Spread your wings and fly. God be with you.

E lá estava eu. Mal havia me recuperado da Festa Junina e ela chegou em mim e disse: "Alain, você vai pro Japão!".

Oh, crap! xD

De fato, não acreditei. Mesmo agora que estou embarcando, acho que não acredito muito. Cheguei nos meus pais e contei a novidade. Minha mãe ficou abismada, meu pai emburrou a cara e ficou olhando pra televisão sem dizer nada, quiçá piscava. E eu lá, com aquela cara de quem era quem menos parecia acreditar nisso.

Daquele dia em diante foi uma luta atrás da outra. Primeiro meus pais. Questionaram dinheiro, e estavam querendo que eu abrisse o jogo no lugar que trabalhava pra falar da situação e pedir compreensão dos chefes. Porém empresas são empresas. Desde que saí do meu último emprego e recebi um e-mail que dizia que "as empresas não estão nem aí pra você, só querem que você produza, produza, produza. E se você não produzir, te jogam no olho da rua" a gente eventualmente abre o olho.

A ideia dos meus pais era que eu pedisse licença pra viajar pro Japão, voltasse ao trabalho, e depois fosse pra Europa. Recebi um sonoro "não" do setor e comecei o processo de demissão. Minha chefa não queria me demitir, mas eu expliquei com calma, disse que não queria deixar eles na mão perto de um evento tão importante.

A viagem que eu vou é de motivo religioso. Vou para o Japão participar do Saito Homa, uma cerimônia de purificação do fogo.

Purificação. A cerimônia é feita em prol de todas as pessoas, sem distinção de amigo ou inimigo, todos somos seres com natureza búdica inata aos olhos do Buda Shakyamuni. Me falaram que junto comigo irão diversos espíritos para que eles também sintam todo esse sentimento de purificação.

Na cerimônia nós reverenciamos o Achala, o "imóvel". O Achala é bem isso: segurar todas as porradas da vida e seguir em frente, pelo bem estar do próximo, para proteger, para tudo. E de fato foi uma correria sim. Tirar visto, relacionamentos pessoais, pequenas discussões, a incerteza, o medo. Mas estamos hoje aqui, firmes e forte, e acho que depois de tudo o que passou posso dizer de peito aberto:

Hoje eu me sinto mais forte.

Coisas ruins servem como experiência pra gente também.

Dia 16 de setembro eu recebi meu último sesshin no templo de São Paulo - a orientação mediúnica que temos no budismo Shinnyo. Era exatamente o que eu precisava ouvir, para ir tranquilo. Meu coração já quase não tinha dúvidas:

"Pessoas precisam de provas para acreditar, ninguém acredita em algo que não possa ver. Mas você é a prova. É a prova de que o budismo Shinnyo pode mudar as pessoas para melhor, que se seguir ele é o correto. Kyoshu-sama está muito orgulhoso de você, e a Shojushin-in-sama vai continuar te apoiando e estar do seu lado".

Fui na casa da minha avó pedir pra ela consertar umas calças minhas. Foi aí que falei pra ela sobre o Ensinamento Budista Shinnyo, expliquei tudo e ela, mesmo sendo evangélica, viu o tamanho da minha missão. Que eu deveria mesmo ir pro Japão e ser a ponte entre toda essa força e trazer essa harmonia aqui também para o Brasil, em forma de energia pura não apenas para meus afilhados, mas para todos desse lado de cá do mundo. Tinha o apoio da minha avó, que mesmo sendo de uma religião diferente viu a importância disso tudo.

Nesse dia irei embarcar. Junto comigo irão esperanças, boa sorte, e muita energia positiva. Posso sentir isso!

Porém antes de tudo tive que superar um dos meus maiores medos: avião. Então bora pro Rio!

Conhecer a Natalia foi a cereja do bolo. Acho que compreendi o sentido do que é viajar de maneira legal, conhecer novos lugares, esse sentimento de liberdade mesmo que ela seja apenas uma latinha de cerveja barata e uma boa vista. Quando decolei de volta do Santos Dumont meus olhos lacrimejaram. Não de tristeza, mas de um "novo mundo" que estava se abrindo pra mim.

Ontem minha mãe chorou um pouquinho. Ela chorou também quando meu irmão foi viajar. Mas eu, não. Sei que esses dois meses desde que anunciaram minha ida eu sinto que cresci ainda mais. Provavelmente se me dissessem uma semana antes eu estaria desesperado (óbvio!), mas foi um bom tempo pra ajeitar a casa, deixar as coisas prontas e, hoje... É só decolar!

さようなら、ブラジル!
Sayonara, Brasil.
Nos vemos em breve.

Spread your wings and fly. God be with you.

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