Doppelgänger - #2 - Filthy abstinence

No dia 6 fui passear com duas amigas que estavam visitando Londres. Ficamos o dia inteiro andando. Já era tarde da noite e as havia deixado perto da Victoria Station. Voltei andando até Pimlico e peguei o metrô de volta.

Eu sempre gostei de Pimlico. Quando eu era criança andava muito com meu irmão mais velho por lá. Ele tinha alguns amigos que moravam lá, inclusive alguns que trabalharam com ele no Sector 9. Sempre gostei dos arredores do Tate Britain. Depois fui pra casa dormir.

7 de novembro

“Você só fuma quando está bem nervoso, né?”, disse Victoire olhando pra mim.

Estava sem fome. Aquele Lucky Strike era o meu café da manhã. Estava frio no dia, eu estava encostado em um poste e Victoire chegou me abraçando. Ficou um tempo com o ouvido sobre o meu peito. Estávamos no Jubilee Gardens, vendo a imensa London Eye com as Casas do Parlamento ao fundo.

Coloquei meu braço sobre o ombro dela e a levei para sentarmos numa daquelas mesinhas ali. Foi aí que uma senhora perguntou se poderia sentar ali. Na hora não liguei muito, mas quando a vi a reconheci imediatamente.

“Velha? É você?”, iniciei, mostrando uma imensa surpresa.

“Pssst!”, ela gesticulou, pedindo pra eu não esboçar muita surpresa, “Há quanto tempo meu querido. É ótimo revê-lo novamente!”.

Várias coisas vieram na minha cabeça naquela hora. Essa velha não tinha mesmo muito cérebro - ou estava era ficando gagá. Andar por aí com roupas comuns e sem segurança (pelo menos nenhum aparente). Mas ela parecia uma velha comum sem a pomposidade toda dela. Vestia um moleton de academia e estava de touca. Era rosa e o moleton cinza. Parecia uma velhota que havia decidido fazer exercícios físicos.

“Eu disse pra você não se meter com essa gente de novo, e você me prometeu que não seguiria os passos do seu irmão, que viveria uma vida comum”, começou ela, me recriminando com dureza.

“Desculpe. Mas infelizmente somente eu posso fazer isso. E você sabe bem disso”, iniciei.

Ela tirou da bolsa delas algumas pastas.

“Não temos muitas informações, infelizmente”, ela iniciou, “Porém, temos um grande time pra ir com você. Se essa biscatinha quiser ir também, não tem problemas”, a velha apontou pra Victoire, que obviamente não gostou de ser chamada assim pela velha.

Eu peguei os papéis e documentos que ela tinha. De fato não eram muitas coisas. A minha semelhança com ele era incrível, apenas o cabelo estava um pouco mais curto que o meu. As fotos foram batidas nos arredores de Newmarket, ao leste da Grã-Bretanha. Era muita coincidência mesmo, poderia ser qualquer lugar pra mim, menos em Newmarket.

“Newmarket? Mas pera lá, você viveu lá!”, disse Victoire, mostrando surpresa. Tudo o que pude fazer era ficar quieto e ler aqueles papéis.

“Esse cara é completamente maluco.”, iniciou a velha, “Ele provavelmente tem um time, cujo objetivo é puramente causar algum tipo de pânico global por meio de suas influências e seus movimentos”.

“Militar?”, questionei.

“Não, Al. Não estamos mais na Guerra Fria. Esses homens vão causar um colapso financeiro no mundo por meio de seus agentes, infiltrados nas mais altas cúpulas da economia global. Causando a miséria ainda maior de muitos e o benefício de meia dúzia. Seria o estopim para atentados terroristas, ou mesmo guerras no futuro. Porém...”, a velha pausou.

“Porém o quê?”, eu perguntei, tentando acelerar aquilo, pois estava ansioso.
“...O líder deles disse que apenas uma pessoa pode encontrá-lo. Curiosamente ou não, todos os agentes que mandamos foram assassinados ou estão desaparecidos”.

“Não faz sentido, velha”, iniciei, olhando pra baixo, tentando organizar os meus pensamentos, “Sou apenas um cara da velha guarda. Como que esses caras de alto nível foram pegos? Hoje eles estão muito mais preparados do que na minha época. Exceto se esse cara fez isso para provocar vocês da Inteligência. Deixando vocês acuados, sem opção, exceto chamar a mim”.

“Sim”, respondeu a velha, “Você é o único que estaria imune a ele, pois ele quer te encontrar antes. Sabemos que ele não te mataria antes. Logo, ele não te mataria até que vocês dois estivessem face-a-face. Mas quando você encontrá-lo, você já sabe o que deve fazer”.

Fiquei em silêncio. A vida estava muito fácil no meu exílio. Uma vida tranquila, um trabalho tranquilo. Mas naquele momento eu tinha me questionado se era isso mesmo que eu queria? Como se a adrenalina de ser caçado pelo mundo, de ter minha cabeça valendo mais que o trabalho de muitos anos de gente por aí, de escapar das maiores perseguições seria algo que eu estava completamente viciado.

Se aquilo era um vício, eu estava numa abstinência imunda.

“Vou deixar você analisando isso com calma. Mas tome cuidado, sim? Vou te deixar na sua equipe os agentes Rockefeller e a Victoire. Tem mais uma pessoa que você gostaria como cabeça de equipe a não ser eles?”, questionou a velha.

“Sim. Mas pode deixar que vou buscá-la”, respondi.

“Onde ela está?”, a velha questionou.
“Ela está na Holanda”, eu concluí.

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