II - A Papisa



1988

Émilie enquanto Arch estava na França saiu várias vezes me deixando sozinho em nossa casa, na Inglaterra.

Saía antes do meio dia e voltava sempre perto das nove da noite. Quase todos os dias. Um dia trouxe uma pasta, lacrada de metal, daquelas prateadas onde se guardam valores.

Um outro dia dois senhores entraram em casa junto dela, e ficaram na sala de jantar conversando durante horas em francês (não entendia nada, pois não sei o idioma).

Sem dúvida estava tramando algo. Mas até hoje permanece um mistério.

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1996

"Eu acho que conheço esse aqui, mas não sei da onde", eu disse, apontando pras fotos que Noriko deixara.

A garota do cabelo lilás, minha parceira, ficou analisando aqueles documentos.

"Não tenho ideia de quem seja", ela disse, "Conhecemos apenas seu irmão mais velho, Noriko e Lucca. E esse velho que você disse que lhe é familiar".

Sentei de volta no sofá e fiquei olhando pra ela. Sentia nojo de ter que trabalhar com uma pessoa fria como ela. Parece que o nosso chefe estava em algum lugar dando muita risada em ver nós dois sendo obrigados a trabalhar juntos.

Fomos ao encontro da senhora Vittorio.

"Quero que leve esse homem com vocês. Seu nome é Yuri. Ex-militar, decidiu deixar o exército para entrar na inteligência. Yuri, seu objetivo é escoltar esses dois jovens sãos e salvos", disse Francesca.

"Sim, madame", disse Yuri, que nos conduziu até o Heathrow.

Pegamos o voo do final da tarde. Foi aí que tudo se encaixou.

"É ele!", eu disse apontando pra foto do velho que me era familiar, "Foi ele que estava comigo na Espanha e me deu aquela fita dizendo que meu irmão estava vivo! Eu não tenho dúvidas! Está aqui o nome dele, Otto Dietrich. Narcotraficante internacional. Parece que temos que acabar com a festinha dele lá na Espanha".

Alguns meses depois conseguimos prendê-lo. Me designaram para interrogá-lo.

"Ora, ora... O pequeno irmão de Arch. Lembra-se de mim? Eu te ajudei a acender aquele seu cigarro. Mas pelo visto você não parou de fumar...", Dietrich começou.

De fato, eu estava com um cigarro na boca. Nicotina era a única coisa que me acalmava, e foi se tornando um vício pra mim por volta da adolescência. Todos ficavam falando coisas ruins de mim por trás, por eu ser o irmão do traidor. O cigarro era meu consolo. A nicotina, meu abraço materno.

"Você me enganou, velho. Meu irmão não estava vivo. E ainda me deu aquela fita que me levou a nada. Porquê?", eu perguntei.

"Ei, ei, ei... Pera lá!", disse Dietrich, "Você encontrou a Émilie! Acabei de ajudando. Mas pelo que ouvi, uns passarinhos me contaram que ela te deu apenas um crucifixo e depois virou de costas pra você", ele prosseguiu.

"Seu idiota. Então foi tudo planejado por você?!", eu disse, encarando-o.

"É apenas o começo, pequeno Al. Não existe diferença entre bandidos e a Inteligência. Todos nós usamos meios anti-éticos e imorais para conseguir o que queremos. A diferença é que vocês estão aí pra tornar o sistema regular, obedecer a vontade de uma maioria, enquanto nós estamos aqui para oferecer um 'segundo caminho' longe do que vocês impõe. Não existe diferença entre bandidos e mocinhos no mundo. Vocês fixam isso porque têm o apoio da ética e da sociedade".

Dietrich acabou se suicidando na prisão, uma semana depois, com uma capsula de cianureto que acabou chegando ao seu alcance de maneira até hoje não solucionada.

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"Essa é Victoire Delacroix. Vai se juntar a nossa área médica. Ela é uma entusiasta de biologia e corpo humano, vai ser de grande valia", disse dona Francesca.

Ela era de fato bonitinha. Mas tinha um ar triste. Pelo nome e sobrenome devia ser francesa. Mas na Europa a gente dificilmente deve apontar o dedo e dizer, ainda mais hoje em dia. Foi só ela abrir a boca que reconheci seu sotaque puxado.

"Prazer, Al. É uma honra trabalhar com você. Estou assumindo a parte médica da nossa organização. Posso pedir alguns exames e algumas vacinas pra fazermos um check-up?".

Recebi as guias. Me senti mais confiante, ela era séria, e parecia saber o que estava fazendo.

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