Doppelgänger - #114 - Vai dar tudo certo.

21h47

Al tinha acabado de ser jogado da Opera House em Covent Garden. Estava ainda abismado com o encontro com Francesca Vittorio, mas ele não tinha tempo. Tinha que correr. Tinha apenas dez minutos para parar a Insurreição de Ar. E não sabia direito por onde começar.

Porém, como que por magia, seu celular tocou. Era Neige.

“Al! Tá me ouvindo?”, disse Neige. Parecia apreensivo.

“Diga, Neige”, disse Al.

“É a Victoire! Acabei de ver o GPS no celular dela! Está apontando pra City! Ela está perto da Catedral de St Paul!”, disse Neige.

Al começou então a correr.

“Entendi. Acho que consigo chegar lá. Vou pra Holborn pegar o metrô!”, disse Al.

O caminho de Covent Garden até Holborn passa pelo centro de Londres, primeiro passando pelo Soho, o famoso bairro noturno de Londres, cheio de pubs e casas noturnas, todas começando a esvaziar nesse horário. Al passou por todo o caminho correndo. A sorte era que, mesmo apesar de procurado pela Interpol, pessoas não se assustavam muito por ele estar muito bem aparamentado. Estava de terno e um grande sobretudo, que depois de tanto correr estava começando a ficar quente, transpirando.

Entrou em Holborn e usou seu Oyster Card pra pagar a passagem e pegar o trem da linha Central em direção à St Paul’s. Ainda faltavam cinco minutos para as dez quando desembarcou em St Paul’s.

Foi nessa hora que novamente seu celular tocou. Neige novamente.

“Pra onde eu vou agora?”, perguntou Al.

“Al... Não sei como dizer isso, mas ela está parada na frente da Bolsa de Valores de Londres. Tá fechada nesse horário, não? Estamos indo pra aí também!”, perguntou Neige.

Al desligou o celular. Começou a correr.

- - - - -

“Eu preciso ir!”, disse Eliza Vogl.

“Liza, é apenas um pendrive. Deixe que nós adultos façamos isso”, disse Neige.

“Acha mesmo? Coloque então o pendrive na USB e terá uma surpresa”, disse Eliza Vogl.

Estranhando o pedido da menina Neige pegou o pendrive e colocou na unidade de USB do seu laptop. O pendrive não foi reconhecido. Neige ficou branco como a neve.

“Caralho! Puta merda, eu queimei o pendrive? Não tá lendo!!”, disse Neige.

“Não. É segurança. É um computador isso, não é apenas um pendrive. Ele somente ativa com a minha impressão digital ou da senhora Saunders”, disse Vogl.

“Merda... Pelo visto não tem jeito, você tem que ir mesmo... Liza, eu não posso ir com você, mas vou confiar você ao Neige. Por favor, tome conta dela, por favor”, disse Lucca.

Neige estava abismado. Quanta responsabilidade tomar conta dela. Não que Eliza Vogl fosse uma criança rebelde ou arteira. Eliza era a menina que estava com o destino do mundo em suas mãos. E como se isso não bastasse, ela era caçada por todos os agentes em todo o Reino Unido naquele momento. Viva ou morta.

Mas tinha o outro lado. Eliza Vogl tinha um peso emocional imenso para Lucca. Era como uma filha que ele tinha adotado. A menina que, enquanto o mundo inteiro estava contra ele era a criança que abraçava e o fez voltar a ser quem ele era. Cuidar dela era uma responsabilidade imensa.

“Você vai tomar conta dela, me prometa, Neige!”, disse Lucca, depois do silêncio de Neige pensando sobre a sua responsabilidade.

“Tudo bem. Vou proteger ela com minha vida, Lucca. Obrigado por confiar em mim”, disse Neige.

“Vamos então! Vamos ajudar o Al!”, disse Eliza.

“Espera, Liza! Vem cá”, disse Lucca.

Ele a abraçou com muita ternura e deu três beijos na testa da menina. Ela ficou vermelha. Mas retribuiu o carinho. Lucca ainda sussurrou algo que ele nunca imaginava que diria pra uma menina que ele mal conhecia até pouco tempo:

“Eu te amo, viu?”, disse Neige, no ouvido de Eliza Vogl. Foi o amor declarado com maior sinceridade do mundo.

Eliza ficou com os olhos marejados. Ela nunca conheceu o pai, mas sempre quis ter um pai. Lembrou-se das dificuldades de ter sido abandonada pela mãe e criada pela avó. Ou pelo menos ela que acabou cuidando mais da avó do que o contrário. Eliza sempre sonhou em ter alguém pra cuidar e amar ela como um pai. E parece que enfim havia encontrado isso. E isso deixou ela profundamente emocionada.

“Também te amo, pai...”, Eliza rapidamente corrigiu: “...Quer dizer, Lucca!”.

Lucca se afastou e sorriu pra ela. Aquilo era prova de amor suficiente.

“Promete que vai voltar?”, disse Lucca, estendendo o dedo mindinho.

“Prometo!”, disse Eliza, cruzando o mindinho com o de Lucca.

De alguma forma aquilo confortava ambos. Promessa feita. Nada no mundo iria impedir daquilo se tornar real. Quando Lucca viu Eliza saindo pela porta junta de Neige ele desabou em lágrimas. Agatha, do seu lado, o confortou.

“Calma. Calma”, disse Agatha, dando o ombro pra Lucca chorar.

Mas Lucca estava desesperado. Estava temendo o pior. Mas nessa hora Agatha disse algo que fez Lucca parar de chorar.

“Ei, eu vou te ensinar o mantra invencível. Só repetir. Nada vai impedir as coisas darem errado se você o fizer”, disse Agatha. Lucca parou de chorar e olhou pra ela, aguardando ela terminar sua fala, “O mantra invencível é: Vai dar tudo certo”.

“Vai dar tudo certo...”, disse Neige, ainda em prantos.

“Isso! Fica tranquilo. Vai dar tudo certo com sua nova filhota. Confie. Energia boa atrai energia boa”, disse Agatha, confortando Lucca. Ravena do lado ficou muito emocionada vendo a cena também.

Comentários

Postagens mais visitadas