Doppelgänger - #1 - Eu e Victoire.

5 de novembro

Eu estava na janela, vendo o sol nascer e fumando um cigarro. Ao longe era possível ver a Tower Bridge e grandes pedaços da City londrina. Os primeiros raios de sol daquele outono vinham pela janela diretamente no rosto dela. Ela acordou e me viu na frente da janela.

"Bon jour, Al", Victoire disse.

"Eu ainda não acredito que fiz isso...", respondi.

"No que? Não seria melhor você colocar pelo menos uma cueca quando ficar olhando pra janela desse jeito?".

"Eu não acredito que dormi com você de novo. Que merda".

Victoire se ergueu e veio na minha direção. Ela não era muito baixa, tinha quase 1,80m, e jogou seus braços nos meus ombros e encostou o ouvido nas minhas costas. Pude sentir os seios dela encostando na minha coluna.

"Você também queria, não queria?", ela iniciou, "Quando a gente tá junto rola uma química forte, né? Porque não deixa esse país que você tá exilado e vem de vez morar comigo aqui? Imagina nossos pimpolhos, eles seriam lindos! E você seria um pai e tanto".

Eu não sei o que eu tenho. Em geral depois que eu dou uma trepada no outro dia eu acordo como se estivesse com uma baita duma ressaca. É verdade que tomamos uma garrafa de Bailey's na noite anterior com algumas frutas, mas não imaginava que eu ia ficar tão mal quando acordasse.

"Você é mesmo uma vadia, Vicky", eu respondi, "Você planta aquele vírus em mim que está causando esse envelhecimento precoce e chega na maior cara de pau dizendo agora que quer constituir família e casar comigo? Sinceramente, não entendo o que tem na sua cabeça. Você é uma mulher fantástica, tem uns seios bem bonitos, mas ao mesmo tempo não parece bater muito bem da cabeça".

Ela se sentou na cama e ficou me encarando. Fez um biquinho e me olhou fingindo aquela cara de cachorro que levou um esporro do dono.

"Puxa... Escuta, você tá muito puritano, Al. Você não era assim! Foi pra América que fica julgando que fazer sexo é errado? Estamos na Europa! Puxa, estava com saudades de dar uns amassos em você, fazer nossa noite gostosa", e ela desceu a mão e encostou no meu pau.

"Pois é, mas isso você sabe muito bem que é errado. Nós não deveríamos nos relacionar. Muito menos trepar".

Saí e fui vestir uma roupa.

A tarde fizemos uma grande bateria de exames. Queria saber qual era o progresso da Síndrome de Werner que está causando o envelhecimento precoce no meu corpo.

"É... As drogas que eu te receitei estão surtindo efeito e retardando a Síndrome de Werner progressivamente. Tirando algumas rugas no seu rosto e os cabelos brancos, os órgãos internos estão até que razoáveis. Pra um sujeito de 34 anos seu corpo está dez anos na frente, mais ou menos".

"E isso é bom?", questionei.

"Poderia ser pior. Sem o tratamento celular e radicais livres você estaria com aparência de 60. Eu vou fazer uma mudança no seu tratamento. Quero que injete isso na sua artéria no pescoço uma vez por semana. Pode usar essa pistola pra injetar, é só mirar e disparar".

"Chega do coquetel?".

"Sim. Isso pode ser mais eficaz".

Coloquei uma roupa e desci pra tomar um café com um muffin no Prêt-a-manger mais próximo. Victoire tirou o avental de médico e veio comigo.

"Quanto tempo vai ficar por aqui?", Victoire perguntou.

"Um mês. Preciso resolver umas coisas. Amanhã não vai dar pra gente se ver. Duas amigas estão vindo pra cá e vou me encontrar com elas".

"Preciso ter ciúmes?", ela perguntou, dando uma risadinha.

"Não... Daqui elas vão pra Paris. Acho que só vamos nos rever em Amsterdam. Uma delas eu não quero ver, vou ter que aturar ela só enquanto estivermos aqui".

"Vou sentir sua falta. Sabe... Eu fico te vendo assim, na minha frente, e logo você que some da nossa vida e nunca mais dá notícias. Parece que amanhã você vai sumir e ficar mais uns três anos sem falar comigo. Isso é ruim demais, sabia? Inconscientemente fico te olhando até cansar, porque sei que do nada você vai sumir, e vamos ficar um longo tempo sem nos ver".

Tomei um gole de café e olhei pra vidraça. Dava pra ver o MI6 na minha frente, cruzando a Ponte Vauxhall. Quando voltei a olhar pra ela, seus olhos estavam marejados. Ela estava prestes a chorar. E eu, não sabia o que fazer.

"Eu enjoo fácil das pessoas, Vicky", iniciei e segurei com ternura na sua mão, "É por isso que prefiro não me relacionar com ninguém".

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