Doppelgänger - #98 - Sacrifice

“Você tem no máximo uns cinco minutos, Lucca”, disse Schwartzman.

Era a morte. E com segundos. Cronometrada. A respiração de Lucca parecia se tornar cada vez mais difícil. Estava difícil de se manter em pé. E só tinham se passado alguns segundos desde a injeção letal.

Sacrifice. A combinação de drogas criada por Schwartzman. Capaz de causar em um ser humano uma morte similar a de um animal de estimação de um dono. Primeiro o torpor, o sono, o estado letárgico. Depois, a morte.

O que o Sacrifice significava? Era como se Schwartzman fosse o dono e estivesse se livrando de Lucca, seu animal de estimação? Como se estivesse levando ele para ser sacrificado na sua frente? Talvez esse seria o significado, mas definitivamente não era o que se passava na mente de Schwartzman. O judeu psicopata não tinha nenhuma empatia. Era apenas uma máquina de matar, sedenta por mais um ser humano para ser dissecado – mesmo que fosse vivo.

Lucca não tinha muito tempo. Mas de alguma forma teria que proteger Eliza Vogl a todo o custo. Ele estava disposto a dar sua própria para salvar a menina. A hora era agora.

“Eliza, fuja daqui, rápido!!”, gritou Lucca.

Eliza, tomada por lágrimas, virou seu rosto e começou a correr. Schwartzman apenas via a cena. As pessoas ao redor não sabiam o que estava acontecendo, olhavam aquela cena na frente do Monumento incrédulas. Aquilo devia ser um flashmob, ou algo do gênero, não era possível que fosse a cena de um assassinato no meio da cidade de Londres!

“Vocês só complicam a minha vida...”, disse Schwartzman, entediado. Ele começou a caminhar em direção da pequena Vogl, porém, foi interrompido por Lucca, que parou na sua frente.

“Você fica aqui... Temos coisas... Pra resolver”, disse Lucca, já sendo dominado pelo torpor.

“Seu morimbundo!”, disse Schwartzman, “Não entendo porque tá demorando tanto pra fazer efeito! Saia da minha frente que você não me vale mais nada!”, disse, empurrando violentamente Lucca contra o chão.

Lucca caiu sobre seu braço. A dor foi imensa. Seu ombro havia deslocado, tamanha violência da queda. Caiu como um saco de batatas lançado no chão. Seus olhos estavam cada vez mais desfocados, e sua mente cada vez mais confusa. Os efeitos do propofol eram mais fortes do que imaginava. E Schwartzman estava acelerando o passo indo ao encontro de Eliza Vogl.

Merda, eu preciso dar um jeito de ficar acordado!! Droga, o que eu tenho no meu bolso... Um canivete só. Será que ele tem uma lâmina? Vamos, fica acordado, não durma, não durma, não durma! Eu tenho que salvar a Eliza! Eu prometi a ela!! Não vai acontecer o mesmo que aconteceu com a Saunders na minha frente, jamais!, pensou Lucca.

Ele pegou o canivete e com um só golpe mirou na sua coxa esquerda. A dor o fez despertar. Pelo menos por alguns segundos, dando forças pra ele ficar de pé. Quando o torpor estava voltando tirou novamente o canivete e espetou novamente na sua outra perna. Lucca emitiu um grito surdo de dor, com os olhos quase fechados.

Nesse meio tempo Eliza estava cada vez mais perto do Monumento. E Schwartzman corria atrás dela, sorrindo, como se fosse um predador prestes a dar o abate. O tempo estava correndo, a distância cada vez mais se encurtando, algo devia ser feito, e rápido!

Foi aí que Schwartzman, mesmo que não sentisse dores, sentiu algo o empurrando, como uma bala de canhão.

Ele caiu no chão, e quando olhou pro lado viu Lucca, com sangue nas pernas, olhando firmemente pra ele, também no chão. Lucca não poderia fazer muita coisa, mal conseguia manter seus olhos abertos. Porém se lançou correndo e jogou seu corpo de uma vez contra o judeu. Seus instintos o guiaram dessa vez.

Eliza olhou pra trás, e viu Lucca e Schwartzman caídos no chão. Na sua frente estava a entrada de visitantes do Monumento. Achou que seria um bom local para se esconder ali, ao menos, e entrou no monumento pra buscar abrigo.

Schwartzman se ergueu, e Lucca também. Aquilo parecia uma cena de um duelo, prestes a acontecer ali, na frente de todas as pessoas. O judeu tirou do seu jaleco duas facas de combate, e passou um algodão úmido nelas.

“A esterilização é essencial antes de um procedimento médico”, disse Schwartzman, despejando um outro líquido na faca, guardando-o de volta, “Isso aqui é o antídoto. Não do propofol, mas do veneno que está afetando seu sistema nervoso. Mas se você quiser ser curado, vai ter que me deixar rasgar seu corpo. Assim. Vivo. Acha que sobreviveria?”.

“Eu não tenho nada a perder mesmo”, disse Lucca, correndo em direção de Schwartzman.

Por mais que estivesse dominado pelo torpor, Lucca conseguiu ainda desviar dos fracos e desajeitados golpes de Schwartzman. Suas pernas doíam muito, e cada vez mais os efeitos do propofol estavam dilacerando sua mente. Seus olhos pareciam que estavam com um peso imenso, extremamente difíceis de manter-se com eles abertos. Mas todas as vezes que Schwartzman realizava um golpe, Lucca ainda conseguia se esquivar com maestria, se agachando, caminhando pra trás e pros lados.

“Mas que merda! Porque esse merda não faz logo efeito!!”, gritou Schwartzman, cada vez mais nervoso por ver que estava perdendo de um moribundo.

Schwartzman avançou em uma estocada, e Lucca desviou, puxando o braço do judeu para si e aplicando uma chave, deixando-o virado pro chão, imobilizado, com seu braço puxado pra trás, dominado por Lucca.

“Seu braço é meu agora”, disse Lucca, colocando a mão no bolso do jaleco do judeu, tirando o frasco com o antídoto, “E a cura também”.

Lucca com todas as forças tirou a ampola com o líquido curativo do jaleco de Schwartzman, junto de uma seringa.

“Será que você vai ser finalmente a pessoa que vai acabar comigo?”, disse Schwartzman, praticamente aceitando a derrota.

Foi aí que o jogo virou novamente:

Já havia passado mais de cinco minutos desde que havia tomado a injeção letal. O corpo de Lucca foi então dominado por um espasmo, soltando Schwartzman, e se contorcendo totalmente. Ele começou a jorrar saliva, que borbulhava da sua boca. Seu corpo se contorceu totalmente e sua respiração ficou cada vez mais eufórica. Lucca caiu no chão, tão fraco que mal conseguia gritar de dor. Parecia que havia um alien dentro dele, pois todos os músculos pareciam ter entrado em choque, seu olho havia revirado pra cima e do seu nariz saía uma secreção horrenda. Suas calças estavam todas molhadas de urina, e seu único braço bom (que não havia sido deslocado na queda) estava em cima do peito, pressionando, como se estivesse sentindo uma dor insuportável.

Seu peito doía como se algo o estivesse dilacerando vivo.

Não havia apenas sonífero o sonífero no Sacrifice. Aquilo era já o veneno fazendo efeito.

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