Amber #30 - Belladona

“Ei, Briegel!”, gritou Dirlewanger, observando eles sendo caçados pela sala pelo estranho ser, “É mais fácil de deter esse monstrengo do que você imagina! Vou ficar triste se você, que chamam tanto de ‘coronel’ ter a habilidade de bosta de um mero cabo!”.

“Merda… Escuta, Sundermann, vamos fazer assim: Eu vou atrair esse bicho pro outro lado da sala. Quero que você esteja atento e o ataque por trás, tudo bem?”, disse Briegel, apontando pra um caminho de caixas, “Se você for por ali, não vai ser pego. Entendeu?”.

“Sim, coronel, pode deixar”, disse Sundermann.

Os dois se separaram e Briegel se ergueu pra chamar a atenção do monstro com aquela máscara com bico de ave. Era estranho pois o monstro não virou o rosto pra Briegel, mas começou a andar na sua direção, como se sentisse sua presença ali.

“Vou te dar uma dica! É cego!”, gritou Dirlewanger, “Mas por meio do olfato sabe exatamente o que se passa. Por isso não existe motivo pra virar o rosto pra te ver. Só pelo cheiro esse monstro aí sabe exatamente o que tem nessa sala! Desde seres humanos, até objetos”.

Briegel olhou pra Dirlewanger e o encarou. Pelo visto ele sabia muito sobre aquele treco.

Sundermann dava a volta calmamente, tentando não fazer muito barulho. Estava com sua arma na mão, mas não estava engatilhada, por segurança. Briegel estava na direção oposta dele, com o ser mascarado entre eles. Os passos do monstro eram normais, nem lentos, nem rápidos. Pareciam calculados até. Quando enfim estava totalmente de costas pra Sundermann, indo em direção de Briegel, Sundermann viu que era a hora de atacar.

Certo, é agora!, pensou Sundermann. Ele engatilhou a arma, fazendo um clique. Se ergueu, colocou o pé numa das caixas e deu um salto em direção do ser mascarado.

Porém, antes de puxar o gatilho, em pleno ar, o monstro mascarado exalou uma estranha fumaça meio arroxeada pra trás, sem se virar, na direção de Sundermann. A fumaça assustou Sundermann que acabou errando os disparos, acertando o chão, por conta do susto.

Hã? O que diabos é essa fumaça?, pensou Briegel.

Mas era tarde. Sundermann já havia inalado. Briegel pegou um lenço e colocou no nariz. Logo após isso Dirlewanger ao longe confirmou o que ele suspeitava.

“Ei, eu disse que ele era cego, mas não surdo!”, disse Dirlewanger, se referindo ao som do clique que foi emitido no momento que Sundermann engatilhou a sua arma, “E você foi bem rápido, Briegel! Sim, é veneno! Era roxo, não? Puxa, é um dos meus favoritos!”.

Sundermann do outro lado estava claramente sem voz, soltando uns grunhidos estranhos, passando a língua pelos lábios, como se estivesse com areia nela, e seus lábios estavam ficando roxos, mostrando uma clara falta de ar.

“Veneno? Que raio de veneno usaram nele?!”, gritou Briegel, se afastando do monstro.

Mas nada era mais aterrorizante do que quando Sundermann virou e olhou para Briegel. Seus olhos azuis ficaram praticamente pretos, tamanha era a dilatação das pupilas.

“O nome científico é Atropa Belladona. Estranho as mulheres usarem isso há uns anos atrás pra ficarem mais atraentes com essas pupilas dilatadas. Eram realmente muito inocentes a ponto de se envenarem pra virarem ‘belas donas’, se é que você me entende”, disse Dirlewanger, usando sarcasmo na sua última fala.

“Beladona”, concluiu Briegel, “Uma das plantas mais venenosas que existem”.

“Coronel? Onde está o senhor? Droga, eu não consigo ver nada! Tá tudo embaçado!!”, gritava Sundermann, com a voz bem falha. Nesse momento ele pegou sua arma e começou a atirar pro nada, mas bem perto de Briegel.

“Sundermann, ficou maluco é?!”, gritou Briegel depois de se proteger dos tiros, “Escuta aqui, você foi envenenado! Não atira, você não tem mira alguma!!”.

