Doppelgänger - Epílogo #1

3 de dezembro de 2012
6h09

Al estava sentado na sua maca. Uma enfermeira já o havia atendido. A bala havia pegado abaixo da cintura, do lado direito. Não acertou nenhum órgão vital. Já havia sido medicado e observava Ar sendo levado preso depois do mesmo ter vindo na sua frente e falado um bocado de asneiras.

“Poxa, todo esse esforço pra no final não conseguirmos parar o cara”, disse uma voz feminina se aproximando. Era Natalya Briegel.

“É... Não dá pra se ganhar todas”, disse Al.

“Anos atrás você também estava em busca da Dawn of Souls e acabou perdendo ela. Foi obrigado a se exilar com a menina do cabelo cor-de-berinjela por anos. E agora isso, não parou completamente a Insurreição de Ar, e agora temos diversos agentes soltos por aí querendo continuar o plano dele sem nós nem sabermos quem são eles. Isso sem contar o dinheiro todo do VOID que já foi encaminhado pros seus destinatários. Olha, vai ter muita bagunça nesse mundo a partir desse ano de 2012, Al...”, disse Briegel.

“Não dou a mínima para o que vai acontecer com o mundo. Fui chamado pra parar o Ar. O resto da sujeira vocês que varram e coloquem no lixo...”, disse Al, mostrando sua antipatia de sempre.

Briegel riu alto. Parecia tentar disfarçar o desespero, na verdade.

“Durão como sempre. Escuta... Que papo é esse de que o Arch está vivo? Vi o Ar gritando isso agora antes de ser levado. Havia mais uma pessoa com vocês naquele momento?”, perguntou Natalya.

Al desviou o olhar de Natalya, e olhou pro lado. Começou a pensar se deveria ou não contar o que havia acontecido dentro da Bolsa da Valores. Não haviam testemunhas do que havia ocorrido ali. Exceto Ar.

“Ele ficou com um parafuso solto, esse moleque. Acho que delirou depois que eu dei umas porradas nele. Ficamos intoxicados, ele me deu um tiro, e perdemos o sentido. Meu irmão mais velho está morto, não sei da onde ele tirou isso.  Ele estava vendo coisas. Eu não vi ninguém”, mentiu Al.

“Uau. Ele parecia falar com tanta veemência!”, disse Natalya, fazendo uma pausa, “Enfim... Achamos um corpo completamente carbonizado lá dentro. Ele havia sido espancado antes, tinha sangue dele no chão, metros de onde ele havia sido queimado vivo. Vim aqui te mostrar isso”, disse Natalya, mostrando a foto do corpo.

Era um corpo completamente carbonizado. Estava sentado no chão, aparentemente, com a boca escancarada, como se tivesse morrido dando um grito com todos seus pulmões. Era medonho.

“E quem seria? Cruzaram o sangue encontrado com o registro dos agentes?”, perguntou Al.

“Sim. Era do seu ‘amigo’. O Dietrich”, disse Briegel.

Al ficou abismado. Era Dietrich que seu irmão havia queimado vivo naquela hora que ele cruzou o corredor. Porque justo ele?

“Sim, eu fiz essa mesma cara. Só ouvi boatos de que ele estava vivo, mas pelo visto agora não está de forma alguma. E esse incêndio na Bolsa? O fogo destruiu o VOID. Só existe carcaças de informática lá. Vamos demorar meses até achar a Dawn of Souls”, disse Natalya.

“Espero que encontrem. Ninguém pode colocar as mãos nisso. Menos ainda se for um desses malucos que seguem o Ar que estão soltos por aí”, disse Al.

Natalya encostou mais perto de Al. Embora a idade tivesse lhe trago rugas, ainda era possível ver seus belos olhos azuis por detrás dos cabelos louros grisalhos.

“Você vai voltar pra onde você está vivendo escondido?”, perguntou Natalya, olhando nos olhos de Al.

“Sim. Não vou morar por aqui. Nunca vou ter paz se morar em Londres. Gosto muito daqui, mas a velha me fez ter uma vida comum, longe desse lugar. É bom viver sem ninguém sabendo quem você é realmente, com outra identidade, em algum país mais tranquilo”, disse Al.

Natalya deu um tapinha nos ombros de Al. Balançou a cabeça afirmativamente e deu uns passos pra trás, ainda mantendo o contato visual com Al. Depois de uns passos se virou e foi andando. Parecia bem mais leve. Apesar da missão falhada.

“Ei, Natalya!”, gritou Al. Natalya Briegel se virou, gesticulando com a cabeça perguntando o que era.

“Você vai voltar a ativa?”, perguntou Al.

Natalya deu um sorriso, e balançou a cabeça, confirmando.

“Boa sorte, então”, disse Al, encorajando-a.

- - - - -

7 de dezembro de 2012
8h00

Al estava se aproximando da sala. Era tudo muito chique, com carpetes finos, paredes de madeira. Haviam dois membros da guarda-real guardando a porta. Ao verem Al se aproximando, abriram as portas.

Estavam lá, a Rainha, o Príncipe sucessor ao trono, o Primeiro Ministro, alguns ministros, Agatha, Natalya Briegel, Neige e Victoire. Todos bateram palmas quando Al entrou pela porta.

Al estava com cara de que não gostava muito daquilo. Aquela cena lhe trazia memórias ruins do seu passado. E saudades de sua falecida esposa também. Já haviam se passado anos desde a última vez que entrara lá.

“Bom, eu sei que você não gosta de formalidades, mas achei que seria bom ainda assim te convidar pra vir até aqui, no palácio de Buckingham”, disse a velha.

