In rhythm - Parte I - Aquele que revela.

-Al não participou do funeral do senhor Schultz. Nem mesmo uma única vez fora ver a lápide do tutor do seu irmão mais velho. Porém, ficou um bocado triste ao receber a notícia. A vida prosseguia.

Alguns meses depois da morte, em uma estação de metrô, encontrou um homem que veio puxar assunto.

"Você é difícil de se achar, garoto", ele disse.

De princípio Al pensou que não estavam falando com ele. Sequer se virou. O homem insistiu mais algumas vezes, Al se virou mas não o reconheceu. Perguntou o que ele queria, e ele respondeu:

"Meu nome é Lucca. Sou veneziano, e durante muito tempo trabalhei junto com seu falecido irmão. Eu preciso falar mais coisas pra você, mas aqui não podemos conversar. Pode me acompanhar até minha casa, por favor?", ele disse.

Al fez algumas perguntas para se certificar se conhecia realmente seu irmão, e ele confirmou. Aparentemente eles realmente se conheceram.

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A casa de Lucca era muito modesta. Um apartamento sujo, com apenas um colchão no chão, uma máquina de fazer café e um banheiro improvisado. Aquela lugar fedia a baratas e ainda era úmido. Não seria o lugar mais interessante pra se viver.

"Me desculpe. Os caras da Yard confiscaram tudo o que eu tinha. Eu sou um nômade, eu fujo deles pois um dia eles vão me pegar, e terei um destino ainda pior que o seu irmão", ele iniciou, ainda pendurando o sobretudo sujo numa maçaneta.

Lucca mostrou uma foto do tempo em que eles trabalhavam juntos. Era outro homem. Jovem, penteado, limpo. A foto do grupo havia sido tirada por Émilie.

"A metade desses caras aí morreram. Esse aqui está na Bolívia, esse outro conseguiu se isolar em Kuala Lumpur. Esses dois até onde eu sei estão no Laos, não me pergunte o que diabos estão fazendo lá.", ele iniciou, apontando para cada um dos homens da foto, "Imagino que você saiba de tudo o que aconteceu né?".

"Sim. Foi a Émilie", Al respondeu.

"Pois é. Se eu lhe disser que ela não está longe daqui, você se surpreenderia!", Lucca disse, depois completou: "Mudou de nome e está na Bélgica. E não foi difícil de acha-la! Aparentemente ela queria ser encontrada, não tomou as mínimas precauções, apareceu até numa foto de fundo num importante jornal de lá".

Lucca mostrou a foto do jornal onde Émilie aparecia de fundo. Seus cabelos estavam mais claros, mas realmente era ela!

"Interessante. Mas, não vou fazer nada. Meu irmão não gostaria que eu tentasse me vingar. Ele a amava do fundo do coração, mesmo ela sendo quem ela é", Al respondeu.

O homem encontrado na estação arregalou os olhos. Não acreditara que ele mesmo depois de tudo o falecido Arch ainda a tenha amado tanto. Al se erguia, estava indo em direção da porta, mudo. Foi quando Lucca o chamou.

"Nós éramos os melhores. Éramos o grupo da inteligência, éramos o cérebro do sistema. O sistema que ajudamos a construir acabou voltando-se contra nós. Garoto, as pessoas são sujas. Émilie era apenas a ponta do iceberg, acredite no que eu digo. Sente-se aí, vou lhe contar muitas coisas interessantes que vão abrir sua mente..."

As conversas a seguir aconteceram entre setembro de 1995 e outubro de 1995.

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