Amber - Encontros sob a sombra da aveleira (4)

29 de setembro de 1883

“Mãe, escuta, você lembra daquela mulher que veio aqui na terça?”, perguntou Briegel, antes de sair de casa para o encontro com Poincaré. A mãe de Briegel ouviu a pergunta de seu filho e se aproximou do batente da sala.

“Sim, eu lembro dela sim. É com ela que você tem se encontrado, não?”.

“É ela sim. Mas eu lembro que você fez uma cara estranha, por acaso você a conhece?”

“A senhorita Dominique? Claro que eu a conheço! Ela estava na festa, inclusive conversou contigo!”, disse a mãe, e Briegel ficou pensativo por um momento.

Dominique. Então esse é o primeiro nome dela. Dominique Poincaré, então?, pensou Briegel por um momento, antes de se despedir de sua mãe para ir até o encontro com a Poincaré.

Porém quando Briegel chegou, ela não estava lá. Ele olhou no seu relógio de bolso e vira que ainda tinha chegado mais cedo do que havia há dois dias atrás. Quinze minutos antes do combinado. A sombra da aveleira estava bem convidativa, e ao se aproximar da árvore sentira uma brisa refrescante que parecia fazer o gramado dançar de um lado para o outro. Ele se sentou e ficou observando a paisagem, protegido pela sombra da árvore de avelãs.

O clima estava próspero para tirar uma soneca.

“Monsieur Falkenhayn? Monsieur Falkenhayn?”, disse uma voz feminina, e Briegel acordou lentamente. Quando ele viu Poincaré abriu um sorriso enquanto se espreguiçava.

“Puxa, que horas são? Tirei uma soneca aqui e perdi totalmente a hora”, disse Briegel, puxando o relógio e vendo que já passava das uma e vinte, “Puxa, acho que dessa vez foi a senhorita quem se atrasou”.

Poincaré sorriu e tirou uma toalha quadriculada do colo, a estendendo sobre o chão. Ela elegantemente se sentou, mesmo de vestido, e Briegel também se sentou, se encostando no caule da árvore. Não havia chá, não havia a mesinha de tampo de vidro, e menos ainda as cadeiras brancas.

“Me perdoe, hoje tive uns imprevistos, não consegui preparar o chá, nem todas as coisas que sempre aprontava. Mas achei que deveríamos nos encontrar de qualquer forma. Antes tarde do que nunca”, disse Poincaré, e Briegel confirmou com a cabeça.

De início Briegel ficou com uma dúvida em sua cabeça. Chamá-la de Dominique, pelo primeiro nome, que sua mãe havia lhe dito? Mas prontamente chegou a conclusão que era melhor não fazê-lo. A senhorita Poincaré não havia dito que se chamava Dominique, então seria indelicado, além de parecer meio obra de fofocas, chamá-la pelo nome que ela não havia lhe dado. A melhor opção era manter as aparências, e só chamá-la de Dominique assim que ela lhe desse a liberdade.

“Gostei, fräulein Poincaré. É bom dar uma mudada, se sentar na grama, sob a sombra da árvore”, disse Briegel, e ela assentiu com a cabeça, “E a lição de hoje, qual vai ser?”.

“Verdade! Já passamos um pouco do tempo, então não temos motivo para enrolar. Teremos duas lições hoje! A primeira é a intuição”, disse Poincaré, direta.

“Intuição? Mas ela não é ‘aquela voz’ que nos dita para ir entre uma opção x ou y?”, perguntou Briegel, e Poincaré confirmou.

“Em partes sim. Mas é uma forma muito simplória definir apenas assim. Vamos retomar: começamos com o pensamento, formulando em nossa cabeça e visualizando o objetivo. Depois partimos para a palavra, que é a energia, é o impulso para a realização”, disse Poincaré, fazendo uma rápida revisão, “Agora a intuição, é o que vai nos guiar para chegar no objetivo que nossa fala criou”.

“Não entendi”, disse Briegel.

“A mente cria a semente, a palavra semeia, mas muitas vezes não sabemos exatamente onde está essa árvore, ou em que direção ela está nos esperando. E a vida muitas vezes é como um imenso labirinto, com milhões de possibilidades, e muitas vezes ficamos a vida inteira tomando caminhos que ao invés de nos aproximar do objetivo, nos fazem ficar mais e mais distantes”, disse Poincaré.

