Amber #76 - O pato Dodô e a corrida em comitê.

“Quem é você? Se apresente!”, gritou Liesl, apontando sua arma para Dirlewanger.

“Meu nome é Oskar Dirlewanger, ao seu dispor senhorita. Eu ouvi uns boatos que haviam um tal de Briegel por aqui, pensei em dar um alô pro meu amigo! Mas pelo visto só tem mulheres aqui. Viram um tal de Roland Briegel por aqui?”, disse Dirlewanger.

Alice ficou enfurecida quando ouviu que aquele oficial nazista estava atrás do seu pai. Kovač ao perceber que era Dirlewanger na sua frente, ficou aterrorizado por dentro. Foi caminhando calmamente para longe dali. Anastazja, observadora e perspicaz como sempre, percebeu que o tcheco empalideceu quando ouviu sobre Dirlewanger. Sua mão tremia, mas ele não disse nada, e tampouco expressava o pânico que parecia estar sentindo por dentro. Julgando que ele talvez estivesse se protegendo, Anastazja ficava discretamente observando o local onde o físico sorrateiramente ia.

“O que você quer com papai?”, perguntou Alice, ameaçadoramente.

“Puxa, que felicidade! Vocês o conhecem? Que sorte! Pois então avisa ele que o amigo de sempre dele, Oskar Dirlewanger está aqui. Ele tá ali naquele barraco?”, disse Dirlewanger apontando para a cabana, “Ei, vão lá ver se ele está lá, andem logo!”, ordenou Dirlewanger aos outros três soldados do seu pelotão. Os três soldados não gostaram muito do tom de autoridade de Dirlewanger, e pararam no primeiro passo, voltando o olhar para o capitão do pelotão:

“Ei, não é você quem manda aqui, seu zé-ninguém!”, disse um dos soldados. Mas os três pareciam todos querer ao mesmo tempo exercer a liderança, pois nenhum deles baixou a cabeça pra ninguém, e começaram a trocar insultos entre si. Foi no meio disso que Dirlewanger gritou, chamando a atenção de todos.

“Escuta aqui, seus merdas! É tão difícil assim cumprir uma ordem? Eu sou o pato Dodô aqui, e vocês são um bando de galinhas cagonas e obedientes”, disse Dirlewanger ameaçadoramente, “Se seguirem certinho o que tô mandando, todos vão ser muito bem recompensados!”.

Kovač estava desesperado. Suava frio enquanto continuava pálido, tentando ao máximo não se virar para que seu rosto fosse visto por Dirlewanger. Mas os passos tinham que ser cuidadosos, teria que ser o mais natural possível para que não levantasse nenhuma suspeita.

“Ele não está lá. A Briegel que vocês ouviram falar sou eu, Alice Briegel. Estamos buscando meu pai também, o senhor Roland Briegel”, disse Alice, e nessa hora Dirlewanger expressou um alto: “Isso! Ele mesmo!”, como se confirmasse o que haviam falado há momentos atrás, interrompendo Alice, que retomou o assunto depois de ser cortada de maneira extremamente indelicada por Dirlewanger, “E mesmo se soubéssemos, francamente, o senhor não nos inspira muita confiança”.

“Tá, que se exploda. Matem todos”, ordenou Dirlewanger no momento depois que Alice disse sua última fala, e seus soldados empunharam as armas e apontaram para Liesl, Alice e Anastazja. Antes de puxarem de gatilho, todos ouviram uma ordem de Dirlewanger: “Não, espera, não atirem ainda! Quem é aquele velho ali?”.

Kovač fingiu que não ouviu e continuou caminhando.