Sundermann ao ouvir isso ficou desesperado. Aquilo não era um treinamento militar. Aquilo era a vida real e sua própria vida estava em risco! Teve medo de nunca mais ver Goldberg, seu amado, de não poder tocar mais no rosto dele ou beijá-lo. Recuava passos e mais passos gritando “Não!! Tira isso de mim!!” várias vezes. Sua arma já estava no chão, e ele esfregava os dois olhos com afinco achando que isso iria cortar o efeito.

Logo o efeito do veneno da beladona havia aumentado, e Sundermann estava perdendo a voz. As alucinações do veneno estavam transformando ele por dentro num turbilhão de imagens e medos. Ele rodava a cabeça pra cima tentando focar em algo, mas aquilo parecia só piorar. Sundermann era um alvo fácil. Tão fácil que o ser mascarado se virou e foi em direção dele pra matá-lo logo.

Merda! Pensa, Briegel, pensa! Ele me ouve e sente meu cheiro, como raios vou me aproximar dele? Tenho que pensar logo em algo pra pegar ele! Vamos, pensa, pensa, pensou Briegel, mas enquanto ele olhava pro lado nada via.

Briegel sacou sua Kongsberg Colt e deu dois disparos. Os tiros não ricochetearam. Foram simplesmente absorvidos, como se o corpo do ser inteiro estivesse com um colete a prova de balas. Nem mesmo um grito de dor aquele monstro soltava. E sequer se virou, realmente não incomodou nada.

Do lado de Briegel havia apenas um paraquedas. O tempo estava acabando e o ser já havia alcançado Sundermann. O jovem soldado não estava conseguindo ver muita coisa, e o pouco que via não sabia distinguir de delírio ou realidade.

“Izaak... Amor! Não, você… Não pode! Não... Pode... Morrer!”, dizia Sundermann, numa voz muito rouca e pausada, como se fizesse todo o esforço do mundo pra falar. O ser mascarado, mesmo quadrúpede, pegou Sundermann pelo pescoço com uma espécie de mão mecânica o erguendo. No outro membro saiu uma lâmina afiada, indo em direção do pescoço do jovem soldado alemão.

Nessa hora Briegel lançou seu casaco amarrado no paraquedas do lado do monstro. Ele não apenas ouviu, mas também sentiu o cheiro de Briegel, e lançou mais daquela fumaça roxa naquela direção. Briegel aproveitou que o veneno estava por trás e foi na frente do monstro, agarrando a máscara com o bico, tentando arrancá-la.

“Ah!! Chega dessa merda!!”, gritou Briegel enquanto puxava a máscara. Pegou a arma e estava pronto pra dar disparos bem no rosto daquele monstro, mas quando retirou a máscara, ar começou a entrar. Não era possível ver o rosto, apenas um barulho de pressão e ar entrando. Saiu de dentro da máscara um cheiro muito forte de alho, seguido de um urro de dor assustador e grave do monstro.

“Puta merda, isso não é alho, não é?!”, gritou Briegel ao cair no chão, “Esse monstro tem veneno em tudo, é?”.

O monstro começou a dar muitos gritos e tentou de todas as maneiras colocar a máscara de volta. Briegel tampou a respiração e foi pra perto de Sundermann. Tudo transcorreu muito rápido, e entre gritos de desespero e dor, o monstro com aquela estranha máscara de médico da peste saiu correndo igual um quadrúpede, muito rápido aos gritos.

Dirlewanger do outro lado batia palmas.

“Uau, muito bom. Muito bom mesmo!”, disse Dirlewanger, se aproximando, “Não imaginava que você iria conseguir. Realmente você é bom!”.

Briegel se ergueu e deu um potente soco no rosto de Oskar Dirlewanger.

“Seu doente! Agora eu que vou te matar!”, gritou Briegel, furioso.

“Opa, opa, opa!”, disse Dirlewanger, “Eu não negaria um mano-a-mano contigo, mas se eu fosse você eu pegaria aquele carro e iria correndo pra um galpão a uns dez minutos ao norte daqui! Ouvi dizer que sua filha, uma pretinha, corre perigo. Melhor deixar nossa briga pra depois!”.

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