá, ajuda a Tsai! Ela vai precisar de você!”.

“Tá, eu vou, pode deixar”, disse Schultz, vendo Eunmi cheia de lágrimas nos olhos borrando sua maquiagem, “Mas por que você está chorando?”.

E então Eunmi chorou mais um pouco ao ouvir a pergunta de Schultz e ele deu tempo para que ela se recompusesse. Demorou alguns instantes, mas Schultz sentia em seu abraço com Eunmi que a respiração dela ia ficando mais e mais calma. Porém seu terno, que ele usava para acalentar Eunmi, estava ficando molhado depois de tantas lágrimas.

“Cara, eu odeio ver mulher chorar. Você está na lista das pessoas que eu mais odeio, coreana!”, brincou Schultz e ela, depois de tanto chorar, deu até uma risada. Percebendo que ela estava melhor, o alemão completou: “Deixa pra lá, não precisa me contar o que aconteceu. A Ho está lá fora, fala com ela que ela vai te dizer onde nós estamos…”

“...Não, espera”, interrompeu Eunmi, e Schultz prestou atenção nela, “Schultz, você se lembra que eu te contei que foi um homem loiro que me mandou ir para a Alemanha e te encontrar? Para que você me ajudasse a encontrar o homem que matou meu noivo?”.

Schultz por um momento ficou em silêncio buscando na memória. Tanta coisa aconteceu que ele nem se lembrava direito disso.

“Ah, verdade! E eu disse que um homem loiro era uma coisa bem aleatória de se achar, lembro sim. O quê que tem?”, perguntou Schultz, e então Eunmi se afastou um pouco dele e virou para trás, apontando com o dedo.

“Foi aquele homem, Schultz. Eu tenho certeza absoluta! Ele até me reconheceu agora, ele acabou de sair daquela porta!”, disse Eunmi, e Schultz, ainda agachado com ela, olhou para onde ela apontava.

Estava longe, mas rapidamente Schultz percebeu o cabelo loiro. Porém ele estava de costas. Os dois ficaram em silêncio, observando, esperando o momento que o homem virasse, para ver o rosto. Schultz estava pronto para gravar na sua memória e ir atrás desse homem, não importasse quem fosse, para saber o porquê dele ter indicado justamente ele para Eunmi.

E então uma pessoa veio por trás desse homem e deu um toquinho nas costas dele. E então o homem virou. E quando Schultz viu o rosto do velho, o reconheceu no exato momento.

“Hã? Eu conheço esse cara, Eunmi”, disse Schultz, baixinho, depois de alguns instantes em silêncio, “É Fyodorov. Leon Fyodorov!”

Comentários

Postagens mais visitadas