“Imprevistos na vida. Como o que aconteceu hoje com você?”, perguntou Briegel, e ela confirmou com a cabeça.

“Exato. Muitas vezes para se alcançar um objetivo existe uma linha reta até ele. Até podem ser poucos passos, mas é necessário que passamos por essas experiências. Podem ser coisas boas, ou coisas ruins, mas o que importa é que todas elas são uma unanimidade quando nos referimos ao quanto crescemos por passar por essas experiências”.

“Acho que entendi. Pode dar um exemplo?”, pediu Briegel, e Dominique se prontificou:

“Muitas vezes vamos dar de cara em um muro imenso. Um muro que parece intransponível, até. Queremos dar a volta e ir pelo outro lado, mas a verdade é que o nosso objetivo final está muitas vezes logo atrás desse grande muro. E que o tempo que perderíamos buscando atalhos, olhando para o lado, ou até eventualmente desistindo, fazem com que tudo aquilo que sonhamos e que nossas palavras criaram, vai ficando cada vez mais distante, inalcançável”.

Briegel confirmou com a cabeça, e ela prosseguiu:

“É aí que entra a intuição. Porque na vida podemos encontrar bifurcações que nos colocarão duas escolhas na nossa frente. Podemos acabar encontrar desvios que transformarão o caminho reto em sinuoso, subitamente. Ou então pessoas que criarão obstáculos, dificultando nosso caminho”.

“Intuição? Como uma bússola?”, perguntou Briegel.

“Isso mesmo. A intuição nos diz para onde seguir, que rumos tomar”, respondeu Poincaré.

“Mas como vou saber que é minha intuição, e não, por exemplo, medo de seguir em frente, quando uma adversidade aparecer?”, perguntou Briegel.

“O que guia essa bússola chamada intuição é a vontade sincera e verdadeira de chegar lá. Não é errado termos objetivos, anseios. Mas também existe a segunda coisa que eu queria te ensinar hoje. Essa coisa é o que fará você atravessar os muros, mesmo que esse mesmo apareça justo no momento em que você estiver prestes a alcançar o objetivo”.

“É bem didático isso tudo. Então não preciso temer quando encontrar um muro?”.

“Não, jamais! Pode ser que apareça mesmo um muro, e a gente se sinta incapaz de seguir até nosso objetivo. Por isso, monsieur Falkenhayn, o senhor não precisa fazer essa jornada sozinho”.

“Sozinho?”.

“A caminhada para um objetivo é longa, mas a gente nunca consegue chegar lá apenas com as nossas pernas. E quando somos ajudados, a gratidão que nos preenche é algo único. Mas mais importante do que ser ajudado, é ajudar”.

“Oferecer ajuda antes de sermos ajudados? Não faz muito sentido isso”, disse Briegel.

“Podemos perder o foco das coisas importantes ao nosso redor ao focarmos apenas no nosso objetivo. Porém nunca devemos acabar com amizades, enganar as pessoas, ou usá-las. Muito pelo contrário! Tudo na vida que a gente planta, a gente vai colher. Pode ser até que pisar em uma pessoa te fará superar o muro que apareceu na sua frente, porém o preço disso será cobrado mais para frente, e voltará com certeza em coisas ruins. Mas se você ajudar a pessoa a subir primeiro e depois ela lhe estender a mão, os dois se ajudarão, e você seguirá rumo ao que busca, e a pessoa irá rumo ao que ela busca, e todos ficarão felizes no final”.

“Entendi. Nunca deixar de fazer o bem, é isso?”

“Exato! Esse bem que a gente planta nos protege, e faz nosso destino mudar. Digo coisas pequenas mesmo, não precisa fazer algo grande. Essa sinceridade nos atos inspira as pessoas ao nosso redor, e essa bondade vai se amplificando, e assim como somos inspirados, podemos inspirar outros também, que inspirarão outros, num ciclo até o infinito!”.

“E toda essa energia vai nos guiando até nosso objetivo final. Entendi”.

Poincaré nesse momento sorriu para ele. Os olhos dela estavam marejados. O coração de Briegel nesse momento palpitou mais forte. Ele estava completamente sem jeito.

