In tune - Epílogo - Aquele que deposita flores.

Al sempre gostou de cemitérios. Sentia-se em casa. Gostava de ver as lápides, as datas de nascimento e falecimento das pessoas, as fotos, as flores. Via que em cada uma delas tinha uma vida que se foi. Haviam emoções, tristezas, felicidades, estórias. Ou então grandes histórias.

De frente com a lápide de seu irmão, Al depositara flores. Noriko estava do seu lado.

Era apenas uma lápide simbólica. Não havia nenhum corpo ali. E nunca teve.

"Era apenas sonífero. Mas fiquei feliz de você ter conseguido chegar. Mas estranhei esse crucifixo de madeira vagabundo que ela te deu", Noriko disse.

"Noriko... Obrigado. Mas, não pude te ajudar. O que você vai fazer agora? A Émilie é impossível, ela está muito longe de nós", Al perguntou.

"Eu... Vou até o final. Ele é meu filho, desde o momento em que me levaram ele, levaram uma parte de mim. Você vai entender quando tiver um", Noriko disse.

"Eu não entendo essas coisas que vocês dizem. Sempre fui uma pessoa sozinha no mundo, e desde que meu irmão se foi, não sei se conseguiria confiar em alguém", Al disse.

Noriko aproximou-se de Al e abraçou-o. Al não entendia o que ela queria com aquilo, e permaneceu imóvel. Ela sussurrou algumas palavras no seu ouvido:

"Escorregadio como seu irmão, huh? Vocês são duros na queda, mas seu irmão numa hora dessas teria já passado a mão na minha bunda! Aquele mulherengo!!", Noriko disse, sorrindo. Al ficou sem jeito, continuava sério, como se não tivesse visto graça naquilo.

Al era uma pessoa séria e rabugenta. Aquela criança feliz havia congelado em seu coração emoções como felicidade. Agora só havia um rapaz de 17 anos, rabugento, triste, com nenhum amigo, pouca relação com a família e muito egoísta. Ele apenas pensava nele mesmo.

Além disso ele não teve uma vida comum como as crianças. Sempre mudava de escola, não conseguia fazer amizade com muitas pessoas. Era obrigado a se esforçar nos estudos, e mesmo com dezessete anos ainda era virgem, e mal tinha beijado uma garota ou engatado um romance.

"Você é bem forte. Não sei se eu aguentaria ver tanta gente falando mal pelos cantos de alguém que amava. Me diga uma coisa, Al... Da onde você tira força? Qual seu segredo?", Noriko perguntou.

Al respirou profundamente, se apoiou na lápide do seu irmão e virou-se para Noriko. Seus olhos estavam fixos, olhava-a olhos-nos-olhos, e esboçou um leve sorriso.

"Ele morreu. E desde que ele morreu, ele ganhou um par de asas, brancas, bem grandes", Al iniciou, tomando ar e segurando as lágrimas.

"Meu irmão tem um par de asas. São as asas mais lindas que já vi na vida! Ele pode voar, ele é livre, e sua pureza de espírito é imbatível. Eu gostaria de ter, mas não tenho asas como ele...", Al pausou.

"...Mas eu tenho duas pernas que se fincam no chão. E todas as vezes que eu cair, elas me farão levantar uma, duas, três ou quantas vezes fossem necessárias! E é nas minhas pernas que estão minha força, e elas que me ajudarão a me erguer e a seguir em frente sempre!", Al concluiu.





Noriko conseguiu recuperar seu filho dois anos mais tarde. Ambos se mudaram para o Canadá, e moram numa modesta casa, mas imensamente felizes. Disse que seu sonho era viver da arte, eu não sei se conseguiu.
O filho dela foi fruto da relação com Lucca.
Lucca morreu sem saber que era pai de uma linda criança mestiça. Meio italiana, meio japonesa.

Al nunca mais teve notícias dela desde então.
Contrariando as vontades de seu falecido irmão, e de seu tutor, Schultz, Al ingressa no ramo da inteligência. Conhece uma donzela que rapidamente torna-se sua maior rival na compania.
Com a chegada da "Crise", ambos se exilam, mudam de identidade e casam-se, por questões de segurança, num relacionamento forçado, para não levantar suspeita.
Mesmo sendo totalmente diferentes um do outro, os dois acabaram se apaixonando.
Porém, por um acaso do destino, a garota acaba se suicidando num trágico acidente automobilístico, morrendo nos braços de Al.

Mas essa, é uma outra estória.
E que já foi contada.


De agora em diante é vetado.

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