“Ei, ei, ei! Vem cá! Você parece alguém que os meus superiores mandaram eu vir atrás! Espera aí, velhote!”, disse Dirlewanger, enquanto descia e corria até Kovač, que não aguentou de medo e olhou para trás. Na hora que Dirlewanger viu seu rosto o reconheceu no mesmo instante, “Não acredito! Posso não ter achado meu amigo Briegel, mas achei o Kovač! Tomaz Kovac! Puxa, se eu te levar eles me disseram que eu teria até mesmo meu batalhão! Enfim vou poder entrar na SS! Vem cá, vamos não vamos perder tempo!”, Dirlewanger agarrou no braço de Kovač e o puxou. O rosto do tcheco mostrava um imenso desespero, enquanto empregava todas suas forças para se soltar:

“Não, senhor, por favor, me solta! Eu não quero ir, eu não posso ir!”, implorava Kovač, mas Dirlewanger parecia não dar a mínima pros pedidos de Kovač, apenas o puxava, por entre as pedras, galhos, como se ele fosse um moribundo, “Liesl, por favor, me ajuda, faz alguma coisa! Eu não quero morrer!”.

“Ei, Dirlewanger, não é?”, disse Liesl, mas Dirlewanger parecia não dar a mínima, inclusive fazendo um sinal para que executassem todas ali, voltando a apontar a arma para elas, “Antes de atirar pode ao menos nos responder o que você tanto queria com o coronel Briegel?”.

Dirlewanger ao ouvir o nome de Briegel virou com um sorriso frio e psicótico para Liesl enquanto continuava a puxar Kovač sem a menor cerimônia.

“Isso não é óbvio? Eu quero lutar com ele! Ele pode ser se safado da outra vez, mas sempre tenho um plano novo pra diversão!”, disse Dirlewanger. Os soldados estavam com as armas engatilhadas prontos para atirar nelas em qualquer momento. Anastazja em pânico fechou os olhos e jogou seu rosto no ombro de Alice, que também com medo de que morreriam ali mesmo também fechou os olhos. Mas Liesl, apesar de machucada pela luta contra Sundermann antes, e também pela corrida pela vida em Varsóvia sabia que tinha que arriscar tudo ou nada.

“Eu sou discípula dele! Você pode lutar comigo!”, gritou Liesl, e nessa hora Dirlewanger parou e a encarou, mandando seus soldados baixarem as armas, “Posso te dar o combate que você está esperando. Ele me ensinou tudo, eu sou a aluna mais avançada dele. Eu sou a luta que você tanto quis com o coronel, mas se eu ganhar, você deixa o Kovač com a gente e dá o fora daqui”.

Dirlewanger sem pensar duas vezes jogou Kovač na direção de Liesl e começou a arregaçar as mangas do seu uniforme.

“Puxa, eu adoro bater em mulheres! O grito de vocês me dá tanto tesão, parece que eu tô metendo forte em vocês quando vocês gritam de dor quando eu bato. É tão bom!”, disse Dirlewanger se aproximando de Liesl, “Vamos ver então se o Briegel treinou você mesmo!”.

“Liesl!! Não faça isso! É maluquice!!”, gritou Alice desesperada. Vendo o estado de Liesl, por mais que Dirlewanger fosse fraco, a luta não duraria muito tempo. Era um perigo imenso.

Oskar Dirlewanger foi então pra cima de Liesl com o punho cerrado. A primeira coisa que Liesl percebeu ao assumir posição de defesa era que ele não parecia ter muita habilidade pra luta. Não se joga com seu corpo assim pra cima do outro daquela maneira, parecia um golpe de um amador.

“Minha nossa, mas a Liesl tá machucada! Isso é loucura, Alice!”, disse Anastazja para Alice enquanto Liesl desviava sem problemas da investida de Dirlewanger, “Ela não tem nenhuma chance contra ele! Você sabe algo sobre ele?”.

“Muito pouco, Anastazja. Não tenho certeza se papai me contou que ele tava em Guernica, eu não me recordo agora. Mas independente disso você tem que ir atrás de ajuda, Anastazja. Eu vou ficar aqui com o Kovač, quero que você vá pra Plosk e procure aquele grupo de poloneses, aqueles que estavam montando aquela guerrilha”, pediu Alice, “A única coisa que tenho certeza sobre esse Dirlewanger é que papai disse que ele é um completo psicopata, e ele não mediria esforços ou ética numa luta! Temos que proteger Liesl a todo custo!”.