“Corta esse papo, velha. Espero que não venha me pedir pra ficar. Eu não sou nem um pouco patriota, tô nem aí pra esse país”, disse Al.

Nessa hora todos os ministros olharam entre si quando ouviram Al chamando a Rainha de “velha” e falando as outras coisas. Agatha, Victoire, Neige e Natalya apenas deram risos abafados. Estavam acostumadas.

“Não precisam ficar assim, cavalheiros. O que esse jovem falou não foi nada demais, não é mesmo?”, acalmou a Rainha, piscando com um olho pra Al.

Ela virou de costas e foi até sua mesa, pegando algo que Al não conseguiu enxergar.

“O que quer? Fala logo”, disse Al.

“Duas coisas. A primeira é te presentear com uma das maiores honrarias do Império Britânico”, disse a rainha, mostrando uma caixa, “Você é agora um membro da Ordem de Garter”, ela abriu uma caixinha com a linda cruz ornamentada pra se usar em trajes oficiais.

Ao ver, Al fechou a caixa com brutalidade, quase pegando junto o dedo da Rainha.

“Sabe que não posso aceitar isso, velha. Minha esposa faleceu pra me tornar ‘Sir’, seis anos atrás. Essa coisa pode ser a maior honraria, mas não pense que vou ficar andando por aí ou entrando nas reuniões de grã-finos que o Charles organiza aí”, disse Al, bem rude.

“Eu sei. Eu esperava que você não iria aceitar, mas de qualquer forma você já é. E não aceitamos devoluções, menos ainda período de carência”, disse a Rainha, sorrindo, como se tivesse ganhado de qualquer jeito.

“Ah, foda-se essa merda...”, disse Al, se virando, indo embora.

“Espera! Tem mais uma coisa!”, disse a Rainha.

Dessa vez era um certificado. Al se aproximou e viu.

“Você é o agente L. Só de ter o ranking de uma letra já é uma honraria dentro da Inteligência internacional e a dessa país. Mas agora, mesmo depois dessa missão falha, achamos que você merece entrar no ranking das lendas, assim como seu irmão mais velho foi”, disse a Rainha.

Al pegou o certificado com suas mãos. Leu calmamente e derrubou lágrimas.

“Você, Alexander Saint-Claire, de agora em diante vai ser imortalizado como o agente ‘alfa’. Codinome ‘fishy’. Assim como seu irmão, que se tornou o agente...”, disse a Rainha, sendo interrompida por Al:

“Agente ômega. Codinome... Arc”, completou Al.

“De fato”, disse a rainha.

Al aceitou e depois os ministros vieram cumprimenta-lo, e tirar fotos com ele, segurando sua mão. Al apenas olhava pra baixo, cabisbaixo, como se parecesse um pouco frustrado. A sessão toda durou apenas alguns minutos, e Al se dirigiu pra saída, com Victoire, Neige, Natalya e Agatha.

Perto da saída Neige puxou assunto.

“Ei, amigão... Porque você chorou daquele jeito? Emoção?”, perguntou Neige.

Al abriu a pasta com o certificado.

“Olha isso. Viu que letra eu sou?”, disse Al, mostrando o certificado, “Eu fiquei justo com... Alfa”.

“E daí? Quase ninguém conseguiu isso na história! Uns cinco ou seis agentes só! Você virou uma lenda!”, disse Neige.

“Pois é. Mas nem assim eu fico perto do meu irmão... Eu sou alfa, e ele está na outra ponta... É o ômega. Parece que o nosso destino é esse mesmo. Viver eternamente separados... Sem nem mesmo aqui ficarmos juntos, como irmãos”, lamentou Al.

Neige engoliu seco. Logicamente talvez não parecia ser algo tão comovente, mas no coração de Al aquilo tinha um significado enorme. Victoire, Agatha e Natalya estavam na frente, conversando.

“Parece que vou ter que me ausentar. Vou pressionar governos e empresas com leaks, informações confidenciais, já que a mídia nunca vai ser confiável. Dar ao povo o que o povo não pode ver, isso é direito deles. Vou me juntar a um cara que me apresentaram aí, e vamos fazer uma bagunça. Meus dias de NSA vão me valer de algo, tenho segredos bem cabeludos a serem revelados. Mas isso vai me custar minha liberdade, mas...”, disse Neige, olhando pra Victoire, “...Parece que vou ter a ajuda de alguém bem especial”.

“É bem a sua cara. Mas faz isso mesmo. Ela quem vai te proteger?”, perguntou Al.

“Isso. Ela irá junto, comigo”, confirmou Neige.

“Não existe ninguém mais forte do que ela. E acho que contigo ela vai ser muito feliz. E vai enfim me esquecer. Por favor, se esforce nisso, tudo bem? Só um novo amor pode curar o coração dela. Essa missão estraçalhou o coração dela, e eu nunca vou conseguir ter uma relação com ela. Jamais.”, pediu Al.

“Ah, nossa! Pensei que você ia ficar uma fera! Mas sim, estou muito feliz. A gente se beijou, e... Acho que tem uma química legal entre a gente. De qualquer forma minha vida está nas mãos dela. Literalmente...”, disse Neige.

Haviam táxis esperando eles na saída. Todos se cumprimentaram. Victoire apenas deu uma olhada de longe pra Al, balançando a cabeça pra baixo levemente, e dando um sorriso tímido antes de entrar no táxi preto londrino. Al apenas olhou pra ela, sem esboçar nada.

“É isso. Acho que é um adeus, meu amigo”, disse Neige, abraçando Al, “Vai pro Heathrow hoje ainda?”.

“Não. Meu voo é só amanhã. Ainda tenho uma coisa a fazer

Comentários

Postagens mais visitadas