“Não tenho palavras pra descrever minha gratidão, fräulein Poincaré”, disse Briegel, estendendo a mão. Dominique deu-lhe a mão, num aperto caloroso e gentil. Briegel prosseguiu: “Todos esses dias foram excelentes. Me ajudaram a ter uma outra visão da vida, e de tudo. Não consigo me imaginar antes dessas coisas bacanas que você me ensinou, e ao mesmo tempo fico imaginando até onde tudo o que me ensinou me levará”.

Poincaré pousou sua outra mão sobre a mão de Briegel, que ainda a cumprimentava. Ela olhou para as mãos entrelaçadas e uma lágrima brotou dos seus olhos.

“Eu também aprendi muito, monsieur Falkenhayn. Espero te ver de novo em breve!”, disse Poincaré, e os dois balançaram as mãos.

Briegel se ergueu, ajeitando sua roupa.

“Com certeza nos veremos de novo. Mal posso esperar!”, disse Briegel, antes de se despedir, “Até breve, mademoiselle Poincaré”.

Poincaré se ergueu e fez uma breve reverência, sem sair do lugar.

“Até o nosso próximo encontro, herr Falkenhayn. Ficarei feliz em ouvir sobre o seu progresso!”, disse Poincaré, e os dois trocaram acenos enquanto se despediam.

E então o jovem Briegel deu uma última e demorada olhada para a donzela Poincaré enquanto andava até a trilha que ele caminhava para chegar em casa. Ela ficou em pé, olhando-o ir embora, até o momento que o perdesse de vista. E com a sincera esperança de que tudo aquilo que ela lhe havia ensinado fosse empregado para o bem, e que aquele jovem se tornasse um grande homem, agora que entrava na difícil fase adulta.

Os dias foram se passando. E logo os dias se tornaram semanas. E depois, meses.

Briegel prestou os exames e depois de muita expectativa, foi aceito. O capitão que deu o aval para que o jovem Briegel fosse aceito não sabia descrever exatamente o que viu naquele jovem. Talvez ele nem tivesse tanto potencial assim, mas tinha um brilho no olhar que mostrava que, mesmo se ele não tivesse o potencial, ele estava pronto para desenvolver, crescer, e mostrar para o que era capaz.

Aquele era o primeiro passo de uma carreira militar brilhante, onde o ápice talvez tenha sido lutar em plena Primeira Guerra Mundial (1914-1918), formando junto de outros amigos o pelotão Kaisertreue, cuja fama ultrapassava as fronteiras. Mas naquele ano de 1883, Heinrich Briegel ainda estava engatinhando. Contudo, a amizade com seu amigo de infância, Albert Pfeiffer, vendo as conquistas de seu amigo, mesmo ainda faltando dois anos para que pudesse se alistar no exército, já fazia o jovem Pfeiffer sonhar em trilhar o caminho ao lado daquele que considerava um irmão.

Quando enfim foi aceito no exército do Império Alemão, Briegel correu para a universidade em busca de Poincaré.

“Poincaré? Sinto muito, meu jovem. Não temos ninguém com esse nome aqui”, disse o diretor da universidade, verificando as fichas com os nomes do corpo docente do local, “Tem certeza que esse é o sobrenome?”.

E Briegel nessa hora ficou em silêncio, pensando. Era óbvio desde o princípio que ela havia mentido sobre o seu nome, igual ao que Briegel fez também, mas ele comprou tanto a personagem que ela havia feito, que acreditava piamente que ela era de fato uma Poincaré.

“Dominique. O primeiro nome dela era Dominique. E quanto a Dominique Poincaré? O senhor tem algum registro? É realmente urgente, e eu gostaria muito de me encontrar com ela”, disse Briegel, e o olhar de esperanças atingiu em cheio o diretor, que olhava ele por detrás de seus óculos. Aquele jovem realmente parecia interessado. O diretor deu um sorriso e se voltou para a prateleira, onde estavam as fichas com os dados dos professores.

“Dominique Poincaré? Sinto muito lhe dizer isso meu jovem, mas essa pessoa não existe”, disse o diretor, e por um momento Briegel sentiu uma pontada de frustração. Pensando em uma outra alternativa, alguma pista, algo que lhe pudesse lhe levar de volta aquela mulher, o jovem alemão teve os pensamentos interrompidos pelo diretor, com uma pasta na mão, e um sorriso no rosto, que lhe dizia: “Mas havia uma ‘Dominique’ sim. Acho que deva ser essa quem você está procurando!”.