“Você é rápida, e ótima na esquiva!”, disse Dirlewanger, que com seus socos desengonçados não conseguia de forma alguma acertar Liesl.

Liesl não respondia nenhuma das provocações. Percebera que Anastazja estava voltando no caminho pra Plosk, talvez para pedir ajuda, enquanto Kovač ficava ao lado de Alice observando tudo. Um certo alívio e felicidade foi sentido por ela.

E então um soco, pesado como uma bigorna, a acertou em cheio no rosto.

Liesl por alguns segundos quase apagou, mas voltou a si, sem chegar a cair, se apoiando em uma árvore.

“Liesl, cuidado!!”, gritou Alice, e Liesl conseguiu se desviar de uma investida de Dirlewanger no último segundo.

“Certo, entendi. Você parecia tão concentrada, e aí você simplesmente por um segundo se distraiu”, disse Dirlewanger, que já estava arfando de cansaço depois de tanto se movimentar e errar golpes em Liesl.

“Você luta muito mal, seus golpes são muito inconstantes e mal colocados”, disse Liesl, enquanto limpava um pouco de sangue que escorria da sua gengiva machucada, “Mas até que pra um magrelo você bate forte”.

“Escuta, eu não luto porcaria nenhuma. Mas eu sempre ganho, e vi que você não tem a mesma frieza e foco na luta que o Briegel tem. Tô basicamente te contando qual vai ser minha estratégia de luta, te dando uma chance de ouro, não acha?”, disse Dirlewanger.

Liesl cuspiu um pouco de sangue no chão e novamente olhou para Dirlewanger. Anastazja, que foi a distração de antes já estava longe. Não havia mais motivo para se perder o foco.

“Agora vou prestar atenção. Aquela polonesa já foi embora, pode deixar que vou acabar com você sem problemas”, disse Liesl, que apesar de considerar seus ferimentos, ainda tinha muito mais habilidade de luta do que o jeito sem treino de Dirlewanger.

Nessa hora Dirlewanger olhou para os outros três homens do seu pelotão e deu uma piscada com os olhos junto de um sorriso tímido. Liesl nessa hora ficou assustada, não sabia o que esperar. Pensou inclusive que essa era uma ordem pra abrir fogo contra elas.

“Sem essa, Dirlewanger! Se você atirar, eu mato o Kovač!”, disse Alice, pegando uma faca e colocando no pescoço de Kovač. É óbvio que Alice não seria capaz disso, mas foi meio que um instinto do momento, sabendo da importância de Kovač para Dirlewanger.

Boa, Alice! Ele disse que quer o Kovač vivo! Assim ele não vai abrir fogo contra a gente!, pensou Liesl ao ver o movimento de Alice, acenando com a cabeça. Talvez Kovač tinha noção que Alice não seria capaz de mata-lo ali, mas Dirlewanger com certeza não sabia o que Alice era capaz. Embora o movimento fosse correto, não era exatamente esse o plano que Dirlewanger tinha em mente.

“Boa tentativa, mocinha. Mas não era isso que eu tava pensando”, disse Dirlewanger, com um tom carregado de ironia, “Ei, camaradas, não faz muito sentido eu ficar aqui ralando e vocês aí sem fazer nada, não é mesmo? Escuta... Vocês já comeram uma pretinha?”, nessa hora Alice arregalou os olhos quando viu que era com ela, “Eu ouvi falar que elas tem bundas e peitos enormes, com uns mamilos macios e gostosos. Dão pra ir lá experimentar e depois me dizerem como foi enquanto eu dou uma surra na pupila do Briegel pra desestressar?”, nessa hora Dirlewanger olhou de maneira sedenta para Liesl, que ao ver as intenções do alemão ficou ainda mais enojada por ele, “Mocinhas novinhas igual você tem cheirinho de doce. Vou adorar arrebentar seu cabacinho, menininha!”.

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