Amber #132 - Suspicious Minds (9) - O vaso de flores brancas.

O simpático garçom sorriu ao ver aquele montante de dinheiro no bolso de Schultz. O que importava era que ele estava feliz em ver que havia ganhado uma generosa gorjeta para passar apenas a informação de uma pessoa no meio daquela festa enorme. Sua felicidade, junta da sua imaturidade eram tão grandes, que ele nem sequer checou o que o alemão havia colocado em seu bolso. Schultz havia colocado um bolo de notas alemãs, o Reichsmark. Talvez seria um pouco difícil para aquele jovem trocar por yuan ou iene.

“O senhor consegue ver um vaso de flores brancas, perto da janela, ali na sua esquerda?”, disse o garçom, baixinho para Schultz, que discretamente olhou na direção que ele dizia.

“Sim, achei”, confirmou Schultz.

“Consegue ver duas mulheres conversando ali ao lado do vaso?”, perguntou o jovem, o Schultz às localizou.

“Sim. Não me diga que Chang Ching-chong é uma mulher?”, disse Schultz, e o garçom deu uma risada.

“Não, não! Chang Ching-chong é o homem ao lado delas, de gravata borboleta azul escura”, disse o garçom, e Schultz rapidamente gravou em sua mente quem era.

Chang Ching-chong causou de início um pouco de estranheza em Schultz. Ele era realmente bem gordo. Por mais que o terno disfarçasse um pouco a barriga, era estranho imaginá-lo sem aqueles artifícios para disfarçar sua imensa pança. Isso causava um bocado de nojo em Schultz também. Chang Ching-chong era careca, tinha uma quantidade rala de cabelo dos lados da cabeça, mas a parte de cima, sem nenhum fio, refletia as luzes dos lustres presentes ali naquela sala.

“Achei. Muito obrigado mesmo, meu jovem”, disse Schultz o dispensando, e terminando de dar o último gole naquela cerveja. O jovem agradeceu fazendo uma leve reverência e deixou Schultz.

O alemão então olhou para Tsai, e seus olhares se encontraram. Ela estava um pouco longe, disfarçando que estava com aquele gancho de telefone, voltada para a janela. Se casais realmente possuem essa estranha magia de conseguirem se comunicar apenas com olhares, Schultz sabia que devia usar essa coisa nesse momento.

Tsai, do outro lado, olhava para Schultz sem entender direito o porquê dele ficar com o olhar sobre ela, como se quisesse dizer alguma coisa. Ela apenas sentiu ele exalando uma confiança depois que ele lhe deu um sorriso discreto, onde aquela expressão dizia tudo.

E então Schultz deu uma piscadinha para ela, e se virou, caminhando para onde ela não conseguia ver. Obviamente Tsai não sabia exatamente o que Schultz estava tramando, mas o jeito era confiar. Ele nunca havia dado motivos para que não confiasse nele, então o jeito era deixar que ele fizesse corretamente sua parte.

Enquanto Schultz se aproximava do seu alvo, via que seria melhor tentar contornar o salão, indo na direção de onde estavam as janelas. Disfarçando com copos na mão, fingindo cumprimentar as pessoas na festa, Schultz ia avançando até o local onde estava Chang Ching-chong.

Ao olhar para a janela para dar uma disfarçada, vira Ho do outro lado da mureta, no exato lugar em que a haviam deixado. Ela parecia distraída, com uma cara pensativa, e Schultz nesse momento viu um homem trajando roupas bem chiques se aproximando dela com um carrinho com aparentemente uma cloche protegida por um lençol branco.

Puxa, uma mendiga vai tirar a barriga da miséria hoje. Não imaginava que teria esse tipo de gente caridosa aqui, pensou Schultz, ao virar o rosto e ver o seu alvo a pelo menos dois metros.

Era a hora de avançar. Chega de ficar dependendo da Tsai, de ser salvo por ela toda hora. Schultz queria mostrar serviço. Desde que ele chegou na China tudo tem dado errado, e ele sentia que agora era a hora da virada. A hora das coisas começarem a dar certo. A hora dele mostrar para Tsai que ele não era apenas um saco de batatas para ser levado por ela. Ele tinha utilidade. Em outras palavras, Schultz sentia que agora seria o momento em que ele seria aquele mesmo Schultz da Europa, alguém que ajuda, e não atrapalha.

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Ao longe, do lado oposto de onde estava Schultz, um outro chinês erguia sua taça, sorrindo para o garçom. Parecia a confirmação de uma ordem dada, uma saudação pelo êxito. O garçom que havia passado a localização de Chang para Schultz confirmou com a cabeça, olhando para o chinês que o saudava.

Foi então que ao se virar, o chinês esbarrou em alguém.

“Olhe por onde anda!”, disse o chinês, derrubando em cima de si um pouco do champanhe.

“Me desculpe, senhor”, disse uma mulher, vestida com extrema elegância, fazendo uma reverência, pedindo perdão pela desatenção, “Eu estava distraída”.

O segurança do velho chinês veio então puxando-o para outro lugar calmamente, mas o chinês fixou o olhar naquela mulher. Era claro em seu rosto que não se tratava de uma chinesa, e sim uma japonesa. Quando ela ergueu o seu rosto depois de baixa-lo para pedir desculpas ele ficou assustado. Ele a conhecia de algum lugar. Por mais que o velho tentasse resistir ao seu segurança o que puxava, ao mesmo tempo ele não conseguia lembrar exatamente da onde ele reconhecia aquele rosto.

E do outro lado, a japonesa, sorria enquanto o encarava enquanto o velho se perdia no meio de todas aquelas pessoas, sendo levado pelo seu segurança.

“Tudo bem, Aomame? Eu vi que aquele velho esbarrou em você!”, perguntou Tengo, trazendo duas bebidas em suas mãos, e Aomame voltou seu olhar para seu amigo.

“Não, não, está tudo bem, Tengo. Acho que achamos nosso passaporte até o Saldaña”, disse Aomame, a japonesa que o velho chinês que enganou Schultz havia esbarrado.

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