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24 de dezembro de 1883

Dominique via a neve caindo lentamente pela janela de sua casa. A Suíça por ser envolta pelos Alpes, parecia muito mais fria que o resto da Europa. Mas isso não tirava o charme de sua cidade. Genebra estava iluminada, a neve branquinha naquele entardecer, tudo era convite para um chocolate quente e uma lareira.

Com um livro em mãos e uma caneca de chocolate quente na outra, Dominique se acomodou no divã, na frente da lareira, com um cobertor em cima das pernas. Leitora voraz, apesar de francesa, lia tranquilamente Goethe na língua original, e naquele momento tinha em mãos o livro “Os sofrimentos do jovem Werther”, uma obra do romantismo. Toda aquela dor do amor não correspondido a consolava de certa forma. E apesar de ter lido o livro já algumas vezes, toda vez que passava pelas suas páginas, ela se perguntava como teria sido sua vida se ela tivesse ficado em Heidelberg.

E acima de tudo, o que seria de sua vida se ainda tivesse contato com aquele jovem Briegel.

Enquanto lia, ouviu alguém batendo na porta. De início esticou o pescoço, buscando seus pais, mas se lembrou que eles haviam saído para visitar alguns amigos. Dominique pegou o cobertor, e se enrolou toda. E enquanto se levantava, ouviu novamente a pessoa batendo na porta.

“Já vai!”, disse Dominique, calçando os sapatos.

Quando abriu a porta ela tomou um susto.

“Uau. Você é realmente difícil de se encontrar”, disse o homem do outro lado da porta, “Professora de francês numa universidade alemã? Então era isso o que você fazia naquela universidade?”.

Era Briegel. Dominique ficou pasma quando o viu. Aquilo era inacreditável. Será que era um milagre de Natal? Era impossível imaginar que Briegel apareceria ali.

“Não acredito! Monsieur Falkenhayn! O senhor veio até Genebra? Mas o que te trouxe aqui?”, disse Dominique, e naquele momento não existia mais frio, não existia mais o vento gelado, não existia a neve, não existia nada. Seu coração estava a mil, e ela não acreditava no que seus olhos viam.

“Bom, não tenho porque mentir. Se eu dissesse que vim por causa de você, soaria estranho?”, disse Briegel, e nesse momento Dominique corou. Ela achou bonitinho essa declaração inocente dele, e um sentimento de felicidade a preencheu dentro do seu coração. Porém Briegel, sem experiência alguma, entendeu que aquele vermelho no rosto dela significava outra coisa, e tentou consertar o que havia dito, “Digo, na verdade eu disse que iria te contar se o seu método deu certo, você disse que queria ver o meu progresso”, disse Briegel, fazendo uma pausa, “Tenho novidades!”.

Dominique não tirava os olhos dele.

“Claro, por favor! Me diga! O que aconteceu com você, monsieur Falkenhayn?”.

“Briegel. Meu nome é Heinrich Briegel”, disse Briegel, enfim dizendo seu nome verdadeiro, “Acho que já chega de apelidos, você pode me chamar pelo meu nome verdadeiro agora”, ele fez uma pausa, olhando pro lado, buscando nas lembranças, antes de prosseguir. Porém, Dominique dava umas risadinhas contidas ao ouvir ele se apresentando, e ele a encarou sem entender o que se passava, perguntando-lhe: “Hã? O que foi?”.

“Eu sabia o seu nome, Heinrich Briegel. Eu sabia quem era você!”, disse Dominique, e Briegel ficou sem graça ao ouvir, “Me desculpe não ter falado antes, achei que iria te intimidar se eu desmentisse o ‘Falkenhayn’”.

O jovem Briegel deu um risinho e prosseguiu:

“Pois bem, resumindo tudo, consegui entrar no exército”, e nesse momento Dominique deu uns pulinhos, batendo as palmas, muito feliz. O alemão prosseguiu: “Não é o topo ainda, mas acho que depois que conseguimos alcançar um sonho, podemos sonhar outros sonhos maiores, não é mesmo? Agora o objetivo é entrar, crescer, e me tornar um capitão. Tenho até um amigo da infância que disse que também vai entrar, então acho que já tenho um companheiro para trilhar esse caminho junto!”, disse Briegel, se referindo a Albert Pfeiffer como sendo o tal amigo.

