Doppelgänger - #34 - Sentir-se vivo novamente.

“Vamos, Lucca”, disse Ar, dando uns tapinhas leves no rosto de Nezha, “Consegue olhar pra mim?”.

Nezha não entendia nada. Tinha sido levado pra dentro de uma van pouco iluminada por uma janela no canto. Ainda estava com o estômago todo embrulhado com o estranho nojo que havia sentido. Porque diabos estava metido naquela coisa toda? Porque tinha aceitado entrar nessa furada? Como sempre, sua mente estava envolta de questionamentos.

“Lucca, eu te devo muito. Você me salvou e cuidou de mim, como acha que eu não iria retribuir isso tudo?”, disse Ar.

“Ar... Porque diabos você me chama de ‘Lucca’? Quem é essa pessoa?”, perguntou Nezha.

“Você não lembra mesmo”, disse Ar, com um semblante frustrado, “Fizeram uma lavagem cerebral em você, Lucca. Não entendi o porquê disso. Não entendendo nem o motivo de terem chamado você pra embarcar nessa missão. Você nunca achou nada estranho, Lucca?”.

“Estranho? O que eu acharia estranho, porra?”.

“Você consegue se lembrar de algo concreto da sua adolescência, por exemplo?”.

Nezha pensava, mas apenas imagens esparsas apareciam. Não sabia se aquilo eram sonhos ou era real. Uma pessoa com esse tipo de lavagem cerebral tem muitos sonhos, muitos sonhos estranhos que ficam fixados nas lacunas da sua memória. Chega um momento que ele não sabe se viveu aquilo, ou se era uma memória real.

“Os sonhos são aterrorizantes, não é mesmo, Lucca? Mas seu nome é Lucca. Você trabalhou com meu pai, você era o braço direito dele por muitos anos. Você confiava nele como um irmão, e quando ele morreu, te caçaram como um animal, pois acreditavam que você tinha sido o que havia sabotado todo o sistema junto com ele”, disse Ar.

“Não... Meu nome não é Lucca. Meu nome é Javier Pallermo. Sou espanhol. Não sei do que você está falando”.

“Lucca, todas as pessoas te chamam desse nome nos seus sonhos. Acha que é uma coincidência? Eu posso te dar sua identidade antiga, assim como posso também reverter essa lavagem cerebral que fizeram em você”.

Na hora Nezha ficou abismado. Não sabia se podia confiar em Ar. Mas ele parecia saber algo que ele saber algo que parecia bater com a realidade que ele achava que era real. Tudo aquilo que ele falava parecia muito com as imagens estranhas que estavam na cabeça dele.

“Veja essa foto, Lucca. Me diga o que sabe sobre esse garoto”, disse Ar, mostrando uma foto.

Nezha viu a foto e começou a tentar buscar alguma semelhança. Era um menino com cara séria, magro e baixo, cabelo penteado pro lado e preto, e um ferimento no queixo.

O ferimento estava coberto com um curativo.

“Esse garoto... Eu... Eu já o vi antes. Ele era filho do meu amigo... Meu amigo...”

“O nome desse amigo é Arch”, completou Ar.

“Sim, ‘Arch’. E eu cuidava dele, só não lembro o motivo de cuidar dele... Até que uma pessoa um dia apareceu, disse que queria esse garoto. Ele invadiu minha casa e foi na minha direção”.

“Sim. O nome desse invasor é Al”, completou Ar.

“Meu deus... Meu deus, meu deus!!”, disse Nezha, enquanto parecia ser acometido por uma imensa dor de cabeça, “Sim, sim. E o garoto tentou separar a briga, e nessa hora... Eu acertei ele no queixo, cortei ele com uma faca que tinha comigo de raspão”.

E Ar apenas apontou pro seu queixo. Havia uma cicatriz lá, embora fosse discreta.

“Eu lembro como se fosse ontem o que você disse antes de brigar com o Al. Você consegue se lembrar?”, disse Ar.

Nezha olhava pro chão. Tentava entender o que estava acontecendo. Olhava pra um lado, olhava pro outro, logo aquele movimento de vai e vem se intensificou, e sua cabeça foi se erguendo e fazendo o mesmo movimento da direita pra esquerda.

Quando ele olhou pra Ar, sua cabeça parecia fazer um movimento intenso de negação, como se tudo aquilo que ele achava que fossem meros sonhos que aconteciam à noite se encaixassem e se mostrassem na sua frente como realidade.

“Me faça sentir. Me faça sentir vivo novamente!”, gritou Nezha. Ar assentiu. Era exatamente essa frase.

“Muito bem.”, disse Ar, “Posso te dar sua memória e sua identidade de volta, mas para isso preciso que faça um pequeno favor pra mim. Acha que consegue?”.

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