“Isso é incrível, Briegel! Minha nossa, meus parabéns! Como é bom saber que deu certo!”.

“Claro! Isso tudo é graças a você. Eu só tenho a agradecer por tudo o que você me ensinou, senhorita Dominique”, disse Briegel, e nesse momento ele quase deu um pulo, pois sem querer disse o nome real ela, e se apressou em consertar: “Dominique não! Quero dizer, Poincaré”.

Dominique deu uma risada doce. Aquela gargalhada fez Briegel enrubescer também. O som daquele riso era como um deleite quando tocava os ouvidos do alemão.

“Dominique sim, muito prazer”, ela disse, estendendo-lhe a mão, “Meu nome não é Poincaré. Meu nome verdadeiro é Dominique d’Uston de Villereglán. Agora me apresentando oficialmente”.

“Uau. Que complicado. Acho que vou levar um mês até conseguir falar isso”, disse Briegel, apertando-lhe a mão.

Depois que se cumprimentaram oficialmente com o aperto de mãos, Dominique continuava envolta por aquele cobertor olhando para Briegel.

“Eu te ensinei tanta coisa, não é mesmo? Te ensinei sobre projetar nossos desejos, para que eles se concretizem”, disse Dominique, “Eu não te contei, mas eu também desejei uma coisa. Uma coisa com todo meu coração”.

“É mesmo? E o que seria?”, perguntou Briegel, com uma cara curiosa.

“Desejei que nos encontrássemos de novo. E que nos tornássemos um casal. E que vivêssemos uma casa grande. E brincaríamos com a Brigitte, Roland e a Thérèse no carpete da sala”, disse Dominique, e nesse momento o coração dos dois bateu junto.

“Tenho que admitir, senhorita Dominique sei-lá-do-quê, eu nunca ouvi falar de uma mulher com tanta iniciativa quanto você!”

“Hahaha! É verdade, não é mesmo?”.

“Acho que vou soar redundante se eu disser que eu atravessei o país inteiro só pra vim de ver”, disse Briegel, sem jeito, “Mas agora que você propôs, não vejo a hora de partirmos do início. E sonharmos esse sonho juntos”.

“Pois então vamos partir do princípio, senhor Heinrich Briegel”, disse Dominique, se colocando de lado, e apontando com a mão para que ele entrasse, “Gostaria de tomar uma xícara de café?”.

E então Heinrich Briegel entrou. E antes mesmo do ano terminar, os dois começaram a namorar. Noivaram, e quando viram, já estavam se casando. Dois anos depois que se conheceram, Dominique trouxe ao mundo Brigitte, no ano de 1885. No ano seguinte, talvez a ideia original fosse que viesse Roland, mas veio outra linda menininha, Thérèse (ou Teresa, como todos a chamam).

O casamento feliz do princípio começou a murchar quando Heinrich - que também tinha o sonho de crescer dentro da carreira militar - começou a dedicar muito tempo para concretizar seu sonho. O tempo que tinha com a esposa foi ficando cada vez mais escasso, comparado com o tempo que ele ficava no quartel. Começou então a corrida armamentista na Europa, que culminaria na Primeira Guerra, exatamente como Dominique previra, e isso só o fazia ser mais e mais requisitado. A vida feliz e tranquila foi sendo substituída por diversos abortos espontâneos, dada à sua infelicidade e a ausência do esposo que ela tanto amou.

Em 1895 veio ao mundo Roland Briegel. E um ano depois, Dominique deu a luz a dois meninos gêmeos, Oliver & Richard Briegel. Por já passar dos quarenta, foi uma gravidez de risco. Os meninos nasceram, mas a mãe faleceu dias depois, por conta de complicações pós parto.

Briegel conseguiu tudo o que almejou. Terminou a carreira com a patente de general, se aposentando. Porém ao praticamente renegar sua família, todos os filhos cresceram tristes com a doutrina rígida e a falta de carinho do pai, que só buscava o êxito na carreira acima de tudo.

Heinrich Briegel eventualmente chegou no topo. Mas quando chegou lá, viu que estava sozinho.

Toda essa pureza do princípio do amor entre os dois como casal ficou apenas como um registro de uma época que nunca mais voltou.

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